Este é um blog dedicado exclusivamente para o caipira, sua música, seus causos enfim tudo que tenha a ver com a vida simples do homem do campo. Aqui vc vai encontrar links para sites que tem interesse no resgate e preservação deste estilo.

quinta-feira, junho 19, 2008

Muito bem ja fomos chamados de tatus e agora museólogos, mas uma coisa que me serve de consolo é que não renegamos o nosso passado, pelo contrário procuramos resgatá-lo, no que eles têm razão quando nos chamam de museólogos... e aproveitando a deixa
taí mais uma de nossas preciosidades...materia coletada
no site
Viola Caipira

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Salvador Graciano e Julia Alves iniciaram
a carreira no circo. Mas foi na Rádio Guairacá, em 1940, que se conheceram. Belarmino, que já tinha dupla com a irmã Pacoalina, era considerado um excelente músico. Juntos,Belarmino e Gabriela tornaram-se imbatíveis nas apresentações públicas, com sucesso estrondoso nos anos 50, 60 e 70, principalmente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O segredo do sucesso estava justamente na simplicidade de piadas irreverentes e esquetes cômicas, na maioria das vezes provocativas de um para o outro, o que divertia o público.
Musicais, Belarmino e Gabriela também compunham suas canções, tendo "Mocinhas da cidade" alcançado sucesso em todo o país, com gravação por vários intérpretes, incluindo o cantor luso brasileiro Roberto Leal. Merece destaque também a gravação de Pena Branca, gravada no LP "Semente Caipira".
Apesar do caráter simples do trabalho, baseado na cultura popular do meio rural, a dupla era "boa de mídia". Foi assim que ocupou espaço importante na época de ouro da rádio, a partir dos anos 40, com passagem pelas rádios Gaúcha, de Porto Alegre, Guanabara (hoje Bandeirante ) no Rio de Janeiro, e chegando até à TV, nos anos 70, com apresentação do Programa ´"Minha Palhoça" e "Rancho de Belarmino e Gabriela". Além disso, a dupla deixou um trabalho consistente, fruto da gravação de 17 discos de 78 RPM e 11 LP´s.

Clique e ouça "Mocinhas da Cidade" com Belarmino e Gabriela

terça-feira, junho 17, 2008

A vez dos pós-caipiras

Materia tirada do site Divirta-se, achei muito interessante e portanto digna de divulgação


A vez dos pós-caipiras
- 17/06/08


A força da cultura tradicional do sertão permanece, apesar da explosão do pop sertanejo. Viola vem sendo redescoberta pelos jovens, e música da roça dialoga com a moderna MPB

Eduardo Tristão Girão

Marcelo Rossi/divulgação

"Essa coisa de música de raiz é uma porta que dá para uma parede" - Renato Teixeira, compositor

A música caipira cantada está acuada pelo crescimento exponencial do chamado “sertanejo moderno” e eclipsada pelos virtuoses da viola instrumental. Permanece um tanto esquecida na enorme distância criada por dois pontos tão extremos, que têm origem na mesma cultura. Para piorar, os caipiras ainda estão embolados na confusão que se criou em torno da palavra “sertanejo”, atualmente entendida tanto como a música que se fazia na primeira metade do século passado quanto a que embala os megaespetáculos em rodeios pop. Se a verve da poesia rural está em processo de extinção ou esperando para renascer das cinzas, ninguém pode responder com certeza. Só há concordância num ponto: a choradeira pela falta de espaço na mídia.

A música caipira não está acabando. Ela evoluiu para outras formas, como o folk e o sertanejo. Quem faz o sertanejo é o pessoal das duplas, com forte influência do country norte-americano. Faço música folk, o Almir Sater também. São músicas vinculadas à cultura brasileira de uma forma mais conseqüente em termos poéticos. A música caipira não está morta, nem morrerá jamais. Ela vai evoluir, como toda boa música. Como o samba deu a bossa nova. Se antes era Chico Mineiro, agora é Romaria. São duas coisas diferentes, cada uma no seu tempo”, afirma o cantor e compositor paulista Renato Teixeira.

Para ele, a música caipira, “a do nóis fumo, nóis vai”, cumpriu um ciclo que terminou no final dos anos 1960, e tentar imitar o que se fazia nessa época é um erro. “O pessoal que entende isso como música de raiz fica fazendo papel de museólogo, repetindo fórmulas, tentando ser João Pacífico e Raul Torres. Essa coisa de música de raiz é uma porta que dá para uma parede. Sei o que é música folclórica, cuja grande especialista é Inezita Barroso. Inclusive, temos um folclore magnífico, que é o grande gerador de tudo. Nunca gostei desse nome, me nego a aceitá-lo e não gosto de quem faz música raiz”, dispara.

Renato Teixeira garante que há um segmento caipira vivo e pulsante, mas que carece de divulgação. “São pessoas que pensam, têm opinião, lêem, conhecem poesia e têm conteúdo cultural diferenciado. Não abaixam a cabeça; então, não servem. Artista que pensa, que tem posição política, que defende causas importantes, como a da cultura caipira, dificulta a negociação”, afirma. Geraldo Roca e Paulo Simões, compositores ligados à cultura interiorana do Centro-Oeste, são os exemplos apontados por ele. “Esse aglomerado do new sertanejo não significa nada. É dinheiro rápido”, diz.

Mineiros

Isaumir Nascimento/divulgação

Cláudio Lacerda abandonou o curso de zootecnia para abraçar a carreira de músico

Minas Gerais já encontrou esse caminho “pós-caipira” há muito tempo, na opinião dele. “Minas já tem essa coisa do folk, que começa com Milton Nascimento, grande compositor folk brasileiro. Há muito tempo, o estado vem alimentando isso. Mas olhe em volta: no Rio Grande do Sul, eles estão fazendo tchê-guri e sei lá o quê. Na Bahia, que tem uma cultura magnífica, o que se vê é aquele axé, aquelas cantoras cantando com voz de locutor de FM. E tome cerveja”, alfineta.

Na ativa desde 1976, o cantor e compositor Juraildes da Cruz, que venceu o prêmio Sharp em 1997 com a música Nóis é jeca mais é jóia e realizou ampla pesquisa sobre cultura popular no Centro-Oeste, se diz desesperançoso em relação ao futuro da música caipira. “Acredito que, num breve espaço de tempo, essa música será engolida. Se não for preservada, tende a ir sumindo devagarinho. Mas sempre terá gente morando no mato, cuidando da sua terra, do seu gadinho, ouvindo passarinho. Mesmo quem tem dinheiro tem sua chacarazinha”, ironiza.

Se o sertanejo moderno afetou de alguma forma o segmento caipira, ele não sabe dizer, mas reclama: “Esses artistas ocupam espaço demais na mídia. Aliás, não há espaço para a música de raiz na mídia. E o que não existe, não é lembrado. Há gente fazendo música caipira, mas está fora desse registro”. Sobre o público que consome essa cultura, ele acredita ser o mesmo que freqüenta teatros. “Quem estuda Villa-Lobos gosta de música caipira. Quem gosta de Ravel não tem dificuldade de ouvir Tião Carreiro. Quem só ouve música da indústria cultural é muito limitado”, diz.

Forma e conteúdo

Exemplo curioso da nova geração de caipiras é o paulistano Cláudio Lacerda, que largou a zootecnia em 2000 para investir na carreira de músico. Já lançou dois discos, um com composições próprias e outro com regravações de clássicos caipiras. “O movimento caipira é crescente, incluindo a música cantada. A gente só não tem tanta mídia. O que falta é atenção”, observa ele.

A diferença crucial em relação aos antecessores estaria não na mensagem, mas na forma das canções. “Também me baseio na simplicidade, na importância dada às pequenas coisas. Não tenho voz aguda e toco de uma forma um pouco diferente. Não é aquele cururu, aquele arrasta-pé tradicional. Minha música vem de lá, da roça. O substrato é o mesmo, mas a forma de falar não. É uma maneira nova de falar dos mesmos valores”, analisa.

De ascendência mineira (a família é de Patos de Minas), Cláudio, de 39 anos, acredita que o público da música caipira é praticamente o mesmo dos sertanejos modernos. “São gêneros distintos. Não acho que o trabalho deles atrapalhe o nosso. Só acho ruim quando reforçam o que é importado dos Estados Unidos. Isso emburrece”, observa.

Bom momento

O violeiro mineiro Chico Lobo acredita que a atual fase da música caipira é de recuperação. “Ela já passou por momentos piores, quando os sertanejos surgiram com força. Ficou sufocada por um tempo, mas agora melhorou um pouco. Não faltam trabalhos gravados e muito bem produzidos. Hoje, há um número grande de jovens interessados pela viola. Além disso, os mestres de folias de reis estão ativos e mantêm viva essa cultura”, avalia.

O artista, que retornou recentemente de temporada de um mês em Portugal, acredita que a cultura caipira goza de boa reputação atualmente. “Há três anos vou constantemente ao exterior justamente pelo reconhecimento dessa cultura como identidade forte no Brasil. Há um processo de reação muito forte a essa globalização, que é justamente a valorização das culturas de identidade”. A agenda de shows pelo interior do estado está cheia. “Tendo espaço para tocar, não há quem não goste. A receptividade é maravilhosa”, diz.

O cantor e compositor Pena Branca diz que a música caipira já esteve pior. “Quando surgiram os pagodeiros, meu Deus do céu, o bicho pegou. Até os sertanejos enfraqueceram”. Os neo-sertanejos não o incomodam. Ao contrário. “Eles estão no contexto. Isso é o Brasil. Essas músicas modernas que estão fazendo por aí passam pelo caipira. Você já ouviu falar em árvore sem raiz?”, argumenta o ex-companheiro de Xavantinho.

“A música caipira verdadeira, a nossa, não acaba de jeito nenhum. Veja o que sobrou do Chitãozinho & Xororó. Só a caipirada, aquelas músicas tipo Rancho Fundo”, afirma. Mas nem tudo são flores aos olhos de um artista como ele, beirando os 70 anos: “Meus amigos Gino & Geno, por exemplo, mudaram um pouquinho, mas pelo menos não estão falando bobagem. Se bem que eles têm uma música meio ‘salgadinha’, com umas coisas que eu não falaria na presença do meu pai”.