Este é um blog dedicado exclusivamente para o caipira, sua música, seus causos enfim tudo que tenha a ver com a vida simples do homem do campo. Aqui vc vai encontrar links para sites que tem interesse no resgate e preservação deste estilo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Trio Turuna

Materia coletada no blog http://bruxinha507.blogspot.com, atraves de indicação do cumpadre Carlos Andrade no Grupo Caipira Raiz

Desvendando Anacleto
Neto do compositor Anacleto Rosas Júnior, que morou mais de 20 anos em Taubaté, luta para divulgar a rica obra do músico
Fernanda Guerra
Taubaté – (http://jornal.valeparaibano.com.br/2004/04/13/viv01/anacle.html)

Entre as décadas de 60 e 70, quando ia às reuniões de sua família em uma casinha simples do bairro Santa Luzia, em Taubaté, o pequeno Rubens Rosa Junior não sabia que ia ao encontro de um dos maiores compositores da música sertaneja do país.O dono da casa, Anacleto Rosas Junior (1911-1978), era um compositor de renome, autor de clássicos como "Cavalo Preto", "Os Três Boiadeiros" e "Cortando Estradão", mas, para Rubens, hoje com 41 anos, ele era acima de tudo seu avô."Eu o via como meu avô mesmo. Tinha orgulho de saber que ele era um compositor, mas não sabia nem de longe o real significado de suas composições para a música brasileira", disse Rubens.Hoje, 26 anos após a morte de Anacleto Rosas Junior, Rubens trabalha com afinco para que a obra e o nome de seu avô não caiam no esquecimento.Para isto, está desenvolvendo um projeto para lançar um CD independente com 24 músicas compostas por Anacleto --sozinho ou em parceria --, e que são referências da música sertaneja.Entre as músicas pré-selecionadas, "Cavalo Preto", na interpretação de Sérgio Reis; "A Mestiça", cantada por Renato Teixeira e "A Morte do Canoeiro", nas vozes da dupla Tonico e Tinoco."As pessoas lembram muito dos cantores, mas os compositores ficam muitas vezes no esquecimento. Meu avô tem uma obra riquíssima, mas hoje seu nome é praticamente desconhecido", disse Rubens, que enfrentou uma verdadeira maratona para escolher as músicas que entrarão no CD --seu avô é autor de quase 500 composições, sendo mais de 60 especialmente escritas para a famosa dupla caipira Tonico e Tinoco.Segundo Rubens, o trabalho não se limita à escolha das músicas. Como seu avô não cantava, suas músicas foram gravadas por inúmeros interpretes e, para registrá-las em seu CD, é preciso solicitar --e receber-- autorização da gravadora de cada música."Muitas gravações estão em discos antigos, de 78 rotações, algumas gravadoras já não existem mais, trocaram o nome ou foram compradas e recompradas. Só depois de descobrir qual a gravadora que tem atualmente os direitos sobre a música é que dá para pedir a autorização", afirmou Rubens, que já está entrando em contato com as gravadoras.
TRIBUTO - O CD, que Rubens pretende chamar "Tributo 2", é o segundo produzido por ele de forma independente para homenagear e resgatar a obra do avô.
O primeiro, chamado "Tributo", foi lançado em 1999, e segundo Rubens, foi o ponto de partida para que ele conhecesse a real dimensão da grandiosidade da obra do avô. Foram três anos de peregrinação em busca da autorização das gravadoras e artistas para compor o CD."Depois de escolher as músicas, ouvindo CDs e LPs antigos e com a ajuda de minha tia Cleusa (Cleusa Rosas, filha de Anacleto), que cantava as músicas que ela considerava importantes, mas que não tínhamos em casa, fui a São Paulo e só então descobri que precisava da autorização das gravadoras", disse.Acertada a papelada, Rubens lançou o disco, com mil cópias, que foram distribuídas entre amigos, gravadoras e emissoras de rádio. Com o projeto de lançar o segundo CD também de forma independente, Rubens não deixa de sonhar em conseguir apoio de uma gravadora para lançar os discos comercialmente e vê-los chegar a todos os cantos do país."O meu grande sonho é que alguma gravadora se interesse pelo projeto e lance os dois CDs em tributo ao meu avô. Ele, e a música brasileira, merecem", disse.
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Anacleto Rosas nasceu em julho de 1911, em Mogi das Cruzes e faleceu em fevereiro de 1978, em Taubaté. Seus filhos Cleuza e Luiz seguiram o caminho do pai e formaram o Trio Turuna, juntamente com o amigo Teodoro, sendo que todas as músicas interpretadas por eles eram de autoria de Anacleto.

Vamos curtir estas músicas , hospedadas em : http://www.4shared.com/dir/1352150/22a28a10/sharing.html
01 - Romaria
02 - Na Ponta do Reio
03 - Meu Prazer
04 - Mestiça
05 - Resposta da Mestiça
06 - Meu Destino
07 - Amigo do Tertuliano
08 - Pombinho Correio
09 - Filho de Mato Grosso
10 - Coração em Pedaço
11 - Burro Picaço
12 - Timidez
13 - Cavalo Preto(Gravação Original)
14 - Surrei de Chicote
15 - Presépio da Sérra
16 - Zé Cardoso
17 - Esta Noite te Espero
18 - Vaca Mestiça
19 - Falsas Promessas
20 - Sabugo de Milho
21 - Três Boiadeiros
22 - 1500 Cabeças
23 - Pomba Mensageira
24 - Flor Matogrossense
25 - Resolução
26 - Companheiro de orgia

Nota : estão arquivadas as músicas (formato mp3pro 96) e capas (JPG)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Adeus de Mãe


Boa Tarde Cumpadres e Cumadres

Segue abaixo uma raridade
coletada no grupo Caipira Raiz postada pelo cumpadre Carlos Andrade

(1974) - Abel e Caim - Abel e Caim
01 - Adeus de Mãe - Cido/Caim
02 - A Filha do Patrão - Nhô Cido/Tapuã
03 - Derradeiro Adeus - Dino Franco/Afonso Rosa
04 - Intriga de Amor - Flor da Serra/Compadre delmo
05 - Jardim da Vida - Moacyr dos Santos/Lourival dos Santos
06 - Envergonhado - Anacletos Rosas Júnior
07 - Abismo Cruel - Zé Fortuna/Sulino
08 - Menina Ingrata - Tapuã
09 - Mágoa - Dino Franco/Zeca
10 - Erro de Amor - Nhô Cido/Abel
11 - Recado - Anacletos Rosas Júnior/Arlindo Pinto
12 - Amor Passageiro - Zico

Adeus de Mãe

Visite o Grupo Caipira Raiz e faça parte da História da Música Caipira!
http://br.groups.yahoo.com/group/CAIPIRA_RAIZ/

Cultura Caipira

A CULTURA CAIPIRA

É preciso pensar no caipira
como um homem que manteve
a herança portuguesa nas
suas antigas formas




A cultura caipira não é e nunca foi um reino separado, uma espécie de cultura primitiva
independente, como a dos índios. Ela representa a adaptação do colonizador ao Brasil e
portanto, veio na maior parte de fora, sendo sob diversos aspectos sobrevivência do
modo de ser, pensar e agir do português antigo.

Quando um caipira diz "pregunta", "a mó que", "despois", "vassuncê", "tchão (chão)",
"dgente (gente)" não está estragando por ignorância a língua portuguesa; mas apenas
conservando antigos modos de falar que se transformaram na mãe-pátria e aqui.

Até o famoso "erre retroflexo", o "erre de Itur" ou "Tieter", que se pensou devido a
influência do índio, viu-se depois que pode ter vindo de certas regiões de Portugal.
Como veio o desafio, a fogueira de São João, o compadrio, a dança de São Gonçalo, a
Festa do Divino, a maioria das crendices, esconjuros, hábitos e concepções.

É preciso pensar no caipira como um homem que manteve a herança portuguesa nas suas
formas antigas. Mas é preciso também pensar na transformação que ele sofreu aqui, fazendo
do velho homem rural brasileiro o que ele é. "Tabareu", "matuto", "capiau", "caipira",
o que mais haja, ele é produto e ao mesmo tempo agente muito ativo de um grande processo
de diferenciação cultural própria. Na extensa gama dos tipos sertanejos brasileiros ,
poderia ser considerado "caipira" o rural tradicional do sudoeste e porções do oeste,
fruto de uma adaptação da herança fortemente misturada com a indígena, às condições físicas
e sociais do Novo-Mundo.

Nessa linha de formação social e cultural, o caipira se define como um homem rústico
de evolução muito lenta, tendo por fórmula de equilíbrio a fusão intensa da cultura
portuguêsa com a aborígene e conservando a fala, os usos, as técnicas, os cantos,
as lendas que a cultura da cidade ia destruindo, alterando essencialmente ou caricaturando.

Em compensação, no quadro de sua cultura o caipira pode ser extraordinário. É capaz, por
exemplo, de sentir e conhecer a fundo o mundo natural, usando-o com uma sabedoria e
eficácia que nenhum de nós possui.

O nosso caipira, do ancestral português herdou com a língua e a religião a maioria dos
costumes e crenças; do ancestral índio herdou a familiaridade com o mato, o faro na caça,
a arte das ervas, o ritmo do bate-pé (que noutros lugares chama-se cateretê), a caudalosa
eloquência do cururu.

O cururu e a dança da Santa Cruz são dois exemplos muito bons de encontro de culturas.
Parece terem sido elaborados sob influência dos jesuítas, que aproveitaram as danças
indígenas e o gosto do Índio pelo discurso e o desafio para enxertar a doutrina cristã.
Nada mais caipira que o cururu e a dança de Santa Cruz, que só existem em áreas de forte
impregnação originária dos antigos piratininganos. E nada mais misturado de elementos
portugueses e indígenas como tanta coisa que observamos nas catiras, nas histórias, nas
técnicas do homem rural pobre e isolado de velha origem paulista. Na primeira metade do
século, o caipira ainda era espoliado e miserável na maioria dos casos, porque com a passar
do tempo e do progresso, quem permaneceu caipira foi a parte da velha população rural
sujeita às formas mais drásticas de expropriação econômica, confinada, e quase compelida
a ser o que fôra, quando a lei do mundo a levaria a querer uma vida mais aberta e farta,
teoricamente possível.

Foi então que o caipira se tornou cada vez mais espetáculo, assunto de curiosidade e
divertimento do homem da cidade, que, instalado na sua civilização e querendo ressaltar
este "previlégio", usava aquele irmão para provar como ele tinha prosperado.

A tarefa, portanto, é procurar o que há nele de autêntico. Autêntico, não tanto no sentido
do impossível do originalmente puro, porque em arte tudo está mudando sempre; mas no
sentido de buscar os produtos que representam o modo de ser e a técnica poético-musical
do caipira como ele foi e como ainda é, não como querem que ele seja.


Por Antônio Cândido

Ensaista e Crítico literário emérito
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ORAÇÃO DE LAVRADOR



Abençoa oh! Terra querida
as mãos que lhe deposita os grãos

Louva oh! Terra bendita
a alma que lhe fecunda o ventre

Suporta oh! Terra querida
o corte que lhe faz o broto

Acolhe oh! Terra bendita
o rasgo que lhe faz a raiz

Ampara oh! Terra querida
o tronco que lhe pede sustento

Regozija oh! Terra bendita
com as flores que lhe enfeitam o chão

Amadurece oh! Terra querida
o fruto da gesta do pão

Exalta oh! Terra bendita
os pés que lhe colhe os frutos

Repousa oh! Terra querida
da gestação e da nossa vida

Abençoa oh! Terra bendita
a alma que sacia a tua lida

Louva oh! Terra querida
o lavrador na oração de cada manhã:

Abençoada e louvada seja
sagrada terra do sertão

Peço licença entoando essa canção
prá humildemente lhe depositar essa semente

O pão nosso de cada dia
é o bendito fruto do vosso ventre

Perdoa oh! Terra nós pecadores
por nos deixarmos cair em tentação

Perdoa-nos oh! Mãe Terra
por lhe trairmos nas depredações

Acolhe em teu ventre a insensatez humana
perdoa-nos e faça florir nossos áridos corações

Abençoada e louvada seja
a sagrada terra do sertão

Abençoada e louvada seja
abençoada e louvada seja, amém.


Gilberto de Castro Rodrigues

Escritor e Poeta

Material coletado no site Tonico e Tinoco
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Os dois artigos foram extraídos da Revista "Viola & Violeiros", ano 1, número 1

terça-feira, novembro 21, 2006

Lourenço e Lourival

Os irmãos Arlindo Cassol, o Lourenço, e Antônio Cassol, o Lourival nasceram em Ribeirão Preto-SP em 1937 e 1939, respectivamente.

Durante a infância, qualquer lata de óleo era logo por eles "adaptada" e "virava uma violinha", a qual eles sonhavam possuir; mas foi somente na década de 1950 que conseguiram um instrumento musical de verdade.

Iniciaram a carreira artística na adolescência com os nomes artísticos "Maurinho e Toninho" cantando na "Rádio 79" de Ribeirão Preto-SP.

Em 1959, Arlindo e Antônio trocaram Ribeirão Preto-SP pela Capital Paulista, onde se apresentaram nas Rádios Cometa, 9 de Julho, América, Capital, Nacional e também na Record, onde apresentaram durante 10 anos o programa "Linha Sertaneja Classe A", às Terças e aos Sábados. Passaram também um período no Rio de Janeiro-RJ onde atuaram na Rádio Mairink Veiga.

O primeiro disco foi gravado em 1962 com as músicas "Meu Regresso" (Tuta - José Russo), e "Amor Derrotado" (Garoa).

Um problema de saúde com Lourival, no entanto, obrigou a dupla a se afastar da carreira musical, a qual foi retomada somente em 1967, quando foram contratados pela gravadora Chantecler, quando eles passaram a realmente se destacar dentre as diversas duplas de sucesso na época.

Após deixar a Record, Lourenço e Lourival começaram a viajar para fazer seus shows e voltaram a residir em sua Ribeirão Preto natal. A dupla é versátil, canta vários estilos e freqüentemente se apresenta em parques de exposição, festas de peão de boiadeiro e rodeios. E são também conhecidos como "Os Violeiros da Voz de Cristal".

Dentre as diversas músicas gravadas por Lourenço e Lourival, podemos destacar "Trem das Seis" (Luis de Castro - Benedito Seviero), "Meu Reino Encantado" (Vicente P. Machado - Valdemar Reis), "A Sementinha" (Dino Franco - Itapuã), "Minha Infância" (Dino Franco), "O Preço da Mentira" (Tuta - Tota), "As Três Namoradas" (Dino Franco - José Fortuna), "Encanto da Natureza" (Luiz Castro - Tião Carreiro), "Anel de Noivado" (Osvaldo Rieli - Juvenal Fernandes), "Duelo de Amor" (Goiá - Benedito Seviero), "A Enxada e a Caneta" (Capitão Barduíno - Teddy Vieira), "Velha Porteira" (Hélio Alves - Zitinho) (que é a música cujo trecho o Apreciador ouve quando acessa essa página), "A Rainha do Paraná" (Nízio - Braz Hernandes), "Desencoste da Chiquinha" (Cambará), "O Diploma e o Chapéu" (Tião do Carro - Caetano Erba) e "Franguinho na Panela" (Moacyr dos Santos - Paraíso), apenas para citar algumas.

Segundo Lourival, "Como Eu Chorei" (Telmo de Maia), gravada em 1971, foi um marco na carreira da dupla, tendo feito bastante sucesso e vendendo discos até os dias atuais. De acordo com Rosa Nepomuceno, nas páginas 168 e 169 de seu excelente livro "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio", essa música foi "um autêntico iê-iê-iê sertanejo, com bateria, guitarras e contra-baixo com a manutenção do canto em terças, na forma tradicional caipira".

Ainda segundo Rosa Nepomuceno, no mesmo livro, pág. 169, "Os irmãos de Ribeirão Preto inauguraram uma linguagem mais afogueada para falar de amor, trocando os beijos da tímida caboclinha debaixo de pés-de-ipê pelo amor de moças fogosas, em camas macias de motel (...) o recato da roça estava indo por água abaixo...".

Lourenço (à direita) e Lourival (à esquerda) já cantaram ao lado de renomadas duplas tais como Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, Canário e Passarinho, Teodoro e Sampaio e Pedro Bento e Zé da Estrada. Calcula-se que ao longo da carreira a dupla tenha gravado cerca de 45 discos em diversas gravadoras tais como Odeon, Cartaz, Chantecler, Playarte, Tocantins, RGE e Som Livre.

Curiosamente, em 1990, com os nomes "Toshiro e Tanaka", Lourenço e Lourival gravaram um disco humorístico com paródias de sucessos da época como o sucesso de Leandro e Leonardo "Entre Tapas e Beijos" (Nilton Lamas - Antonio Bueno) que com eles passou a se chamar "Carne e Queijo". E gravaram também uma "paródia japonesa" de "Os Três Boiadeiros" (Anacleto Rosas Jr.), à qual deram o "novo título" de "Os Três Boiadeiros Japoneses".

E é com muito bom humor que Lourenço e Lourival continuam "na estrada" fazendo suas apresentações que nos brindam não apenas com suas "vozes de cristal" como também o enfoque satírico que dão ao próprio show e aos títulos das músicas de seu repertório. A quase totalidade das músicas que interpretam eles anunciam com o "nome modificado", como é o caso de "Velha Parteira" ("Velha Porteira" (Hélio Alves - Zitinho)) e "Leitão A Perereca" ("Leitão A Pururuca" (Muniz Teixeira - Lourenço))...
Informaçoes coletadas no site boa musica do nosso cumpadre Ricardinho.

Segue a abaixo um link de um cd enviado la para o Caipira Raiz
Terra Molhada

segunda-feira, novembro 20, 2006

João Pacifico

A postagem abaixo, foi colhida do site Boa Musica Caipira, do nosso cumpadre Ricardinho.
João Batista da Silva nasceu em Cordeirópolis-SP no dia 05/08/1909 e faleceu em Guararema-SP no dia 30/12/1998 e ganhou o apelido de João Pacífico dada a sua surpreendente serenidade, evitando sempre se meter em qualquer situação encrencada. Seus avós foram escravos; sua mãe era escrava alforriada e seu pai era maquinista de trem.

Sua vida foi a clássica história do menino pobre do Interior, da Zona Rural, que lutou pela sobrevivência na Cidade Grande. De Cordeirópolis, mudou-se para Limeira-SP ainda pequeno e, com 10 anos foi morar em Campinas-SP, onde participou da Percussão na Orquestra Sinfônica local. Trabalhou também como copeiro na residência das irmãs do compositor erudito Antônio Carlos Gomes (autor da ópera "O Guarany", e também da canção "Quem Sabe"). Tal emprego e também o da Orquestra Sinfônica, com certeza o ajudaram a desenvolver e apurar seu bom ouvido musical, apesar de nunca ter aprendido música e de não saber tocar nenhum instrumento, exceto bateria que havia aprendido um pouco na adolescência.

E, aos 15 anos de idade, em Julho de 1924, o jovem João Batista da Silva descia do trem na Estação da Luz, na Paulicéia Desvairada com uma "cartinha de recomendação" que o apresentava como "honesto e calmo, perfeito para trabalhar de faz-tudo" numa fábrica de tecidos na Barra Funda. Fervia naquele momento na "Terra da Garôa" a Revolução Paulista (5 a 27/07/1924) e, nas ruas do centro de São Paulo, os soldados com fuzis e baionetas afugentavam as pessoas que passavam, já que o tiroteio "começava às 06:00 em ponto de manhã...". Foi nesse "cenário de guerra" o primeiro contato de João Pacífico com a Cidade Grande...

De temperamento discreto, manteve-se sempre "longe dos holofotes", mesmo quando esteve no auge do sucesso. Transcrevendo as palavras de Rosa Nepomuceno em seu livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio", "... as curvas tortas da estrada que acabaram por isolá-lo no final da vida, não o fizeram lastimar o destino. Não se queixava de nada, de dor alguma - física ou aquelas que mais machucam, as da alma. O filho único não o visitava, nem o enteado. O elo familiar eram os netos, Ana Carolina, Emílio e Daniel, que visitava pegando um ônibus e enfrentando galhardamente uma estradinha de terra e trechos das rodovias Bandeirantes e Castelo Branco, para chegar à Capital. (...) Suas maneiras educadas e, principalmente, o bom humor singular disfarçavam o fantasma da amargura que costuma fincar morada no coração dos que um dia conheceram a glória e o sucesso...".

Ainda segundo Rosa Nepomuceno, "Seu João" era também um mestre em elegância e bom humor. Lembrar que Rosa Nepomuceno visitou João Pacífico no sítio em que ele vivia em Guararema (de propriedade do amigo Frederico Mogentale - que ficou com a guarda de seu Acervo Musical e que está sendo por ele catalogado), pouco antes do falecimento do "Seu João" em 1998 e do lançamento do livro supra mencionado em 1999.

Lendário na Música Caipira Raiz, amigo de Mário de Andrade e de Guilherme de Almeida, sabe-se que foram mais de 256 músicas de sua autoria gravadas por intérpretes que vão desde Raul Torres e Florêncio até Chitãozinho e Xororó.

Apesar do enorme número de composições, muitas das quais ainda inéditas, tem-se notícia de apenas um disco por ele gravado, no qual ele cantou e declamou, tendo sido acompanhado pela viola de Tião do Carro e do conjunto "Os Macambiras" (viola, bandolim e violões): trata-se de "João Pacífico - Documento Sertanejo" lançado pela Berrante/WEA Nº. BR-79003 em Julho de 1980.

Não disponho do LP que é "fora de catálogo" e desconheço qualquer remasterização do mesmo em CD. No entanto, tive a felicidade de conhecer uma faixa desse disco, graças à Editora Abril - Abril Cultural que incluiu na quinta faixa do Lado-B da coleção "História da Música Popular Brasileira" - fascículo especial "Música Sertaneja" (ver Referências Bibliográficas na página Para Saber Mais...) a toada "Três Nascentes" do próprio João Pacífico, tendo "Seu João" como autor-intérprete, momento no qual, já contando com seus quase 71 anos (1980), cantou "Três Nascentes" à vontade e com toda a verve, com sua característica voz gutural e extremamente grave.

Clique aqui, veja a letra e ouça esta gravação de "Três Nascentes" interpretada pelo próprio João Pacífico, disponível em vinil e fora de catálogo.

Também, de acordo com Rosa Nepomuceno no livro já mencionado "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio", esse "Disco-Filho-Único" de João Pacífico é realmente uma raridade fonográfica sem reedição (até Outubro de 1999 quando o livro foi escrito - e até hoje eu também desconheço qualquer reedição deste trabalho ou remasterização em CD).

Quero destacar também o CD JCB-0709-008 produzido por João Carlos Botezelli - Pelão, lançado pelo SESC-São Paulo que nos mostra alguns depoimentos de João Pacífico e algumas interpretações nas quais ele é acompanhado por Cristina (Voz), José Gomes (Rabeca), Tupy e Jorge (Violões) e que faz parte da série "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores E Intérpretes". O conteúdo desse excelente Documento Musical é a gravação do programa Ensaio de 1991 da TV Cultura de São Paulo, sob a direção de Fernando Faro.

João Pacífico participou também da parte declamada no LP "Caipira: Raízes e Frutos" lançado em vinil pela gravadora Eldorado em 1980 e, para nossa grande alegria, remasterizado em CD em 1994. Sua participação se deu em "Estória de um Prego" (João Pacífico), "Couro de Boi" (Palmeira - Teddy Vieira), e "Toada de Mutirão" (Recolhido por Cornélio Pires). Participou também no mesmo disco da faixa "Besta Ruana" (Ado Benatti - Tonico).

Um fato curioso: Em 1933, tendo João Pacífico conquistado a simpatia e a amizade do Escritor Guilherme de Almeida (diga-se de passagem, Guilherme gostou bastante da toada "Mourão da Porteira" e disse que "...tal poema ele assinava em baixo..."), foi, munido de uma carta por ele escrita, à Rádio Record, procurando pelo cantor Paraguassu, o qual o recebeu "apressado" e "repassou o jovem João Pacífico" ao Raul Torres - o então "Embaixador da Embolada". Raul, simplesmente descartou a embolada "Seu João Nogueira" que João Pacífico levava escrita e disse que "não tinha tempo a perder" e que a jogasse no cesto do lixo... João Pacífico, com seu "merecido apelido", apesar de cordato, não desistiu e, num outro dia, conseguiu que Raul Torres lesse a letra da embolada e ouvisse o próprio João cantar e mesma!!

Imediatamente, Torres anunciou que era parceiro de João Pacífico a partir daquele instante e que gravaria na Odeon a embolada "Seu João Nogueira" (na qual homenageava o violonista da Rádio PRC-9 de Campinas - por sinal, tendo o mesmo nome artístico do falecido grande sambista carioca João Nogueira). Nascia naquele momento uma das parcerias mais produtivas da nossa Boa Música Brasileira!

Também se deve ao grande João Pacífico a criação do gênero "Toada Histórica" na qual era declamada uma poesia que antecedia a parte cantada. "Chico Mulato" (Raul Torres - João Pacífico) foi a composição inaugural desse gênero, a qual foi difícil conseguir a gravação na RCA, pois, dadas as limitações tecnológicas da época, a toada completa, com a parte declamada, simplesmente não caberia num lado do "bolachão 78 RPM"! Como Torres e Pacífico não abriam mão de manter a composição em sua integridade, "sem tirar nem por" (atitude louvável, por sinal!), o diretor da RCA-Victor Mr. Evans pediu aos técnicos da gravadora que "reduzissem a distância entre os sulcos do disco", para que coubesse "Chico Mulato" na íntegra: a parte declamada mais a parte cantada.

Após algumas experiências, Mr. Evans e os técnicos conseguiram e finalmente "Chico Mulato" ocupou o Lado B do disco Nº. 34.196 da RCA-Victor e, como a mesma foi bastante tocada nas emissoras de rádio, não demorou para que Mr. Evans pedisse para João Pacífico "uma outra daquelas cantar e falar..." E o sucesso seguinte foi outra Toada Histórica: "Cabocla Tereza" (Raul Torres - João Pacífico). E tal foi o sucesso que "Cabocla Tereza" virou filme em 1982 sob a direção de Sebastião Pereira com Zélia Martins no papel principal e participação especial de Jofre Soares. O próprio diretor também representou o "assassino da cabocla" na película.

Clique aqui e ouça uma gravação de "Cabocla Tereza", a segunda Toada Histórica de João Pacífico e Raul Torres, tendo na interpretação as vozes de João Pacífico e Cristina; na Rabeca, José Gomes e nos Violões, Tupy e Jorge. Esse excelente link musical pertence ao site MPB-NET e é uma gravação que faz parte do CD JCB-0709-008 "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores E Intérpretes", já mencionado logo acima, produzido por Pelão e lançado pelo SESC-São Paulo.