Este é um blog dedicado exclusivamente para o caipira, sua música, seus causos enfim tudo que tenha a ver com a vida simples do homem do campo. Aqui vc vai encontrar links para sites que tem interesse no resgate e preservação deste estilo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Poema

Um lindo poema do nosso cumpadre Ricardinho

Caipira da Cidade Grande


Nasci na cidade, não sou do sertão,
Na selva de pedra eu sempre vivi,
Buzinas de carro e a poluição
São as companheiras que eu tenho aqui.

Mas gosto da Moda de Viola Caipira
Que o Cantador com su' alma ponteia,
O Som do Interior que na Viola ele tira
Faz eu me sentir que a vida não é feia.

A vida não é feia, quero acreditar,
Apesar do dito "cada um prá si",
Quando ouço o Caipira tocar e cantar
Eu sinto que é belo esse "módiexisti"...

C' o canto da roça eu me sinto tão bem,
Nas cordas da Viola que eu ouço tocar,
O Matuto expressa melhor que ninguém
Poesia sincera lá do seu lugar.

Eu sou um Caipira da cidade grande,
Não conheço o mato não sei capinar,
Mas quando viajo, onde quer que eu ande
Procuro ar puro para respirar.

Respirando ar puro, ouvindo a Viola,
Longe da cidade que quase me pira,
No Sertão eu vejo que é grande Escola
A Alma Sincera na voz do Caipira!

José Ricardo Gonçalves (Ricardinho)
Em 18/02/2004

Mais um pouco da historia da musica caipira parte 4

Bom dia Cumpadres e Cumadres
Terminando este passeio pela historia da musica caipira, apesar de ser um trabalho muito superficial, pois existe muita coisa para ver, ler, pesquisar e por que não se emocionar nesta linda historia, que é a historia da musica caipira.
Quero agradecer e indicar a todos os visitantes apreciadores os sites Viola Tropeira e o Boa Musica Brasileira, pois foram fundamentais, por que foram la que busquei (no bom velho modo Ctrl + C, e Ctrl+V) todas essas informações. Muito Obrigado.


*Renato Teixeira
O excelente "Caipira Universitário" do Vale do Paraíba, compositor de "Romaria", "Amanheceu, Peguei a Viola", "Sentimental eu Fico" e "Frete", entre outras, nasceu em Santos-SP (em 20/05/1945), passou a infância em Porecatu-PR e Ubatuba-SP e viveu sua adolescência e juventude em Taubaté-SP, no Vale do Paraíba.

Em São Paulo-Capital, participou do Festival da Record de 1967 com a música "Dadá Maria" que foi defendida por Gal Costa (na época ainda Maria da Graça, iniciando sua brilhante carreira), e também por Silvio César. Também foi sua primeira gravação, já que Renato Teixeira gravou a respectiva música juntamente com Gal no disco do festival. E, no mesmo festival, no ano seguinte, Roberto Carlos foi o intérprete de "Madrasta" também de autoria de Renato.

Renato sempre procurou conhecer a História Musical de Nosso País, ouvir todas as canções e todos os gêneros. Do samba à música caipira. A geração musical que frutificou da Bossa Nova, nos anos sessenta era chocante. Uma linda síntese de tudo que aconteceu de essencial na música brasileira até então.

Admirador e também amigo de Chico Buarque e Caetano Veloso, Renato Teixeira também conheceu Milton Nascimento antes dele fazer sucesso; segundo ele, todos que o conheceram nessa época, já tinham por ele uma admiração que só os grandes mitos podem desfrutar. A falecida Elis Regina, também estava entre os intérpretes da MPB mais admirados por Renato que também assistiu "bem de perto" ao surgimento do Tropicalismo, uma espécie de "preparação mental" para a chegada do terceiro milênio.

Jingles publicitários também compôs "para sobreviver": e, que, por sinal, fizeram bastante sucesso como aqueles do Ortopé, do Rodabaleiro, do Jeans US-Top e do Drops Kids Hortelã, que muita gente se lembra até hoje.


Nesse tempo Renato já havia se identificado totalmente com a Música Caipira Raiz.

E pensar que, quando estudava Engenharia no ITA (o Instituto Tecnológico da Aeronáutica em São José dos Campos-SP), Renato Teixeira sempre "reagia ao assunto" ("... isso é uma porcaria! Você tem que ouvir é Tom Jobim..."). E foi na Capital Paulista que "redescobriu" Tonico e Tinoco. Participou também da Coleção "Música Popular do Centro Oeste/Sudeste" do Selo Marcus Pereira.

Em parceria com Sérgio Mineiro, criou o Grupo Água com o qual Renato Teixeira conseguiu assimilar o espírito da Música Caipira e projetá-la de uma forma contemporânea para todo o Brasil.

Até que em 1977, por insistência do filho ainda pequeno Pedro Camargo Mariano, a saudosa Elis Regina gravou "Romaria" e convidou o Grupo Água para acompanhá-la na gravação. Tal sucesso mudou a carreira de Renato Teixeira e estava criado um "novo espaço" para que a música do Interior Paulista invadisse o mercado.

Com seu famoso refrão "Sou Caipira Pirapora Nossa Senhora de Aparecida, Ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida...", "Romaria" de Renato Teixeira abriu as porteiras de um universo e o "Caboclo picando fumo" saltou do brejo e se assumiu como um dos mais importantes inspiradores do Cancioneiro Popular Brasileiro, de acordo com os comentários de Rosa Nepomuceno na página 372 do Livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio". Além de Elis Regina, muitos outros já gravaram "Romaria", como por exemplo, Pedro Bento e Zé da Estrada, Pena Branca e Xavantinho, Sérgio Reis, Passoca e muitos outros excelentes intérpretes.

Um grande momento na vida de Renato Teixeira foi também a parceria com Almir Sater, com alguns sucessos consagrados, como por exemplo, "Um Violeiro Toca" e "Tocando Em Frente". Almir fez uma verdadeira "revolução mágica" com a Viola Caipira e transcende a qualquer violeiro que já existiu.

Outra parceria importante para Renato Teixeira foi com a dupla Pena Branca e Xavantinho. Juntos, gravaram pelo Selo Kuarup o CD "Ao Vivo em Tatuí" (KCD053 - produzido por Mario de Aratanha e Leo Stinghen), o qual se transformou num marco na Música Caipira Raiz. Esse CD foi Gravado ao vivo de 21 a 23/09/1992 no Teatro do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí-SP. Clique na capa do CD acima e à direita e você poderá adquirir esse e outros excelentes CDs de Renato Teixeira na Kuarup Discos.

Além de Pena Branca & Xavantinho, Renato Teixeira também gravou CD's juntamente com Xangai, Cida Moreira, Elomar, Geraldo Azevedo, Sivuca e muitas outras excelentes personalidades de nossa Boa Música Brasileira.

Seu projeto de vida é dar continuidade ao sonho de divulgar e difundir cada vez mais o espírito do "Caipirismo Valeparaibano"; não pela "repetição das velhas formas", mas sim pelo potencial que esse Universo cultural oferece para que a Boa Música Brasileira avance em direção ao futuro, coerente com a evolução, naturalmente moderna."

Renato Teixeira se diz "Um Caipira Teórico"... "Almir Sater é prático: vai pro mato. Tavinho Moura pega o barco, vai para dentro do rio pescar. Eu gosto de ficar ouvindo os passarinhos, assim sentado numa boa poltrona...", de acordo com Rosa Nepomuceno, em seu excelente livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - página 377.

Quero destacar também o mais recente trabalho de Renato Teixeira, dessa vez em companhia de Rolando Boldrin, também lançado e distribuído pela Kuarup Discos: Rolando e Renato gravaram juntos pela primeira vez e contam nesse CD com as participações especiais de Almir Sater, Dominguinhos, Heraldo do Monte e Paulo Sérgio Santos. Destaque para "Brasil Poeira" (Almir Sater - Renato Teixeira), "Funeral De Um Lavrador" (Chico Buarque - João Cabral de Melo Neto), "Chico Mineiro" (Tonico - Francisco Ribeiro), "Vaca Estrela E Boi Fubá" (Patativa do Assaré), além da até então inédita "Tempo Das Aves" (Rolando Boldrin), da raríssima "Três Nascentes" (João Pacífico) e também da quadrilha "Maria Bonita" (Volta Seca), composta pelo famoso "cangaceiro-compositor" que pertenceu ao bando de Lampião. Clique na capa do CD à direita e adquira esse excelente trabalho fonográfico diretamente da Kuarup.

*Almir Sater


"Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal...", vamos conhecer um pouquinho desse grande Sul Matogrossense de Campo Grande que é Almir Sater, excelente intérprete de "Trem do Pantanal" (Geraldo Roca - Paulo Simões) e "Chalana" (Mário Zan - Arlindo Pinto) e compositor de "Varandas" e "Sonhos Guaranis", entre muitas outras.

Sul-Matogrossense, Pantaneiro (que chegou a conhecer Nashville), nascido em Campo Grande-MS, (14/11/1956), Almir Sater tocava violão desde criança, e desde pequeno, gostava de fazendas, bois e do Som da Viola. Com doze anos de idade já se apresentava na Rádio Cultural de Campo Grande, juntamente com Gil Ourives. Na época Almir tocava Violão, e já gostava da Viola Caipira que ouvia nas rádios, tocada inclusive por Tião Carreiro em dupla com Pardinho. Era um "ouvir sem tocar"...

Mas só foi "descobrir efetivamente" a Viola Caipira, o instrumento que o celebrizou, no Rio de Janeiro-RJ, onde estudou Direito, na Faculdade Candido Mendes. "Para juntar as paixões" foi preciso sair de Campo Grande-MS, e parar no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, quando topou com dois violeiros mineiros tocando no meio da praça.

Tinha vinte e poucos anos e decidiu, nesse momento, largar o curso de Direito que fazia na Cidade Maravilhosa e voltar para casa, para o Mato Grosso do Sul, para tocar sua viola. Ainda no Rio, havia comprado um violão com cordas de aço, de som vibrante, um "Folk", daqueles enormes, mas logo descobriu que, com ele, nunca conseguiria "O Som de Viola" e assumiu a preferência: vendeu o violão, comprou a violinha mais barata que encontrou no "Rei do Violões" e começou a tocar: "...aí vi os mineirinhos na praça e pensei: vou pro Mato Grosso. Viola e Rio de Janeiro não combinam...".

Trancou a matrícula do curso (já fizera três vezes o primeiro ano), voltou para Campo Grande-MS, criou um grupo de pesquisa de Música Caipira e Latino-Americana - tocava charanga, viola e bandolim - e montou a dupla "Lupe e Lampião", a qual, em 1978, foi a quarta colocada no "Festival Sertanejo" da TV Record.

Almir Sater foi na verdade um pesquisador, que "aprendeu ouvindo", como ele mesmo diz: "...sofri a influência de vários músicos. Nunca estudei; não me orgulho disso, mas é um fato. Então o que sempre me ajudou foi escutar muitos discos, músicos e daí partir para um estudo mais aprofundado...".

Já morando em São Paulo, integrou, naquele final de 1970, o grupo "Lírio Selvagem", da conterrânea Tetê Espindola. A última etapa antes de chegar ao disco foi o grupo "Vozes e Violas" e uma atuação com a famosa cantora Diana Pequeno.

Suas composições falando de fronteiras, águas, canoas, boiadas, peões, varandas, galopes e pássaros, assim como suas obras instrumentais, fizeram dele, desde a década de 80, um músico singular.

Desde o início, passeou livremente pelo som da Música Popular Urbana, da Música Caipira, da Música de Villa-Lobos, dos pagodes de Tião Carreiro, da música da fronteira do Mato Grosso do Sul, do Vale do Jequitinhonha e de outros reinos da Viola e da Cultura Popular.

Em 1979, Almir Sater percorreu interior de Mato Grosso do Sul. "Nessa época, Tetê Espíndola me convidou para participar do grupo Tetê e os Lírios Selvagens, dos irmãos Espíndola. Viajamos durante um ano. Depois vim para São Paulo e participei de uma Cooperativa Musical".

A experiência foi muito importante, segundo Almir Sater, principalmente porque reunia nomes do quilate de Alzira Espíndola (Irmã de Tetê Espíndola), Carlão de Souza, Paçoca, Papete, Zé Gomes, Silvana Michelini, Tuca, Grupo Bendengó e muitos outros. Como "nenhum deles tinha banda", então "um tocava com o outro", segundo Almir. A Cooperativa existiu por dois anos e numa dessas apresentações de Vozes e Viola, Almir recebeu o convite da Continental para gravar o primeiro disco, em 1981 (o LP "Almir Sater"), tendo a participação do Tião Carreiro, que, na época, era parceiro de Almir na gravadora.

Esse primeiro disco foi logo seguido por "Doma", pela RGE em 1982. Três anos depois montou a "Comitiva Esperança", que viajou pelo Pantanal Mato-Grossense pesquisando a música e os costumes da região. Depois de lançar outros discos e abrir o "Free Jazz Festival" de 1989, Almir Sater atuou na novela "Pantanal", da extinta TV Manchete, que o projetou nacionalmente, junto com sua música. Em seguida, continuou como ator, em "Ana Raio e Zé Trovão", da mesma emissora. Afastou-se das novelas para se dedicar mais à Música, lançando "Terra de Sonhos" em 1994; dois anos mais tarde voltou a atuar em novela: foi na Rede Globo em "O Rei do Gado", onde representou a "dupla caipira fictícia" "Pirilampo e Saracura" que fez juntamente com Sérgio Reis.

Apesar de ter participado das novelas que o consagraram como excelente ator, sua vocação sempre foi a de compor, cantar e tocar a Viola - e isso começou bem cedo. Os amigos do pai em Campo Grande, gostavam de Bossa Nova. O menino estudava violão, mas ouvia Viola no rádio, naqueles programas de madrugada, "na hora do caipira acordar" para pegar na enchada...

De acordo com Almir Sater, "...esse som sempre me fascinou. É um sentimento (...) eu nunca soube por que. É a minha sina. No Mato Grosso não tem quase violeiro; Dona Helena Meirelles para mim foi uma surpresa. Conheci alguns poucos, influenciados pelos mineiros. Lá não tem tradição de viola, só de violão, sanfona e harpa paraguaia, música de fronteira. (...) Viola e Boi é uma combinação tão perfeita quanto Goiabada e Queijo...".

E, se ele gostava de viola, era natural que se sentisse à vontade no meio do curral, montando cavalos, ouvindo o som do berrante. A cidade de Campo Grande-MS naquela época não era tão desenvolvida como hoje, e as fazendas de gado ainda rodeavam a cidade.

Além do famosíssimo Tião Carreiro, a Viola do Mineiro Renato Andrade também se situa no "primeiro time" de sua admiração. Ouvindo-o, o Sul-Mato-Grossense aprendeu a afinar o instrumento num "Rio-Abaixo". "As afinações sugerem coisas, cada uma tem a sua magia, e com essa fiz "Europa", uma espécie de valsa, que está no CD "Instrumental-2"."

Violeiro de muitos recursos, adotou para a maior parte de sua obras a afinação "Cebolão", nas suas variações (em Mi Maior ou em Ré Maior), mas gosta de sua viola em Dó Maior, afinação que descobriu e nunca viu ninguém fazer... É invenção sua... Rafael Rabello no violão e George Benson na guitarra são os dois outros instrumentistas preferidos, pela agilidade e a qualidade de melodia, que "fazem viajar".

Foram todas essa informações, gostos e técnicas que levou para o estúdio, para fazer seu primeiro disco em 1981, o qual pegou a mídia de surpresa: um músico jovem de Mato Grosso do Sul "reinventava a viola", trazendo ingredientes novos ao então desprestigiado som rural. A imprensa o incluiu na safra dos "Sertanejos Chiques", saudando o fascínio, a simplicidade e a grande qualidade das melodias e arranjos que misturaram viola com violões de 12 cordas, violinos e harpa paraguaia.

O som da fronteira fundido ao do Interior Mineiro e Paulista, e às pegadas do Blues, chegava às platéias dos grandes centros na viola "sem preconceito". Ele aliava a tradição à linguagem de sua geração, o arrasta-pé a um som meio roqueiro. E, além de tudo, sabia fazer boa poesia - como Joan Baez e Bob Dylan; Almir também é devoto do folk.

No segundo LP, "Doma", em 1982, surgiu a parceria com Renato Teixeira, que daria, ao longo da amizade, excelentes frutos. Nesse disco, a música "Peão", da dupla, abriu o lado A e entrou na trilha da novela "Fera Radical", da Rede Globo.

Quando conheceu Renato Teixeira (compositor de "Romaria" e "Amanheceu, Peguei a Viola", entre outras obras primas), Almir Sater encontrou um semelhante, um vizinho de alma, identificando-se com sua forma de cantar e compor, e também na maneira de conduzir a carreira. Aos poucos foi se integrando a uma rede de músicos de gerações próximas, com trabalhos que apontavam para a mesma direção: temas que falavam das regiões de onde vieram. Cita Tavinho Moura, que mora em Belo Horizonte, Passoca em São Paulo, Paulo Simões e Geraldo Roca no Mato Grosso do Sul (compositores do célebre "Trem do Pantanal"), entre outros.

O primeiro disco "Instrumental" de Almir Sater foi lançado em 1985, após longa viagem de pesquisa no Pantanal (que resultou no documentário "Comitiva Esperança", produzido com Paulo Simões em parceria com a Tatu Filmes, de São Paulo), e mostrou a qualidade do Violeiro em "Corumbá"; no respectivo disco, destacam-se músicas como "Luzeiro" (utilizada na abertura do programa "Globo Rural" na Rede Globo), "Viola de Buriti" e, novamente, sua admiração por Tião Carreiro, em "Rio de Lágrimas".

Em "Cria", no ano seguinte, produzido por Carlão de Souza, o som ficou "mais pop", com a entrada forte de guitarras, sax, teclados e baixo. O repertório trouxe novas parcerias com Renato e Paulo Simões, e também uma regravação do mesmo clássico de Tião Carreiro, seguramente um dos mais lembrados do gênero por cantores de todas as gerações.

Se a televisão levou a viola para a sala da classe média urbana, nem por isso Almir Sater acredita que o instrumento vá se popularizar fora das regiões em que já é parte da cultura. Não apenas por preconceito. Hoje há escolas de viola no interior de São Paulo, bons violeiros que criaram métodos e arregimentam alunos. "...é um instrumento muito primitivo, limitado, dífícil de se tocar, aprisionado por afinações que a incompatibilizam com um instrumento afinado de forma diferente. Porque, se for para harmonizar, fazer acordes, não é Viola. Ela tem que ter ressonância, tem que se alimentar dos bordões, e se você toca viola como toca Violão, não vai funcionar. O Zé Coco do Riachão era uma exceção, tocava com afinação de violão, mas com a concepção de viola. Ela é para poucos, está no sangue..."

A qualidade do som do instrumento é fundamental. Porém, mais importante para Almir Sater é se manter solto, livre de rótulos, quanto ao seu estilo musical. "Isto é um desafio pra mim. Faço a música caipira que eu ouvia no rádio, mas tenho influências do Interior do Brasil. Das minhas composições, 80% não tem nada a ver com música caipira. "Tocando em Frente" é um rasqueado, só que não é tocado como Rasqueado; "Moura" está mais para o "Choro"; "Cristal" é um Estudo; "Um Violeiro Toca" é música de viola, mas não é caipira... Mas... pode me chamar de caipira."

"Se não tivesse que pagar as contas, não saía do Pantanal. Tudo ali é favorável ao isolamento, na fazenda Campo Novo, região do Rio Negro, a 250 Km de Campo Grande-MS. Durante quatro ou cinco meses por ano, é possível chegar à cidade de carro. Nos outros meses, na tradicional cheia, só de avião. O cenário é único e, para viver nesse lugar de geografia, flora e fauna deslumbrantes; é preciso ter o espírito pantaneiro: aventureiro e sereno, paciente como os ciclos da natureza." (...) "O que me fascina é o espaço que eu tenho, a imensidão que é aquilo. Aquela paisagem toda, e é tudo da gente..."

Essa declaração, consta na página 389 do Livro de Rosa Nepomuceno "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio" e foi feita por Almir Sater quando do show em São Paulo no SESC-Ipiranga em Dezembro de 1998. Sair da toca para fazer shows pelo Brasil são "ossos do ofício" para Almir, chapéu de abas curtas, botas, pele morena de sol, cuia de mate na mão. Quando precisa de dinheiro, viaja para trabalhar. "Vivo da música, mas também mexo com frigorífico, vendo boi gordo , o que ajuda no custeio da família."

Quando vem a São Paulo, geralmente a cada oito meses, fica na casa comprada na Serra da Cantareira, vizinha à do seu "compadre e parceiro" Renato Teixeira. Um dia conseguiu realizar seu grande sonho: ficar só tocando viola, sem sair do Pantanal, tomando chá misturado com raízes de carqueja e de outras ervas que conhece, rodeado pelos filhos Yan e Bento. O mais velho e "bluseiro", Gabriel, mora nos Estados Unidos. Ninguém melhor que Almir Sater para traduzir em poesia os "Encantos Pantaneiros". "Para mim, bastariam dois paus e uma rede."

Difícil imaginar aquela curva do rio sem a casa de Almir Sater e Ana, sua esposa. Uma variedade sem igual de animais e pássaros torna ainda mais paradisíaca a vida na Murundu (que significa "monte", mas também "ninho de jacaré"). Talvez só mesmo gente como Almir e Ana, crescidos à beira do rio, consigam conviver com "tantas dificuldades naturais" e ter o despojamento de deixar o conforto da cidade. Atualmente, junto com os filhos, eles passam mais tempo lá do que em São Paulo. Almir compõe, enquanto Ana trabalha num projeto educacional rural voltado para as crianças e população da região e que foi idealizado, criado e mantido por eles. Conseguir recursos para manter a escola é um dos motivos que faz Almir sair do Pantanal.

Como aconteceu com quase todos os que optaram pela viola, "sua escola foi a vida", ouvindo, tocando e se inspirando nos mestres. E "seu mestre" Almir considera que foi o mineiro Tião Carreiro, "longe dos olhos, mas bem perto de sua vitrola"...

Em 1976, Tião já havia inventado o Pagode Caipira. Almir ouvia seus discos e também os "reouvia, interrompia", para que pudesse entender os acordes e as puxadas. "Tião gostava de samba e foi trazendo seu "swing" para a viola, misturando acordes de violão e viola, um completando o outro, porque um sem o outro não balança".

Alguns anos depois Almir se encontrou com Tião num festival. Em "péssima hora"... Tião Carreiro encontrava-se bêbado e Almir não conseguiu conversar com ele, mas lhe pediu que afinasse sua viola.

Um segundo contato como Tião Carreiro, em condições melhores, aconteceu quando foi fazer seu primeiro disco na Continental, em 1981, e o encontrou no corredor da gravadora. Foi aquela emoção. Almir se referiu ao episódio do festival, do qual Tião nem se lembrava. "Eu disse que era seu fã (...) e ele ficou surpreso, porque não imaginava que sua música pudesse ter chegado ao pessoal mais novo. De fato, aquelas modas nunca chegaram perto da minha geração. Nosso papo fluiu e ficamos amigos. Eu sempre curioso, ele sempre vaidoso de ter uma pessoa perguntando as coisas. Eu me sentava na sua frente e dizia "faz de novo, repete, deixa eu ver". O toque de um violeiro é muito especial, difícil de ser assimilado, tem que escutar muito pra entender o caminho das mãos. Aprendi a fazer a batida do Tião, puxando pro meu jeito'.

Nesse dia foram juntos para o estúdio e gravaram "No Quintal de Casa", composição de Almir, transformada num animado Pagode do Tião, na deliciosa faixa que fechou o primeiro disco de Almir, da qual participaram o violão de 12 cordas de Carlão de Souza, a flauta de Demétrio e a percursão de Papete.

Esses encontros entre Almir Sater e Tião Carreiro são narrados com mais riqueza de detalhes nas páginas 391 e 392 do Livro de Rosa Nepomuceno "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio".

Na década de 80, Almir Sater também participou de um dos festivais de MPB com sua música "Varandas". Ele diz que ali foi o começo de tudo. "Era mostrar tudo o que sabe, senão desistir e voltar para o Mato Grosso". No final da década participou do Free Jazz Festival. Em 1989, foi aos Estados Unidos participar do International Fair Festival e a Continental aproveitou para gravar o disco "Rasta Bonito" em Nashville, a capital da "Country-Music", caprichando no retorno do artista ao respectivo selo. Com violonistas, gaitistas e tocadores de banjo americanos, durante dois dias e meio ficou no estúdio, inteiramente à vontade, "mostrando por que é um dos maiores instrumentistas do mundo", de acordo com seu parceiro e compadre Renato Teixeira. Almir foi, portanto, o pioneiro a trafegar na free-way que ligaria a música do interior do país à do Interior dos Estados Unidos.

Essa estrada seria percorrida, velozmente, por muitos outros artistas, que acabariam por "perder o caminho de volta"... O som dos rodeios da peãozada de lá misturado com o daqui está na própria faixa-título ("Rasta Bonito") e na música instrumental "Capim Azul". Em parceria com Joe Loesch, fez "Homeless Souls", a qual canta em inglês. O standard "Tennessee Waltz" (Redd Stewart e Pee Wee King) é contrabalançado com o "Hino da Música Rural Paulista" que é "Tristezas do Jeca" de Angelino de Oliveira.

Nesse contato com músicos americanos, acredita que eles não se interessaram muito pela viola. "Talvez porque tenham o banjo, bons violões. Gostaram mesmo foi de um violãozinho pequeno que eu levei".

E o CD "Instrumental II" foi lançado em 1990. A viola reinou com todos os seus timbres, afinações e puxadas, em uma viagem que passou por Villa-Lobos, em "Mazurca-Choro" (da Suíte Popular Brasileira), pelo folclore do Vale do Jequitinhonha, em "Beira-Mar" (recolhido por Tavinho Moura), pelos sons da divisa, com "Rasta" e "Fronteira", e namorou o erudito em "Europa" e em "Moura", Tema para Pequeno Violão e Orquestra: com ele, conquistou o Prêmio Sharp de melhor instrumental, no ano em que arrebataria outro pela música "Tocando em Frente", gravada inclusive por Maria Bethânia.


Adauto Santos


Entre esses símbolos da resistência dentro da música caipira, situado ao lado de Renato Andrade, Zé Mulato e Cassiano, Almir Sater, Roberto Corrêa e vários outros, estava também a figura do violeiro, cantador e compositor Adauto Santos, que faleceu no dia 22/02/99. Adauto estava situado entre as maiores preciosidades de voz e viola do Brasil. Nascido na cidade paulista de Bernardino de Campos, foi criado em Londrina, no Paraná, onde iniciou sua carreira artística cantando ao lado de sua irmã formando a dupla, Duo Havaí. Como forma de provar o talento da jovem dupla merece destacar que o Duo Havaí venceu o Festival Roda de Violeiros, do Capitão Furtado, em Londrina, gravando nessa mesma época o primeiro disco

Em 1962, Adauto Santos, transfere-se para São Paulo, e passa cantar na noite paulista. Chama a atenção do público não só pela bela e afinadíssima voz, como pelo fato de ir aos poucos introduzindo a viola caipira em suas apresentações. A viola caipira de Adauto chama a atenção de muita gente sobretudo, de clientes estrangeiros que se hospedavam nos hotéis paulistas. Assim Adauto Santos ia aos poucos mesclando MPB com caipira, e o efeito tomou um caráter positivo. Aos poucos foi ganhando espaço no rádio, na televisão e jornais, porém de forma muito limitada, muito aquém de seu talento. Aliás, foi ele mesmo quem disse que o seu trabalho foi sempre muito artesanal com muito suor e pouco reconhecimento. O seu trabalho começou ganhar projeção nacional após suas participações no Programa Som Brasil (TV Globo) com apresentação de Rolando Boldrin. Além de cantador e violeiro, Adauto Santos, foi também compositor. A sua primeira canção que realmente marcou foi Triste Berrante, música incluída na trilha sonora da novela Pantanal exibida pela então Rede Manchete. Ainda na condição de compositor fez excelentes trabalhos em parceria com Mário Lago, Paulo Vazolin, Eduardo Gudin, João Pacífico e outros. Adauto Santos deixou vários discos gravados, alguns cantados, outros em solo de viola. O seu primeiro disco foi Triste Berrante e o último Tocador de Vida e Viola. Merecem destaque ainda os CDs Adauto Santos: Brasil Viola e Varanda Sertaneja.



*Rolando Boldrin
Rolando Boldrin: Este é o nome completo e também o nome artístico deste excelente “cantadô”, como ele mesmo se define!

Paulista da Velha Mogiana, o sétimo de 12 meninos e meninas, Rolando nasceu em 22/10/1936 em São Joaquim da Barra no interior de São Paulo. Com apenas dois anos, mudou-se, junto com os pais, Seu Amadeu e Dona Alzira, para Guairá, na mesma região, e foi nessa cidade que Rolando começou a cantar algumas Modas de Viola, Toadas e Canções com seu irmão Leili Boldrin, dois anos mais velho.

A dupla chegou a fazer algumas apresentações com o nome “Boy e Formiga”: Boy foi o apelido que o próprio pai colocou no filho Rolando, dada sua paixão pelos filmes de “cowboys” americanos da época: como Boy era loiro, o apelido "combinou"; e Leili recebeu o apelido de Formiga também da própria família, de tão miudinho que era quando nasceu...

E o repertório de Boy e Formiga era "escolhido a dedo": entre diversos clássicos, as "pérolas" de Raul Torres e João Pacífico tais como "Pingo d' Água", "Chico Mulato" e "Cabocla Tereza".

Leili Boldrin atualmente se dedica ao comércio e ainda tem o apelido de Formiga. No LP "Violeiro" (também lançado em CD) de 1982, Rolando e Leili Boldrin (ou "Boy e Formiga") relembraram os tempos da dupla e gravaram juntos a toada "Felicidade" (Barreto - Barroso).

Rolando Boldrin também chegou a assistir ao nosso grande Cornélio Pires, em suas apresentações pelas diversas cidades do Interior, o que com certeza influenciou bastante na Cultura e no Gosto Musical do nosso "cantadô" de São Joaquim da Barra-SP.

Algum tempo depois, Rolando Boldin contava 16 anos e, por conta própria, decidiu “arribá” sozinho prá "Capitar": São Paulo da Garoa... Na Paulicéia Desvairada, foi sapateiro, garçon, auxiliar de armazém e frentista. E, por exigência da idade, prestou o Serviço Militar em Quitaúna, no mesmo ano do suicídio de Getúlio Vargas.

Quando deu baixa do Quartel, saiu determinado a seguir a carreira artística, pois já tinha a experiência de “cantadô” inato e “contadô” de causos e, com a Viola e o Violão, já havia experimentado “um pouco de tudo”, das Modas de Viola da época aos Sambas e Canções dos cantores e conjuntos mais famosos que ouvia no rádio: Vicente Celestino, Francisco Alves (o famoso "Chico Viola, como também era conhecido), Orlando Silva, Carmen Miranda, Noel Rosa, Bando da Lua, etc. Na Música Caipira, ouvia Jararaca e Ratinho e Alvarenga e Ranchinho, entre outros e, como diz o próprio Rolando Boldrin, “...muito rádio ... muito rádio e alto-falantes das pracinhas interioranas...”

Seguiram-se então os testes em diversas rádios paulistanas como a Rádio São Paulo, Rádio Record, até chegar à Rádio Tupi que já possuía inclusive uma pequena experiência com os primeiros anos de transmissão televisiva no Brasil (a qual havia se iniciado em 1950). Era 1958, ano em que Rolando Boldrin completava 22 anos. E, finalmente, o primeiro contrato para atuar como ator de TV e Rádio. “...Até que enfim, acreditaram que aquele "Capiau" magrela e desajeitado poderia ser um artista de verdade...” nas palavras do próprio Rolando Boldrin!

Foi nos anos 60 que estreou em gravações; trabalhou inclusive com Lurdinha Pereira, que veio a ser sua esposa. Após alguns anos como ator em novelas, e sempre acompanhando Lurdinha Pereira que também era cantora e gravara alguns discos na época, numa dessas gravações no estúdio, foi pedido para que ele também “soltasse a voz”... Era o Palmeira, que em 1961 era produtor na gravadora Chantecler e tal acontecimento teve lugar quando da gravação da música "Do Que Eu Gosto Mais" de sua autoria, que seria gravada por Lurdinha, no entanto, acabou sendo gravada em dueto com seu marido. Tímido de início, Rolando alegou que "não cantava, era só compositor...", mas, com a insistência de Palmeira, o disco em dueto foi gravado. E, a partir daí, começou a traçar um novo caminho em sua vida! E os primeiros discos de Genuína Música Brasileira começaram a ser gravados com sua voz tão característica!

Depois de ter gravado mais alguns discos em duo com Lurdinha, em 1974 Rolando Boldrin gravou seu primeiro LP solo: "O Cantadô". O título foi escolhido pelo próprio Rolando Boldrin, pois é "como ele gosta de ser chamado", já que "não possui compromisso com a voz, nem com a forma de cantar, mas somente com a maneira de emocionar...". Para Rolando, Elomar é o maior cantador do Brasil. Mílton Nascimento também é um cantador em sua concepção. Cantor, Rolando cita como exemplo Cauby Peixoto e Djavan, de acordo com entrevista concedida à Rosa Nepomuceno em Janeiro de 1999 quando ela escrevia o excelente livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - página 354.

De 1981 a 1984 apresentou na Rede Globo aos Domingos pela manhã o inesquecível programa “Som Brasil” que resgatou e reergueu muita gente importante já esquecida no nosso cancioneiro, como por exemplo o Ranchinho que fazia dupla com Alvarenga (que havia falecido em 1978), que cantava e contava causos; Zé Coco do Riachão com sua Viola; João Pacífico, que declamava seus poemas com sua voz e sotaque tão característicos. Também foi graças ao “Som Brasil” que se tornaram conhecidos Pena Branca e o falecido Xavantinho (foto acima e à esquerda). O segundo CD de Pena Branca & Xavantinho ("Uma Dupla Brasileira") também foi produzido por Rolando Boldrin. Realmente "... a Globo tinha preconceito contra os Sertanejos e quem quebrou esse preconceito foi Rolando Boldrin..." de acordo com suas próprias palavras em entrevista à Rosa Nepomuceno no Livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - pág. 352. E, com o sonho de apresentar o "Som Genuinamente Brasileiro" no “horário nobre”, Rolando Boldrin teve alguns desentendimentos com a emissora de Roberto Marinho e, em 1984 apresentou o “Empório Brasileiro”, também excelente programa nas noites de Terça-Feira na Rede Bandeirantes. E, por um curto período de tempo, apresentou também “Empório Brasil” no SBT.

Era marca registrada dos programas de Rolando Boldrin apresentar nossos valores autênticos. Seus programas valorizavam as tradições regionais, as conversas de "cumpadi", a Boa Música Raiz, e, conseqüentemente, não admitia o uso de “play-back” nem guitarra. A idéia era "não cantar sucessos", mas somente música de inspiração regionalista. Também nada de glamour”, do contrário, Boldrin queria que a pessoa fosse ao programa com naturalidade e simplicidade, vestido como andava na rua, sem nenhum "figurino especial". “Se andasse na rua, normalmente de chinelo, tudo bem, mas que não fosse “todo produzido” ao seu programa... “. Aliás, por causa do “chapelão de cowboy americano”, Sérgio Reis chegou a ser barrado no "Som Brasil" conforme já foi mencionado na página que dediquei ao Serjão neste site.

O importante é que, para nossa felicidade e de todos os que defendem Nossas Raízes, Rolando Boldrin não perde de vista "o palquinho de Cornélio Pires" que ele um dia havia conhecido com seus 11 anos de idade em São Joaquim da Barra! Não importa o quanto a TV tenha mudado, e o quanto nossa Música Regional possa "perder pontos" para os ditos "rappers", "pagodeiros" e "pop-sertanejos" (também chamados por alguns de "breganejos" e "sertanojos"). Rolando Boldrin se mantém firme, defendendo as Raízes, a exemplo de Inezita Barroso, que é excelente batalhadora e se mantém no mercado e apresenta com bastante qualidade o "Viola Minha Viola" na TV Cultura de São Paulo-SP. Aliás, não posso deixar de mencionar textualmente um comentário de Rolando Boldrin sobre nossa grande Inezita Barroso que "...sabe das coisas muito mais que eu, que sou autodidata. Tem cultura, é uma estudiosa. Eu só sei falar daquilo que aprendi vivendo..." (página 359 do livro de Rosa Nepomuceno: "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio").

Para Boldrin, é nas Minas Gerais que se encontra "o mais rico celeiro" de músicos que realmente valorizam a Cultura Rural e cita como exemplo os irmãos Pena Branca e Xavantinho da região de Uberlândia-MG e também o Solista de Viola Renato Andrade, além do cantador Tadeu Franco e do compositor Paulinho Pedra Azul.

E, para nossa felicidade, Rolando Boldrin está apresentando o excelente programa Sr. Brasil, que vai ao ar nas noites de Terça-Feira, com reprise nas tardes de Domingo pela TV Cultura de São Paulo-SP. Desde 1981, quando Rolando Boldrin começou a contar seus "causos" durante três anos no inesquecível "Som Brasil" nas manhãs de Domingo na Globo, seguido pelo "Empório Brasileiro" na Bandeirantes em 1984, "Empório Brasil" no SBT em 1989 e "Estação Brasil" na TV Gazeta em 1997, o "Cantadô" voltou às telas da TV após sete anos! De acordo com o próprio Rolando Boldrin, Sr. Brasil é um programa vasto, aberto e receptivo. Vamos mostrar os ritmos e temas regionais brasileiros que a maior parte do Brasil não tem oportunidade de conhecer. Serão mostradas todas as manifestações regionais. A única obrigatoriedade é que tudo seja genuinamente nacional".

Este é o nosso valiosíssimo "cantadô". Poucos como ele dão valor às coisas de Nossa Terra e Nossa Gente!



*Pena Branca e Xavantinho
A excelente dupla caipira autêntica que "uniu dois mundos" de nossa Boa Música Brasileira e com total harmonia: além de contar com a admiração do público que aprecia a Moda de Viola, corajosamente ousaram e foram bem sucedidos em interpretar uma versão totalmente original e pessoal do "Cio da Terra" de Milton Nascimento e Chico Buarque, uma composição musical que aparentemente "não tinha nada a ver com o repertório Caipira Raiz", no entanto, a bela melodia que já fazia sucesso na MPB tornou-se um "Clássico do Repertório Caipira", agradando aos dois públicos que, antes, ou não conhecia a dupla, ou não conhecia a composição de Chico e Milton.

Esse trem agora levará o Apreciador ao Triângulo Mineiro, a Região onde foi criada essa maravilhosa dupla que realizou o "casamento harmonioso" da MPB com a Música Caipira Raiz: Pena Branca e Xavantinho!!

Influenciados por Tião Carreiro, Zé do Rancho, Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Vieira e Vieirinha, entre outros, José Ramiro Sobrinho, o Pena Branca, nasceu em Igarapava-SP no dia 04/09/1939; e Ranulfo Ramiro da Silva, o Xavantinho, nasceu em Cruzeiro dos Peixotos, Distrito de Uberlândia-MG, em 26/12/1942 e faleceu em São Paulo aos 56 anos, em 08/10/1999. Criados na Região de Uberlândia no Triângulo Mineiro, eram filhos de Dolores Maria de Jesus, (a "Coitinha" como era carinhosamente conhecida), que lavava roupa para fora, e de Francisco da Silva, que trabalhava numa pequena lavoura que possuía e também criava algumas cabeças de gado em terreno arrendado.

Dona "Coitinha" cantava com Seu Francisco que também tocava Cavaquinho. Além de cantar, ela também marcava o ritmo com instrumentos de percussão que improvisava com cabaças de porongo e colheres de pau. Assim foi o primeiro contato musical dos meninos que aprenderam os primeiros acordes musicais no Cavaquinho do Seu Francisco, que faleceu repentinamente em 1950 quando José Ramiro e Ranulfo tinham apenas 11 e 8 anos respectivamente.

Sendo o primogênito, Pena Branca teve que assumir a responsabilidade do sustento da família. Dona "Coitinha" continuava com as improvisações dos instrumentos musicais, tendo inclusive confeccionado uma Viola feita de cabaça de porongo e sandálias velhas, cujas tiras de couro foram cortadas em fios finíssimos e fizeram a vez das cordas! E era ela quem mais queria que os meninos tentassem uma carreira artística, já que considerava a Música como sendo a "libertação" daquele trabalho rude e que seguia um sistema praticamente escravocrata.

Em 1953, durante a entressafra, José Ramiro foi trabalhar em Ituiutaba-MG como carregador nos frigoríficos e armazéns. Foi nessa época que comprou sua primeira Viola e formou com Zé Pretinho a dupla "Zé Miranda e João do Campo". E, quando voltava a época da safra, José Ramiro voltava prá casa e continuava o trabalho nas fazendas, onde nas horas de folga ensaiava com o irmão Ranulfo. Nesse trabalho, José Ramiro e Ranulfo não recebiam dinheiro, e sim "ordens de pagamento" ao armazém de secos e molhados da localidade.

Melhorando com o tempo o desempenho, começaram a participar de Folias de Reis, quermesses e bailes. Eram comuns também os mutirões em finais de semana, os quais sempre acabavam numa comemoração com comida, bebida, Música e Dança. E os dois irmãos animavam a festa.

Três anos depois desfez-se a parceria com Zé Pretinho. José Ramiro e Ranulfo continuavam os ensaios freqüentes, e começaram a desenvolver os estilos inspirados nas Duplas Caipiras da época. José Ramiro tocando uma "Viola de Craveia" e Ranulfo tocando um velho Violão emprestado de um amigo. E já se apresentavam em clubes onde muitas vezes "os palcos eram formados por mesas reunidas".

Em 1958, quando participaram do programa do Coronel Hipopota na Rádio Educadora de Uberlândia, o locutor cismou que "José e Ranulfo" (como eles se denominavam) "não era nome de dupla". Contra a vontade dos dois irmãos, anunciou no microfone da emissora a dupla "Peroba e Jatobá". José e Ranulfo não gostaram do nome, apesar da insistência do Coronel Hipopota. Na apresentação seguinte adotaram os nomes de "Barcelo e Barcelinho". Não satisteitos, mudaram o nome para "Xavante e Xavantinho", lembrando das aulas de História na Escola Primária, e homenageando também o Índio Brasileiro. Na época, os irmãos continuavam trabalhando como carregadores, o que possibilitou a compra de novas Violas. Eles se apresentavam em todos os lugares, e não recusavam nenhum convite. Ranulfo, o Xavantinho, também começou nessa época a escrever as suas primeiras letras.

Com o Sanfoneiro Pinagi formaram o "Trio Pena Branca", que em 1964 se apresentava em pequenas cidades do interior Goiano. Seu estilo era influenciado diretamente por Vieira e Vieirinha, e também por "Pedro Bento e Zé da Estrada", e "Serrinha e Ramón Perez". No repertório, canções típicas da Zona Rural Mineira, Polcas Paraguaias, Folclore Boliviano e Toadas Mexicanas. Desfez-se mais tarde o trio, porém os irmãos "Xavante e Xavantinho" continuaram a se apresentar, e concentraram seu trabalho entre o Triângulo Mineiro e a região Centro-Oeste do Brasil.

E, mais uma vez, tiveram que trocar de nome, pois havia aparecido um cantor de nome artístico Xavante, que formava um trio com Taquari e Otavinho e passara a exigir dinheiro para utilização do seu nome pela dupla "Xavante e Xavantinho". Desta vez então, os irmãos José e Ranulfo aproveitaram o nome do trio que haviam formado antes com Pinagi, o "Trio Pena Branca" e, a partir de então, José Ramiro passou a ser o Pena Branca, e Ranulfo, o Xavantinho, ficando a excelente dupla com o nome consagrado que chegou até nós, a despeito das descrenças do Coronel Hipopota que insistia em "Peroba e Jatobá" e afirmava também que com aquele "constante troca-troca" de nomes, a dupla não faria sucesso, embora soubessem cantar muito bem! Aliás, o nome definitivo da dupla nasceu já na Capital Paulista como será mencionado logo abaixo.

E na dupla, Xavantinho tocava o Violão enquanto seu irmão Pena Branca sempre foi o responsável pelo som da Viola Caipira.

E o destino parecia estar traçado: em 1968, Ramiro e um motorista da transportadora na qual trabalhavam tiveram que ir recuperar a carga de um caminhão que estava a caminho de São Paulo e que havia caído em uma ribanceira no canal de São Simão no Estado de Goiás. Ao término do trabalho, Xavantinho decidiu "pedir carona" e seguir junto com o caminhão usado no socorro, rumo à Paulicéia Desvairada, "apenas com a cara e a coragem" e a roupa suja de lama no corpo, sem sequer avisar previamente a família... E prometeu ao irmão Pena Branca: "Mano, um dia vou tirar você daí".

Na Capital Bandeirante continuou trabalhando na filial da mesma transportadora, onde foi promovido a entregador de encomendas. Prosseguia com os ensaios nas horas de folga. Algum tempo depois, Pena Branca também foi para junto do irmão, chamado por ele através de uma carta, e passou a trabalhar na mesma empresa de transporte como conferente de carga. Os dois moravam na pensão da Dona Judite no bairro do Canindé.

E começaram a se apresentar em São Paulo. Em 1969, integraram o grupo de músicos do "Rei do Laço", que era um clube de divulgação da Música Caipira, freqüentado por figuras importantes do meio, como os famosos e respeitados Tonico e Tinoco, e também a dupla, na época iniciante, Milionário e José Rico. Em 1970 conquistaram o quarto lugar num festival promovido pela Rádio Cometa e foram convidados a participar da gravação de um compacto, com a música vitoriosa, "Saudade". Foi inclusive na hora de receber esse prêmio que apareceu o cantor de nome artístico Xavante, já mencionado acima, que quis inclusive "vender o nome" para José e Ranulfo que não quiseram. Subiram então no palco e anunciaram que, a partir daquele instante, eles eram "Pena Branca e Xavantinho"!

Em 1975, passaram a integrar a Orquestra "Coração de Viola", em Guarulhos. Inezita Barroso, num belo dia, estava ensaiando com essa orquestra e percebeu o potencial de Pena Branca e Xavantinho: "Meninos, vocês têm um grande futuro, mas vocês só acontecerão se saírem daqui". Também a dupla Coração do Brasil, Tonico e Tinoco, foi fazer um show em Barretos-SP e eles perceberam o valor de José e Ranulfo: "Queremos esses dois meninos com a gente". No mesmo ano ainda, "Pena Branca e Xavantinho" foram contratados para se apresentar na Basílica de Aparecida do Norte-SP, nos finais de semana, num coreto montado junto à ferrovia. Os shows eram produzidos por Roberto de Oliveira, irmão de Renato Teixeira.

Em 1979, o mesmo Empresário Roberto de Oliveira, da gravadora WEA, procurava talentos para integrar o projeto do Selo Rodeio, um selo específico para músicas regionais. E veio o convite para um teste de estúdio após uma apresentação da dupla em Aparecida do Norte-SP. Houve, porém um desencontro e quando chegaram ao estúdio, foram informados de que Roberto havia viajado a negócios. O funcionário que os atendeu recebeu muito negativamente a música "Que Terreiro É Esse?" e detestou mais ainda as outras músicas que eles apresentaram. Nada foi feito e o funcionário aconselhou aos dois irmãos que "...pegassem a Viola e fossem prá casa ensaiar outras coisas, mudar o repertório...".

No ano seguinte, em 1980, seguiram o conselho de Roberto de Oliveira e se increveram no festival MPB Shell daquele ano, com a música "Que Terreiro É Esse?", a mesma que havia sido ridicularizada pelo funcionário da WEA. Na apresentação, no Maracanãzinho no Rio de Janeiro-RJ, interpretaram a música acompanhados de 16 Violeiros da Orquestra de Guarulhos mais um grupo de percussionistas. A platéia acompanhou com palmas, e a música foi classificada para as finais. Durante o festival, conheceram Renato Teixeira, Almir Sater, Diana Pequeno, e muitas outras "feras da MPB" com as quais criariam laços permanentes e importantíssimos.

Roberto de Oliveira, por outro lado, ficou surpreso quando soube da recusa do funcionário da gravadora, que, de acordo com o Empresário, teria sido um total descumprimento de suas orientações. E, para "reparar o incidente" o mais rápido possível, providenciou o lançamento do primeiro LP de Pena Branca e Xavantinho: "Velha Morada", incluindo a música que havia sido refugada: "Que Terreiro É Esse?". No entanto, foi outra música a que mais chamou a atenção da crítica e do meio musical: o célebre "Cio da Terra" de Chico Buarque e Milton Nascimento.

E a iniciativa para esse "Casamento Harmonioso" partiu de Xavantinho: ele gostava do "Cio da Terra" de Chico e Milton e insistia que a música podia ser gravada em dueto, com as vozes terçadas. Para Pena Branca foi difícil "encontrar a segunda voz", mas o resultado valeu a pena: o "casamento" foi finalmente consagrado! Renato Teixeira já havia iniciado o "casamento" entre a MPB Urbana e a Música Caipira; Pena Branca e Xavantinho consagraram este casamento, seduzindo um "público da cidade grande" a um novo estilo na MPB e mostrando também ao interiorano "novos filões". Bom para ambas as partes...

E começaram os convites para programas de TV. O primeiro veio de Rolando Boldrin, que chamou os irmãos do Triângulo Mineiro para a estréia do inesquecível Programa "Som Brasil" na Rede Globo em 1981. Rolando Boldrin tinha conseguido localizar José e Ranulfo num "quarto e cozinha" em Guarulhos-SP.

No mesmo programa, juntamente com o próprio Milton Nascimento, cantaram "Cio da Terra". "Naquele dia ficamos muito nervosos, mas deu pra agüentar durante a gravação, só depois, no camarim, é que a gente não agüentou a emoção e começou a chorar...".

Em 1982, gravaram o segundo disco, "Uma Dupla Brasileira", o qual foi produzido por Rolando Boldrin, conforme já mencionado na página dedicada ao "cantadô". E começaram a viajar pelo Brasil, dentro do projeto "Som do Brasil". Durante este período, assimilaram também novos ritmos, incorporando-os ao seu estilo musical. Para nossa felicidade, esse LP foi remasterizado em CD e se encontra disponível!


Nesse ano cantaram juntamente com Milton Nascimento, no show "Trinta Anos da Anistia Internacional", em Curitiba-PR, realizado na famosa pedreira Paulo Leminski, famosíssima pela sua "acústica natural" e que reuniu vários artistas a fim de angariar fundos para a entidade. Na mesma "pedreira" também já se apresentaram outros músicos mundialmente consagrados, como por exemplo, o Tenor Catalão José Carreras!

O terceiro disco, "Cio da Terra", só veio cinco anos depois, em 1987, na Continental, e desta vez, "derrubando todas as barreiras" entre Música Caipira e Urbana", consagrando o "Harmonioso Casamento de Estilos" de nossa Boa Música Brasileira. Gravaram Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Tavinho Moura e Wagner Tiso, sempre com versões inovadoras. Durante as gravações, em Belo Horizonte-MG, Milton Nascimento falou aos irmãos: "Vamos fazer Cio da Terra". E Xavantinho relembrou:

"Eu não acreditava que o Milton ia cantar com a gente. Eu falava… "ai, meu Deus do céu…". Depois eu fiquei com medo porque ele ficou de colocar a voz e nós viemos embora. Eu achava que eles iam tirar a voz; que eles iam achar alguma coisa errada e iam tirar a voz do Milton. Mas não, a coisa se multiplicou - pois daí entrou o Marcus Viana tocando, mais o pessoal do "Clube da Esquina". O Tavinho Moura entrou também, com a música "Peixinhos do Mar"… Depois essa fita veio para a Continental e saiu o disco. Esse disco é o nosso passaporte, é o nosso cavalo de batalha. Cada dia que a gente canta Cio da Terra ele brilha mais!".

A consagração estava acontecendo! E nada melhor do que um Encontro entre os Mineiros!! O Mineiro de Três Pontas e os Irmãos do Triângulo Mineiro, juntamente com o já consagrado "Clube da Esquina" (é certo que Milton Nascimento nasceu na Cidade Maravilhosa, mas foi adotado com bem poucos dias de vida e levado pelos pais adotivos do Rio de Janeiro para Três Pontas-MG, onde o "Bituca" viveu sua infância, juventude e adolescência: Mineiro de Coração, Uai, sô!). E, Pena Branca, é Paulista, mas, não há dúvida que tem também um Coração Mineiro, do Triângulo!!

Pena Branca & Xavantinho, no entanto, continuavam (e continuam!!) não tendo a divulgação de seu trabalho, no Brasil, na intensidade com que sempre mereceram, talvez por "não se adequarem ao padrão moderno, imposto pela mídia e pela gravadoras", à "música sertaneja". Mas quem ouve seus CDs, ou pelo menos teve a oportunidade de vê-los (como na apresentação que fizeram no programa da TV Cultura, "Bem Brasil" e também no programa "Ensaio" na mesma maravilhosa TV Cultura), não consegue deixar de considerá-los, uma das melhores Duplas Caipiras de todos os tempos, equiparável à Tonico e Tinoco, Liu e Léu ou Raul Torres e Florêncio. Como bem disse Inezita Barroso: "eles fazem Música Caipira e não música sertaneja".

E em 1988, o LP e CD "Canto Violeiro", contou com a participação de Fagner, Tião Carreiro, Almir Sater e Oswaldinho do Acordeon. "Penas do Tiê" (folclore com adaptação de Fagner) e "Calix Bento" (folclore adaptado por Tavinho Moura), presentes nesse CD, harmonizaram ainda mais o "casamento" da Música Urbana com a Música Caipira, que já havia sido celebrado com o "Cio da Terra". "Eu, A Viola e Deus", de Rolando Boldrin também faz parte desse CD.

O disco seguinte, "Cantadô de Mundo Afora", conquistou o prêmio Sharp de 1990 como sendo melhor disco, melhor dupla e melhor música ("Casa de Barro" de Xavantinho e Moniz).

Em 1992, novo prêmio Sharp de melhor disco, conquistaram desta vez com o CD "Ao Vivo em Tatuí", juntamente com Renato Teixeira, e que foi produzido por Mário de Aratanha e Leo Stinghen; também conquistou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na categoria de melhor disco. E, com este excelente trabalho, conquistariam em 1999, seu primeiro Disco de Ouro, recebido no programa "Viola, Minha Viola", apresentado na TV Cultura de São Paulo pela Inezita Barroso.

"Violas e Canções" foi lançado em 1993, com Toadas, Batuques e Folias de Reis, e uma versão de "O Ciúme", de Caetano Veloso, selando mais uma vez o "casamento" de estilos em nossa Boa Música Brasileira. Também estão nesse CD excelentes gravações de "Viola Quebrada" (Mário de Andrade), "Uirapuru" (Murilo Latini - Jacobina) e "Triste Berrante" (Adauto Santos). Eu, particularmente, considero esse o melhor disco lançado pela Dupla do Triângulo Mineiro. E nesse mesmo ano a dupla também se apresentou nos Estados Unidos, realizando shows em New York, New Jersey, Pompano Beach, Miami e Boston.


Em 1995 "Ribeirão Encheu", produzido por Tavinho Moura e Geraldo Vianna. E, em 1996 "Pingo D’Água", produção e direção musical de Kapenga Ventura, com vários sucessos tradicionais do gênero Caipira Raiz.

Em maio de 1997 conquistam novo prêmio Sharp na categoria melhor dupla sertaneja, tendo concorrido com Chitãozinho e Xororó e João Mulato e Pardinho. O último trabalho discográfico da dupla foi o CD "Coração Matuto", lançado em 1998, novamente produção e arranjos por Kapenga Ventura. No repertório estão "Planeta Água", de Guilherme Arantes, e também "Lambada de Serpente", de Cacaso e Djavan. E, mais uma vez a participação de Milton Nascimento, desta vez em "Morro Velho". A própria dupla considera este CD como o melhor trabalho por eles realizado.


Zé Mulato e Cassiano

No ano de 1972, a dupla: Zé Venâncio e Saulino contratada para uma apresentação em praça pública, inauguração de uma farmácia, "Farmácia Nici" em Ceilândia - Brasília em pleno desenrolar do espetáculo, surge lá do meio daqueles maravilhosos candangos, dois jovens simples, simpáticos e porque não dizer bastante desavergonhados. Um deles, o mais altinho, na maior cara-de-pau, chegou para os titulares daquele show e disse: "eu e meu irmão gostamos de bater um violinha, quem sabe "voceis" deixa nós cantar uma moda no show doceis, nós nunca cantamos assim pra tanta gente".
Pedido aceito, os rapazes fizeram a abertura da festa e foram muito aplaudidos pelo público. Segundo os próprios José das Dores Fernandes e João Monteiro da Costa Neto, começava naquele show de Zé Venâncio e Saulino, (dupla hoje desfeita) a trajetória artística desses dois monstros sagrados da música caipira: Zé Mulato e Cassiano que o Brasil aplaude e respeita, não só pela bela afinada interpretação, como também pela poesia que Zé Mulato extrai do mundo que nos cerca, explorando temas dos mais simples, por vezes, irônicos e críticos, aos temas mais profundos e ligados à reflexão da complexa existência humana.

UM PADRINHO POR NOME DE CARREIRINHO


Em 1978 Carreirinho encantado com a semelhança de interpretação de Zé Mulato e Cassiano com Zé Carreiro e Carreirinho, não resistiu e os levou para São Paulo, e assim aconteceu o primeiro disco da dupla intitulado, (Recordando Zé Carreiro e Carreirinho), com repertório todo da dupla imitada, com produção do próprio Carreirinho. Zé Mulato e Cassiano vem crescendo no conceito dos amantes da música caipira, a cada trabalho a dupla se realiza, seja no disco ou em suas apresentações por esse Brasil afora. Em 1998 com o seu 7º disco eles conquistaram o Prêmio Sharp, um dos mais valorizados... ou melhor o mais valorizado do nosso País. A música com a qual eles ganharam o Sharp de Melhor Interpretação, foi a página: Meu Céu, que dá nome a um belíssimo álbum. O 8º trabalho da dupla que se intitula: "Navegante das Gerais" que já se notabilizou como outro grande sucesso. Zé Mulato e Cassiano é sem sombra de dúvida a mais autêntica dupla caipira do Brasil, que formam a dupla 3 em 1, por que? Porque conseguiram agregar, o romantismo de Zé Carreiro e Carreirinho, a viola de Tião Carreiro e Pardinho é sátira de Alvarenga e Ranchinho e Jararaca e Ratinho.
Merece destaque aqui a figura do compositor Zé Mulato, poeta de talento ímpar, que consegue como poucos, nos dias de hoje, verbalizar os verdadeiros anseios, sentimentos, alegrias, críticas, tristezas e verdades de um mundo distante, de um mundo caipira. Zé Mulato é hoje, sem dúvida alguma, um dos maiores compositores da música caipira, na atualidade. Vale lembrar que, Zé Mulato, teve em Xavantinho um parceiro fiel e de igual talento para a recriação do universo que sustenta o nosso rico e inesgotável mundo caipira.

*Informações coletadas no site Boa Musica Brasileira

quinta-feira, setembro 21, 2006

Web Radio Viola Enluarada

Bom dia Cumpadres e Cumadres

Está em fase de teste mas acho que agora acertei a mão... está quase pronta... gostaria que me ajudassem com o teste por favor deêm um click no link abaixo
Radio Viola Enluarada e depois me retornem
valeu cumpadres e cumadres

Mais um pouco da historia da musica caipira parte 3

Dando continuidade, estou postanto a 3ª parte da historia da musica caipira, lembrando que estes dados foram coletados no site Viola Tropeira

Lourival dos Santos Lourival dos Santos nasceu em Guaratinguetá em 11 de agosto de 1917 e faleceu em Guarulhos, SP, em 19 de maio de 1997. Como aconteceu com os demais compositores ilustres da música sertaneja, a sua morte não ganhou espaço algum na imprensa, apesar de suas mais de 1.000 músicas já gravadas.
Nascido em Guaratinguetá, interior de São Paulo, como já falamos, Lourival dos Santos faz curiosas revelações: "Morando ali, quase dentro do Rio Paraíba, nunca tive qualquer inspiração. O que fez escrever Rio de Lágrimas foi uma música de Isaurinha Garcia, Marrequinha da Lagoa. Eu estava aqui em São Paulo. Aliás, sempre produzi em São Paulo. Talvez seja porque aqui a gente fica sentindo saudade do interior e aí a criação aparece. A saudade é a principal fonte de inspiração.
Ele sempre viveu de suas composições. "Não deu para ficar rico, mas, relativamente, vivo bem, com minha mulher Jandira, com quem me casei em 1950, depois de seis meses de namoro. Por sinal, a história de como ele a conheceu é outra das curiosidades da vida de Lourival dos Santos. "Eu era comprador de uma casa de espetáculo e liguei para uma lavanderia para reclamar de toalhas que não haviam chegado. Mas errei o número e tocou na casa dela. Foi o engano mais certeiro do mundo".
Jandira é irmã do dramaturgo Oduvaldo Vianna, que implantou as novelas no Rádio brasileiro. Assim, Lourival, que compõe desde a infância e teve sua primeira música gravada em 1938, pela Columbia, teve a oportunidade de ter suas músicas, cantadas por Lombari e Laranjinha, nos intervalos das novelas, na antiga Rádio São Paulo. Porém a sua glória como compositor viria bem mais tarde, com a dupla Jacó e Jacozinho , gravando seus primeiros pagodes e regravados por Tião Carreiro e Pardinho, e surgiu o sucesso Pagode em Brasília. Nesse mesmo ritmo, vieram a seguir Nove Nove, Em Tempo de Avanço, A Viola e o Violeiro, Boiadeiro de Palavra e várias outras composições imortais.

Criadores do Pagode - "Tedy Vieira e Carreirinho tinham gravado um recortado intitulado Pagode. A chibata era um ritmo já tocado e gravado, que faz o recortado da viola, soma.do a batida seca do violão de Pardinho É verdade, mesmo. Aí, as festas que se fazia por aqui também começaram a ser chamadas de pagode. Foi então que Tião Carreiro e eu resolvemos dar esse nome para um ritmo, em que a viola bate desencontrada do violão. Nesse estilo, a gente faz quatro versos, em que quase sempre o poeta vai sofrendo, e depois vem desenrolando, concluindo a história".
Lourival dos Santos não cantava. Muitas vezes ele compunha letra e música, mas sempre entregava para Tião Carreiro "dar uma guaribada". Assim se estabeleceu a parceria. São vários os parceiros, entre os mais ilustres, o próprio Tião, Tedy Vieira e Piraci.
"Passei a infância ouvindo a 1ª geração da música sertaneja: Cornélio Pires, Capitão Furtado, entre outros. Eles são o facão, a enxada e a foice que abriu a picada. Depois veio a 2ª geração, com Raul Torres, Serrinha, Tedy Vieira, Florêncio, Nhá Zefa, Lambari e Laranjinha, Tonico e Tinoco, João Pacífico e Zé Fortuna. Minhas primeiras gravações foram com artistas dessa geração. Depois veio a 3ª, com Tião Carreiro e Pardinho, Vieira e Vieirinha, Lio e Leo, Lourenço e Lourival, Pedro Bento e Zé da Estrada. Também com eles eu gravei. E minhas composições fazem parte também da 4ª geração, que tem Irídio e Irineu e Gilberto e Gilmar, entre tantos outros."
A música sertaneja não tinha segredos para Lourival dos Santos: "A gente compõe tanto cururu, quanto qualquer outro ritmo sertanejo. ".
Cada uma das mais de 1.000 composições de Lourival dos Santos tem uma história. Algumas alegres, feitas durante uma folia em roda de amigos, outras tristes, como é o caso de A vaca já vai pro brejo: É uma história verídica. Aconteceu com um grande amigo meu e um dos maiores nomes da música sertaneja. Ele fez tanto sacrifício para criar a filha! Tinha sangue do tipo universal e vendia para comprar cimento, areia e tijolos para construir a casinha que seria deixada para ela. A moça nunca trabalhou e estudou Medicina. No dia em que se formou, disse pro pai que ia embora de casa. Como ia poder apresentar para seus amigos médicos o pai, compositor de música caipira? Ele ficou tão desgostoso que acabou morrendo".

Dino Franco

(Oswaldo Franco) :- Nasceu em 1936, em Paranapanema, SP. Inicia-se ainda jovem na carreira artística . Em 1950 transfere-se pra São Paulo época em que começa a se apresentar no Arraial da Curva Torta do Imortal Cap. Furtado. Em São Paulo cantou com vários parceiros usando também diversos nomes artísticos. Somente em 1968 adotou definitivamente o pseudônimo de Dino Franco . Fez grande sucesso com a dupla Biá e Dino Franco e mais tarde com Dino Franco e Mouraí. Destaca-se como excelente compositor , especialmente com o ritmo moda de viola. Entre as suas composições mias conhecidas podemos destacar Travessia do Araguaia , Um Pouco da Minha Viola, Caboclo na Cidade e Linha Reta.


Tião Carreiro e Pardinho


José Dias Nunes , o Tião Carreiro , nasceu em montes Claros, Minas Gerais . Ele , que sempre cantou em dupla, no começo da carreira se chamava Zezinho e tinha como parceiro Lenço Verde. Mas a combinação dos dois não deu certo e logo, Zezinho virou Palmeira, cantando com Palmeirinha. Essa nova parceria fez um relativo sucesso. Mas , até que surgisse o nosso Tião Carreiro , ele ainda gravou com o nome de Zé Mineiro.

Antonio Henrique de Lima , o Pardinho , é paulista de São Carlos . Começou cantando com o nome de Miranda e formou uma dupla com Zé Carreiro ( da dupla Zé Carreiro e Carreirinho) em 1956, para concorrerem juntos a um concurso lançado pela rádio Tupi, para violeiros. Fizeram sucesso: a dupla ganhou o prêmio com o cururu “Canoeiro”. E foi a partir daí que Antonio Henrique Lima adotou o pseudônimo de Pardinho e começou a criar seus próprios sucessos (“Boiadeiro Feliz” , é deste tempo)

Como surgiu Tião e Pardinho
O compositor Teddy Vieira, diretor da antiga Columbia, andava atrás de um nome para substituir o famosa Zé Carreiro. Foi aí que surgiu a oportunidade para José Dias Nunes ser transformado em Tião Carreiro e , ao lado de Pardinho, formar esta dupla de tanto sucesso.

O primeiro sucesso destes dois cantores foi “Cavaleiros do Bom Jesus” , de João Alves e Nhô Silva. Depois foi a vez de “ Boiadeiro Punho de Aço” , de Teddy Vieira e Pereira . E na Chantecler eles gravaram vários LPs, entre eles , em 1968, “Tempo de Avanço”, onde , na música “ A Beleza do Ponteio”, encontramos uma biografia em versos de Tião Carreiro, de autoria do saudoso Capitão Furtado.

Em 1970 estreavam no cinema : apareceram no filme Sertão em Festa , de Oswaldo de Oliveira , cantando músicas já gravadas pela Chantecler (“Caboclinha Malvada”, de Serrinha; “Mestre Carreiro”, de Raul Torres; “Oi, vida Minha”, de Cornélio Pires: e “Pagode”, dos próprios intérpretes) .

Mas a verdadeira consagração aconteceu com LP “A Força do Perdão”. É neste disco que a dupla gravou a inesquecível “Rio de Lágrimas”, também conhecida como “Rio de Piracicaba”, música de Piraci , Lourival dos Santos e Tião Carreiro.

Quando tudo ia muito bem, Pardinho (que começou sua carreira no circo Rapa Rapa) desfez a parceria de mais de 20 anos com Tião Carreiro para formar nova dupla : Pardinho e Pardal. E nem se pode dizer que foi um mau negócio : a nova dupla conseguiu transformar a cidade de Maracaí , um lugarejo de 10 mil pessoas , no interior de São Paulo num ponto de romeiros.É que em função da músicas “O menino de Tábua”, “Os Milagres do Menino de Tábua” e “Capela do Menino de Tábua”, milhares de fiéis passaram a procurar a cidadezinha nos fim de semana em busca do menino milagroso. Mas , apesar deste relativo sucesso, Pardinho resolveu recomeçar ao lado do velho parceiro...No ano de 1982 eles gravaram um LP para marcar o reencontro da dupla.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Mais um pouco da historia da musica caipira parte 2

* O Sucesso Começou Com Estas Duplas

Tonico e Tinoco

Dupla sertaneja formada por João Salvador Perez, o "Tonico" (São Manuel-SP,em 02 de março de 1917) e José Perez, o "Tinoco" (nascido em uma fazenda de Botucatu - SP, que hoje pertence ao município de Pratânia, em 19 de novembro de 1920).

Em 1930, quando a família Perez trabalhava na fazenda Tavares, em Botucatu, os dois irmãos ouviram discos da série caipira de Cornélio Pires; João frequentava a escola rural e dava lições para os colonos mais velhos.Dos amigos cobrava um litro de querosene por mês (para manter os lampiões da sala de aula), mas dificilmente recebia alguma ajuda.

José,o mais levado, gostava de caçar passarinhos com arapucas(depois os soltava), de brincar com amigos do arraial e aos sábados vestia-se de coroinha para ajudar a celebração da Missa. Após a cerimônia acompanhava o Padre nas refeições, e voltava para casa levando alimento para os irmãos.

O gosto pela cantoria veio dos avós maternos Olegário e Izabel, que alegravam a colônia com suas canções, ao som de uma antiga sanfona. A primeira música que aprenderam foi Tristeza do Jéca em 1925. Em 15 de agosto de 1935 fizeram a primeira apresentação profissional. Cantaram na Festa da Aparecidinha/São Manuel, em uma quermesse. Junto com o primo Miguel, formavam o "Trio da Roça".

Em 1931, Tonico e Tinoco moravam em Botucatu (SP), na fazenda Vargem Grande, de Petraca Bacci, com os pais, Salvador Perez - um espanhol de Léon, na Astúrias espanhola, chegado ao Brasil criança, em 1892 e Maria do Carmo, uma brasileira descendente de negros com bugres. A exemplo de outras crianças da época, os dois garotos, mal aprenderam a falar, já eram cantadores das modas de viola. Aprendiam as letras com Virgílio de Souza, violeiro das redondezas.

Tonico e Tinoco participavam das primeiras serenatas, alegravam festas e bailes de São João. Nas colônias enfeitadas de bandeirinhas, comiam batata-doce assada na brasa, pamonha, milho verde e bebiam quentão. "Os rapazes trabalhavam o ano inteiro para fazer bonito nos bailes, junto às caboclinhas", conta Tinoco. "Nós lá de calça cumprida, camisa xadrez e as botas penduradas nas costas para não estragar o solado. As meninas com seus vestidos de chita dançavam de pés descalços e com uma flor no cabelo cheirando a gostosa." A esperança dos moços e das moças era arrumar um namoro. Foi num desses bailes que Tonico conheceu e apaixonou-se por Zula, filha do administrador da fazenda, Antônio Vani. O pai proibiu o namoro e magoado, Tonico compôs Cabocla.

Naqueles anos 30 só existiam 65 emissoras de rádio e 30 mi1 aparelhos receptores em todo o país, para uma população de 35 milhões de pessoas. Como não havia rádio na região, o conjunto ficou famoso. Mas Tonico e Tinoco só cantavam em dupla nas horas vagas ou nas folgas do trabalho, quando a turma parava para tomar café. Cantavam as modas de viola de Jorginho do Sertão, um autor imaginário, que utilizavam para assinar suas canções, que falava da crise no país com as revoluções de 1930 e 1932.

No fim do ano agrícola de 1937, os Pérez decidiram, com outras famílias, tentar a vida na cidade de Sorocaba (SP). As irmãs Antonia, Rosalina e Aparecida foram trabalhar na fábrica de tecidos Santa Maria. Tonico foi ser servente na Pedreira Santa Helena, fábrica do cimento Votorantim. Tinoco virou engraxate na Estação Sorocabana e

Chiquinho engajou-se na construção da Rodovia Raposo Tavares, que liga o sul de São Paulo ao Mato Grosso do Sul. A crise econômica do país chega ao auge. Getúlio Vargas implanta a ditadura do Estado Novo. Adolf Hitler invade e ocupa a Tchecoslováquia e depois a Polônia. Começa a Segunda Guerra Mundial.

A vida em Sorocaba fica insuportável, nada dá certo para os Pérez e eles decidem retornar ao campo, agora para a fazenda São João Sintra, em São Manoel (SP). A volta, contudo, possibilitou aos irmãos Perez a primeira chance de cantar numa Rádio. O administrador da fazenda, José Augusto Barros, levou-os para cantar na Rádio Clube de São Manoel - ainda hoje lá, na rua Coronel Rodrigues Alves, no centro da cidade. Assim, até o final de 1940, eles ficam trabalhando na roça durante a semana e aos domingos cantam na emissora da cidade. Só por amor à arte, sem ganhar. As dificuldades levaram os Pérez a uma derradeira migração.

Em janeiro de 1941 chegam, de mala e cuia - quatro sacos com os trens de cozinha e duas trouxas de roupa - a São Paulo. À falta de profissão, as meninas foram trabalhar em casa de família, Tinoco num depósito de ferro-velho, Chiquinho na metalúrgica São Nicolau e Tonico, sem outra alternativa, comprou uma enxada e foi ser diarista nas chácaras do bairro de Santo Amaro. Os tempos duros da cidade grande tinham lá sua compensação, principalmente nos domingos, quando a família ia ao circo, na rua Lins de Vasconcelos no então pacato bairro do Cambuci. Num desses espetáculos, os manos conheceram pessoalmente Raul Torres e Florêncio, a dupla de violeiros mais famosa de São Paulo e que depois,com Rielli na sanfona, formaram na Rádio Record o famoso trio "Os Três Batutas do Sertão.A Rádio Record era do doutor Paulo Machado de Carvalho, que seria chamado "Marechal da Vitória" quando chefiou as seleções brasileiras de futebol campeãs do mundo em 1958 e 19ó2. Depois conheceram Teddy Vieira - um paulista de Itapetininga que produziu um formidável acervo de 500 músicas sertanejas da melhor qualidade - Palmeira e Piraci, artistas exclusivos da Rádio Difusora, no programa "Arraial da Curva Torta", Zé Carreiro e Carreirinho,os quais surgiram em 1950, por intermédio de Tonico e Tinoco que queriam gravar a moda "Canoeiro" deles e os quatro fizeram um acordo: deixariam Tonico e Tinoco gravar a moda se os mesmos arrumassem um contrato na gravadora para eles gravarem também; existiam no país 76 emissoras de rádio e mais de 1,5 milhão de aparelhos receptores. Era ao redor desses aparelhos que o país todo se debruçava para acompanhar nervosamente o noticiário da guerra pelo Repórter Esso. Anunciado como "testemunha ocular da História", esse noticioso foi o primeiro radiojornal a utilizar técnicas modernas no país e era transmitido pelas rádios Nacional (Rio) e Record (SãoPaulo).

Em São Paulo, inscreveram-se no programa de calouros comandado por Chico Carretel (Durvalino Peluzo), na Rádio Emissora de Piratininga.

O capitão Furtado, que estava sem violeiro em seu programa Arraial da Curva Torta, na Rádio Difusora, promoveu então concurso para preencher a vaga: os dois irmãos, formando a dupla "Irmãos Perez", cantaram o cateretê "Tudo tem no sertão" (Tonico). Classificados para a final, interpretaram de Raul Torres e Cornélio Pires, (esse último um radialista e pesquisador que foi pioneiro no estudo da vida sertaneja, especialmente a paulista, e que deixou uma extensa obra a respeito.) "Adeus Campina da Serra". Quando terminaram, o auditório aplaudiu de pé, em meio a lágrimas. Todos pediam bis àquela dupla que cantava diferente, com afinação, fino e alto. Todos os outros violeiros foram abraçá-los. O cronômetro marcava 190 segundos de aplausos, contra apenas 90 segundos da dupla segundo colocada.
Outra citação importante é que tomaram parte desse concurso junto com os Irmãos Perez, duplas profissionais, conhecidas do Rádio como Nhô Nardo e Cunha Junior, Serra Morena e Cafezal, mas o primeiro lugar estava reservado para nossa querida dupla.

No dia seguinte o Trio da Roça estava contratado pela Rádio Difusora, que naquele período havia sido comprada pela Tupi, parte de ofensiva do jornalista Assis Chateaubriand para formar uma poderosa rede de veículos de comunicação - os Diários e Emissoras Associados. Três meses depois o contrato foi renovado por dois anos e o salário foi acertado em cruzeiros, a nova moeda que aposentara os réis. Eram 1.200,00 uma fortuna, comparado ao salário mínimo, da época, de 280,00. Já sem o primo Miguel, eles eram apenas os irmãos Pérez. Um dia, durante um ensaio do programa Arraial da Curva Torta, o Capitão Furtado - de batismo Arioswaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires , apresentador do programa e também lendário divulgador da música sertaneja - disse que uma dupla tão original, com vozes gêmeas, não poderia ter nome espanhol. Batizou-os, na hora, de Tonico e Tinoco.
A divulgação nos programas da rádio transformava a dupla em sucesso imediato, fazendo surgir dezenas de convites para shows. A primeira apresentação dessas foi no cine Catumbi, em São Paulo, hoje transformado em uma casa de forró sertanejo. Depois rumaram para o interior, em excursões que demoravam uma, duas, às vezes, três semanas. Entravam pelo interior paulista de Taquaritinga, Santa Adélia e seguiam de trem por toda a linha araraquarense. Na Mogiana, passavam por Brodosqui, Franca e terminavam em Ribeirão Preto. Apresentavam-se em cinemas, clubes e até em pátios vazios de armazéns. Quando terminaram a primeira excursão, no Circo Biriba, em Ribeirão Preto, fizeram a partilha do lucro: quatro mil e quinhentos cruzeiros para cada um.

A dupla estreou em disco, na Continental, em 1944, com o cateretê "Em vez de me agradecê" (Capitão Furtado, Jaime Martins e Aimoré)e que foi lançada em 07/45). Na gravação de "Invés de me Agardecê" ocorreu um fato inusitado, pois eles a gravaram e em seguida, quando foram gravar o lado B do disco soltaram a voz tão alto, da forma como cantavam lá na roça e estouraram o microfone . Como o processo de gravação era algo muito caro, o disco saiu apenas com um lado, mas como punição a dupla precisou ficar seis meses fazendo aula de canto para educar a voz e voltar a gravar. Por isso que o lançamento do primeiro 78 rpm para o segundo é curto pois eles gravaram a primeira moda ainda em 1944. Bem sucedida com essa gravação, que serviu de teste, gravou seu primeiro disco completo, a moda-de-viola "Sertão do Laranjinha", motivo popular adaptado pela dupla e Capitão Furtado, e "Percorrendo o meu Brasil" (com João Merlini), que foi sucesso imediato. No ano seguinte (1946)o sucesso definitivamente chegou com "Chico Mineiro" (Tonico/Francisco Ribeiro). Com o sucesso de Chico Mineiro a dupla consagrou-se definitivamente e tornou-se a dupla sertaneja mais famosa do Brasil. Uma curiosidade: quando Tonico e Tinoco foram gravar Chico Mineiro a gravadora havia informado que esse seria o último disco da dupla, pois eles já haviam gravado 5 discos e existia sempre uma reclamação dos ouvintes com relação a dupla, alegavam que não era possível entender a pronuncia deles nas letras das músicas, os fãs não entendiam o que eles estavam dizendo, aí surgiu Chico Mineiro e tudo mudou, inclusive com o dinheiro que eles ganharam com essa música conseguiram comprar sua 1ª casa para viver com a família. Desde então, tornou-se a dupla sertaneja mais famosa do país.

Ao final da Segunda Guerra, o número de emissoras de rádio saltou para 117, e os aparelhos receptores eram 3 milhões. Tonico e Tinoco estão agora na Rádio Nacional de São Paulo onde nasceu um de seus mais marcantes programas. Um dia, o auditório estava ocupado com um ensaio e como eles precisavam entrar no ar, puxaram os microfones para fora e fizeram a apresentação do corredor. O locutor Odilon Araújo perguntou de onde o programa estava sendo transmitido e Tinoco respondeu: "Da Beira da Tuia". O nome ficou. Com o término da guerra consolidou-se a influência cultural norte-americana em várias partes do planeta, no Brasil inclusive. As grandes orquestras pontificavam com o swing e sua versão mais dançável, o fox-trot. A parte brilhante do Brasil era o Rio de Janeiro, embora a pedra mais vistosa de sua coroa, o cassino da Urca, já não faiscasse mais, ofuscada pela proibição do jogo, em 1946.

Nos anos 40 na São Paulo provinciana ainda havia espaço, via ondas de rádio, para programas sertanejos de grande prestígio: "Manhã na Roça" de Chico Carretel, na Cruzeiro do Sul; "Arraial da Curva Torta" do Capitão Furtado, na Difusora e "Alma Cabocla" do Nhô Zé, na Nacional. Nos turbulentos anos 40 já existiam boas duplas e que dividiam popularidade com Tonico e Tinoco assim como, Raul Torres e Florêncio (1942), Serrinha e Caboclinho (1942), Alvarenga e Ranchinho (1934), Irmãs Castro (1948), Zé Fortuna, Pitangueira e Coqueirinho (1949), Sulino e Marrueiro (1949).

No início dos anos 50 a música sertaneja obteve sua época de ouro e Tonico e Tinoco continuavam absolutos. Programas famosos surgiram nessa década como: "Brasil Caboclo" do Capitão Barduíno, "Onde Canta o Sabiá" do Comendador Biguá e "Serra da Mantiqueira" com Zacarias Mourão na Bandeirantes. Quase todos os grandes nomes da música sertaneja surgiram nessa década: Zé Carreiro e Carreirinho (1950), Zico e Zeca (1952), Irmãs Galvão (1954), Tião Carreiro e Pardinho (1956), Liu e Léu (1957), Craveiro e Cravinho (1959) e muitas mais, mas sem dúvida nenhuma Tonico e Tinoco eram "Os Expoentes Máximos da Música Sertaneja". Apesar da popularidade o trabalho para dupla sertaneja era garantido, porém limitado aos circos somente. Felizmente nessa época apenas em São Paulo estavam baseados cerca de 200 circos que iam ao interior para apresentação dos ídolos sertanejos do rádio.

A dupla começou a acumular sucessos no longínquo 1946 com Chico Mineiro (Tonico/Francisco Ribeiro). Ainda na época do 78 rpm, na Continental, fizeram sucesso e imortalizaram páginas como “Boiadeiro do Norte” (Zulmiro) em 1951, “Fim de Baile” (Tonico/Zé Paioça) em 1954 e “Maldita Cachaça” (Tonico/Ana Maria Pereira/Capitão Furtado) em 1956. Em 1955 gravam de Mário Vieira com a participação especial de Araci de Almeida, os cateretês “Tô Chegando Agora” e Ingratidão.”

No ano de 1960 transferem-se para a Philips e permanecem lá até 1963 onde gravam “Canta Moçada” (Tonico/Nhô Fio), Boiada (Zé Paioça) e Moreninha Linda (Tonico/Priminho/Maninho) em 1960. “Morão da Porteira” (Raul Torres/João Pacífico) e “Chofer de Caminhão” (Tonico/Ado Benatti) são sucessos de 1962. No último ano na Philips lançam 02 LP´s e emplacam com “Gaúcho Alegre” (Tonico/Zé Carreiro).

Em 1961 estréiam no Cinema com o filme “Lá no Meu Sertão” de Eduardo Llorente, filme baseado na vida e obra de Tonico e Tinoco. No final de 1960 a dupla recebera um golpe quase mortal, quando Tonico, tuberculoso desde 1940, precisou ser internado num hospital em Campos do Jordão/SP, cedendo lugar para o irmão Chiquinho tanto nos shows, quanto nos programas de rádio e gravações de discos. Tonico fez uma cirurgia e um tempo depois deixou o hospital com a certeza que não voltaria mais a cantar. Tinoco, através da Rádio Nacional onde faziam o programa, pediu para os fãs rezarem pela saúde de Tonico, o qual ficou curado, e voltou a cantar com mais força e beleza. Em devoção a Nossa Senhora Aparecida, a quem a dupla atribuiu sua cura, construíram na Vila Diva em São Paulo/SP uma capelinha que recebe romeiros e devotos até hoje.

No ano de 1964, já com 20 anos de carreira, Tonico e Tinoco voltam para a Continental e lançam de sua autoria “Arrasta-pé na Tuia” e “Baianinha”. Nesse mesmo ano são contratados pela Chantecler onde permanecem até 1966 e lançam 05 LP´s destacando-se “Rei dos Pampas” (Raul Torres) e “Pinho Sofredor” (Fêgo Camargo/Capitão Furtado) em 1964. “Brasil Caboclo” (Tonico/Walter Amaral), “Beijinho Doce” (Nhô Pai) e “As Três Cuiabanas” (Zé Carreiro/Carreirinho ) são sucessos de 1965. Nesse mesmo ano filmam “Obrigado à Matar” de Eduardo Llorente, um filme baseado na lenda do Chico Mineiro. No ano de 1966 lançam “Adeus Mariana” (Pedro Raimundo), “Curitibana” (Tonico/Pirigoso) e “Artista de Circo” (Zé Tapera) com estrondoso sucesso.

Sempre com grande sucesso, no ano de 1967 são contratados com exclusividade pela RCA-Victor já de imediato “estourando” com “Viola Cabocla” (Tonico/Piraci). Ficaram nessa gravadora apenas dois anos: 1967 e 1968. Apesar de pouco tempo na RCA-Victor, fizeram sucesso com “Seresteiro do Sertão” (Tonico/Garrafinha) em 1967. Já em 1968 gravaram “Querer Bem” (Irmãos Motta), “Pé da Letra” (Tonico/Augusto Autran), “Carreiro Triste” (Tonico/Bolinha), “Canoeiro do Mar” (Tonico/Alencar) e “Presépio” (Tonico), assim foi sua memorável passagem pela etiqueta do cachorrinho, onde suas músicas são relançadas e permanecem em catálogo até hoje.

Ano de 1969, novas mudanças na carreira de Tonico e Tinoco, eles estréiam na Rádio Bandeirantes onde permanecem até 1983. Voltam a pertencer ao Cast da Continental, gravam 04 Lp´s nesse ano, dois deles em comemoração ao aniversário de carreira da dupla: “26 Anos de Glória” gravado no Teatro da Rádio Bandeirantes com a apresentação do Carlito e “27 Anos” onde gravam antigos sucessos imortalizados nas vozes de grandes intérpretes, tais como, “Maringá” (Joubert de Carvalho), “Chuá, Chuá” (Pedro de Sá Pereira/Ary Pavão), “Luar do Sertão” (Catulo da Paixão Cearense).
No cinema, em 1969, fizeram “A Marca da Ferradura” de Nelson Teixeira Mendes.

Raul Torres e Florêncio foram desde 1942 ídolos da música caipira, os próprios Tonico e Tinoco se espelharam na dupla no início da carreira. Raul Torres (Vide Link Compositores) ao lado de João Pacífico foram uma das maiores duplas de compositores que já existiram no gênero caipira. Em 1970 Tonico e Tinoco resolvem lançar um LP intitulado “Recordando Raul Torres” em homenagem a esse grande ídolo. Conseguiram a autorização para gravar as músicas, entre elas, “Moda da Mula Preta”, “Pingo d´Agua” e “Chico Mulato” (Raul Torres/João Pacífico), mas infelizmente Raul Torres não chegou a ouvir as gravações, tendo falecido dois meses antes.

Em 1971 lançaram “Chalana” (Mário Zan/Arlindo Pinto) e vários sucessos em homenagem ao Mato Grosso e ao Paraguai no LP “Laço de Amizade”. Gravaram em referência a famosa estrada do norte do Brasil, “Transamazônica” (Tonico/Caetano Erba) e em homenagem a sua terra natal, São Manoel/SP “Minha Terra, Minha Gente” (Tonico). Filmaram ainda nesse ano “Os Três Justiceiros” de Eduardo Llorente, uma espécie de bang-bang, sem muito sucesso.

Em 1972, já com um enorme prejuízo, filmam “Luar do Sertão” de Osvaldo de Oliveira e desistem da carreira de atores. Quase faliram nessa incursão pelo cinema. Mazzaropi fazia sucesso e fortuna pois produzia, distribuía e fiscalizava seus filmes, já Tonico e Tinoco sem condições de ter um fiscal na porta de cada cinema onde seus filmes eram exibidos, foram passados para trás, arcando com um prejuízo imenso.

Em 1979, precisamente no dia 6 de junho, Tonico e Tinoco fazem o que nenhum caipira havia sonhado: apresentam-se no Teatro Municipal, em São Paulo, num show de três horas que reúne um público recorde de 2.500 pessoas. Da beira da tuia, celeiros centenários onde cantavam no passado, os irmãos Perez chegavam a um dos mais famosos teatros do mundo, que até então só abria suas portas para óperas, balés e concertos eruditos.

Permaneceram na Continental até 1982, emplacando vários sucessos. Nesse ano resolvem ir para a Copacabana onde mudam seu repertório, passam a gravar músicas mais alegres, arrasta-pés divertidos e Nadir Perez, esposa de Tinoco passa a assinar várias músicas com a dupla. Gravam Loira, Loirinha (Tonico,Tinoco e Nadir), “Cidade Grande” (Pelé) em 1982 e “Baile na Roça” e “Viva a Viola” de Tinoco e Nadir em 1983. No ano de 1983 estréiam o programa “Na Beira da Tuia” na TV Bandeirantes e lançam o filme “O Menino Jornaleiro”, só que dessa vez como co-produtores.

Em 1984 participam do filme“A Marvada Carne” de André Klotzel, como convidados especiais e voltam para a Chantecler que nessa época já havia feito a fusão com a Continental e passaram a ser uma só, onde lançam Rei dos Boiadeiros (Tinoco/Nadir). Em 1987 é sucesso Festa na Roça (Tinoco/Nadir). No ano de 1988 gravam “Caipirinha do Arraiá” (Tinoco/Nadir).

Em 1989 voltam para a Copacabana e gravam “Mãe Natureza” (Tinoco/José Carlos). Nesse disco Tonico já se encontrava bastante debilitado mas continuava sua carreira maravilhosa. Em 1991 na RGE gravam “Juventude no Arrasta-pé” (Tinoco/Nadir).

No ano de 1994 na Polygram com a produção de José Homero e Chitãozinho gravam seu último trabalho, onde destaca-se “Coração do Brasil” (Joel Marques/Maracaí) com participação especial de Chitãozinho & Xororó e Sandy & Júnior, e “Chora Minha Viola” (Nilsen Ribeiro/Geraldo Meirelles).

Cantando em todos os canais de televisão de São Paulo, com programa exclusivo na TV Bandeirantes, a dupla excursionou pelos Estados do Centro e Sul do país. Vale citar que Tonico e Tinoco tinham uma aceitação fenomenal na região Sul do Brasil, uma região marcada pelo seu tradicionalismo mas que sempre teve as portas abertas para Tonico e Tinoco. A dupla por sua vez em todos Lp´s sempre homenageava a região Sul com músicas e o público lhe era fiel por isso. A viola e o violão deles sempre possuiu uma harmonia perfeita com a "Cordeona" dos gaúchos, catarinenses e paranaenses. Sempre preferiu, entretanto, as estações de rádio, onde atuou com programas exclusivos na Tupi, Nacional e Bandeirantes, de São Paulo.

Tonico faleceu em 13 de agosto de 1994 e a partir de então, sem arrefecer, Tinoco e Tinoquinho, continuam a nos encantar com suas modas inesquecíveis!

Vieira e Vierinha ( reis da catira )

Os dois irmãos foram também , os responsáveis pelo começo da carreira de outra dupla que hoje em dia é muito conhecida e apreciada: Vieira e Vierinha. A coisa aconteceu da seguinte forma : no ano de 1950 , Tonico e Tinoco estavam se apresentando na cidade de Itajobi(Sp), lá pelas bandas de Catanduva , e os melhores violeiros da região se reuniram para mostrar as suas habilidades na viola e no bate-pé .No meio de todos aqueles violeiros tinha dois irmãos de lá mesmo , Rubens e Rubião Vieira, que eram peões de boiadeiros.Os dois irmãos cantavam e tocavam modas de viola e o catira , um ritmo que exige muita perícia dos violeiros.

Tonico e Tinoco gostaram tanto dos irmãos Vieira que os incentivaram a cantar como profissionais. Assim , nesse mesmo ano de 1950, Rubens e Rubião Vieira, ou simplesmente Vieira e Vieirinha , gravaram um 78 rotações apresentando as músicas “Festa de Nova Londrina” e “ Canoeiro Morreu”, começando uma carreira de grandes sucessos,com mais de 30 Lps gravados.

Descendentes de uma tradicional família de violeiros, Vieira e Vierinha desde pequenos cantavam o repertório de Raul Torres, Serrinha, Lourenço e naturalmente, Tonico e Tinoco. Mas o ritmo que os tornou realmente conhecidos foi o Catira ou Cateretê.

Palmeira e Biá

Já que estamos falando dos anos 50 , lembram-se da famosa dupla Palmeira e Biá, que cantou durante oito anos ,de 52 a 60? Nesse ano , Biá , que era mineiro de Coromandel, passou a cantar com o irmão , Sílvio, formando outra dupla que ficou famosa: Biá e Biazinho, que gravaram o Lp “Relíquias Sertanejas”.

Cascatinha e Inhana

Agora, se a gente der uma recuada no tempo , dando um pulo lá pelos idos de 1942, vamos encontrar o começo de uma outra dupla sertaneja que todo mundo conhece , lembra e adora, embora ela já tenha acabado : Cascatinha e Inhana.

Cascatinha (Francisco dos Santos , nascido em Araraquara,SP) e Inhana(Ana Eufrosina da Silva, de Araras , SP)formaram dupla em 1942, quando se separaram do violeiro Chopp, com quem haviam formado o famoso Trio Esmeralda desde de 1940, ano em que Cascatinha e Inhana se casaram.O casal começou se apresentando em circos e parques de diversões . Em 47 Cascatinha e Inhana assinaram um contrato de um ano com a Rádio Clube de Bauru e nessa época ales cantavam muitas guarânias ao lado da música sertaneja. No ano seguinte , a dupla veio para São Paulo, onde começou a ficar realmente conhecida, chegando inclusive a participar do filme “Carnaval de Fogo”.

Os dois maiores sucessos de Cascatinha e Inhana , como vocês sabem muito bem , foram as guarânias “ Índia “ e “Meu Primeiro Amor”. Aliás , Índia foi , no duro , o primeiro grande sucesso da dupla , e isso aconteceu em 1951. Por fim , a famosa e querida dupla sertaneja Cascatinha e Inhana se desfez precisamente no dia 11 de Junho do ano de 1980, quando para desespero do próprio Cascatinha e de milhões de fãs, Ana Eufrosina da Silva Santos , Inhana , deu pro encerrada sua missão aqui na Terra e subiu para o céu . Permanecendo , porém viva na lembrança e nos corações de todos brasileiros


José Fortuna

Nasceu em Itápolis, SP, 1917.A sua primeira composição gravada foi Moda das Flores, em 1944. Em 1947 formou com seu irmão Euclides, a dupla Zé Fortuna e Pitangueira. Transferem-se pra São Paulo nesse mesmo ano e , no ano seguinte já cantavam na Rádio Record. A dupla inicia a partir de 1950 uma longa carreira de sucesso ao mesmo tempo em que Zé Fortuna ganha destaque como compositor através de belas guarânias, toadas e valseados. Entre outras letras imortais Zé Fortuna escreveu Esteio de Aroeira, Palmeira Velha, Folha Seca , Lembrança, Índia e tantas outras . Fez também belas composições em parceria com Dino Franco, Carreirinho ,Carlos César e Paraíso com quem compôs O Ipê e o Prisioneiro. Vale lembrar que Zé Fortuna criou também a Companhia Teatral os Maracanãs com a qual viajou por quase trinta anos levando peças teatrais aos circos espalhados por esse imenso país .Zé Fortuna escreveu 42 duas peças teatrais , publicou vários livros de poesia , lançou quarenta LPs e deixou cerca 800 letras de músicas inéditas . Faleceu em São Paulo no dia 10 de novembro de 1983.

Teddy Vieira

Compositor nascido em 23/12/1922 na cidade de Itapetininga, interior do estado de São Paulo. Aos 18 anos já escrevia versos de inspiração sertaneja, e no ano de 1948 teve suas primeiras músicas gravadas, pela dupla Mandu e Manduzinho dupla de Sorocaba com introduções na viola de Julião e Lauripio , e posteriormente teve outras músicas gravadas por interpretes de grande sucesso no mundo sertanejo.

Em 1955, se consagrou um como grande compositor, após a ter o cururu O Menino da Porteira gravado por Luisinho, Limeira e Zezinha. Esse grande sucesso teve inúmeras regravações entre as quais a de Tião Carreiro, a de Sergio Reis.

No ano de 1956 passou a ser diretor sertanejo de uma, grande gravadora, nela criou a dupla sertaneja de grande sucesso Tião Carreiro e Pardinho. Nesse mesmo ano lançou a dupla Zico e Zeca, com composições que marcaram época, como Enxada e a caneta (com o Capitão Barduino), que também foi seu parceiro, junto com Serrinha, na moda-de-viola Besta bailarina e Força do destino.

Teddy é considerado um clássico da musica regional brasileira, pelas mais de 200 composições (muitas vezes feitas com grandes parceiros como Lourival dos Santos e Nelson Gomes, entre outros) que foram gravadas pelos grandes interpretes da música sertaneja no Brasil. Entre os seus grandes sucessos estão as composições O Menino da Porteira, Cavaleiro do Bom Jesus, Treze de Maio, Namoro no Portão, Rei do Café e muitas outras conhecidas por esse Brasil a fora.

* Dados coletados no site Viola Tropeira

terça-feira, setembro 19, 2006

Mais um pouco da historia da musica caipira

Vamos conhecer mais um pouco da musica caipira, estes dados foram coletados no site viola tropeira , que presta um grande serviço para quem quer conhecer a historia da musica caipira. É um excelente local de pesquisa, assim como o site do nosso compadre Ricardinho no site Boa Musica Brasileira

Vamos até 1929? É que neste ano foi gravado o primeiro e disco de música sertaneja no Brasil.Foi em 78 rotações , com o selo vermelho Columbia . De um lado tinha a música “Jorginho do Sertão “, do outro “Moda de Pião “, as duas de autoria de Cornélio Pires, o “ Bandeirante da Música Caipira” paulista , nascido na cidade de Tietê (SP), em 1884. E quem gravou esse primeiro disco foi exatamente a turma de Cornélio pires.

Em 1933, quatro anos depois do lançamento desse primeiro disco de música sertaneja , foi formada uma das mais antigas e famosas duplas caipiras: Raul Torres ( de Botucatu, SP) e João Pacífico ( Cordeirópolis ,SP). Esta dupla gravou composições de tanto sucesso que, hoje em dia , não existe violeiro e cantador que deixe de apresentá-las. Querem ver alguns exemplos? Então vamos: “Chico Mineiro”, “Cabocla Teresa”, “A Mulher e o Trem”e “Tem Boi na Linha”.

Enquanto Raul Torres cantava junto com João Pacífico , ele também compôs e gravou com Florêncio , seu velho amigo nascido em Barretos(SP) . OS dois fizeram enorme sucesso com as músicas “Apelido dos Jogadores”, “Pingo D’água” e “Moda da Mulata Preta”, este um verdadeiro clássico da música sertaneja.


Até 1928, ocorria a total ausência de músicas caipiras nos catálogos das gravadoras .Tudo devido a uma intolerância do mundo urbano, em relação à música caipira.Por esse motivo que somente no ano de 1937, o clássico do século da música rural, Tristezas do jeca (composta por Angelino De oliveira em 1925, nascido em Botucatu),foi gravado por Paraguassu , com o selo da Columbia ( Continental a partir de 1947) .

Em 1928, Cornélio Pires procurou os diretores da gravadora Columbia propondo que gravassem discos com material caipira autêntico , e ouviu um não,isso não interessa ao mercado, então Cornélio propôs que gravaria por conta própria, o diretor que nem se quer falava português , tentou dificultar ao máximo o projeto de Cornélio , dizendo que queria dinheiro vivo para fechar o negócio . Cornélio saiu foi a rua XV de novembro , centro de são Paulo com um tal de Castro conseguiu o dinheiro emprestado , voltou a gravadora com um pacote de jornal em baixo do braço , jogou na mesa , o diretor assustado perguntou o que era aquilo, “Dinheiro uaí’ , disse Cornélio , o diretor retrucou é muito dinheiro , “Quero cinco mil cópias “( naquela época nem os cantores de maior sucesso faziam tal prensagem) , mesmo assim é muito dinheiro disse o diretor , “quero cinco mil cópias de cada um , vou fazer cinco discos diferentes ,no total de vinte cinco mil discos “. Foi a primeira produção independente do Brasil e talvez do mundo.

Cornélio ainda exigiu um selo próprio , com selo vermelho custando dois mil reis a mais do que os principais sucessos da gravadora , o diretor riu , dizendo “mais também quem vai querer comprar esses discos”.Os discos ficaram prontos em 1929, daí Cornélio saiu em dois carros em direção a Bauru , a notícia da existência de discos caipiras alvoroçou o interior paulista.De Jundiaí a Assis , de Sorocaba a São José do Rio Preto, todos queriam as tais gravações das duplas das fazendas de Tietê, antes de chegar a Bauru Cornélio já havia vendido todos os discos , telegrafou para a gravadora pedindo uma nova prensagem de cinqüenta mil cópias, a gravadora reconheceu seu erro , e exigiu direito de distribuir os discos, Cornélio Pires era mais um idealista do que comerciante , autorizou a gravadora distribuir os seus discos.

A era da música caipira no Brasil havia se iniciado “ a Philips gravadora do Rio de Janeiro, manda um estúdio portátil para a cidade rival (Piracicaba) para a dupla pioneira Mandi e Sorocabinha gravar com sua turma discos caipiras, aparecendo pela primeira vez os gêneros Moda de Viola, Cateretê , Catira , Cana Verde, Corta Jaca, Toada Paulista, Moda Campeira entre outros.


Raul Torres
Natural de Botucatu, SP, 1906. Fez dupla com o violeiro Florêncio ganhando destaque como umas das mais importantes duplas caipiras. Além de seu talento como cantor Raul Torres teve destaque como grande compositor . Fez várias composições de grande destaque que ganharam a preferência nacional como Minas Gerais, Mestre Carreiro, Do Lado que o Vento Vai , A Moda da Mulata Preta e muitas outras de igual valor. No entanto os seus maiores sucessos foram em parceria com o não menos importante João Pacífico com quem fez Chico Mulato, Cabocla Teresa , Mourão da Porteira e Pingo d’água.Raul Torres faleceu em São Paulo em 1970.



João Pacífico

Natural de Cordeirópolis, SP, 1909. Ainda adolescente transfere-se para a cidade paulista de Limeira , época em que se inicia com a música tocando bateria na orquestra do cinema daquela cidade.Segue mais tarde para Campinas-SP, e também continua atuando com a música e desta vez na Orquestra Sinfônica de Campinas também como baterista.Transfere-se mais tarde pra São Paulo onde conhece Raul Torres e recebe o apoio dos poetas modernistas Mário de Andrade e Guilherme de Almeida.Em 1936 faz em parceria com Raul Torres o clássico da música sertaneja, Chico Mulato, em seguida a antológica Cabocla Teresa.Continua compondo ao lado Raul Torres e em 1942 surge o sucesso Mourão da Porteira.Dois anos mais tarde aparece Pingo d’água .A partir daí não para mais e os novos sucessos vão surgindo e entre elas No Banquinho.A história de um Prego , Alpendre da saudade, o belíssimo poema Doce de Cidra e, tantos outros,Em 1979gravou um LP solo cantando e declamando com o titulo “João Pacífico”, no qual encontramos entre outras preciosidades , Três Nascentes , Vai se chamar Saudade, No Fim da Estrada. Por tudo que escreveu , cantou e declamou,João Pacífico , reforça sua imagem de mito dentro do universo da música sertaneja de raiz .Faleceu aos 89 anos , no dia 30 de dezembro de 1998, pobre e esquecido do mercado da mídia .