Este é um blog dedicado exclusivamente para o caipira, sua música, seus causos enfim tudo que tenha a ver com a vida simples do homem do campo. Aqui vc vai encontrar links para sites que tem interesse no resgate e preservação deste estilo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Mais um pouco da historia da musica caipira parte 4

Bom dia Cumpadres e Cumadres
Terminando este passeio pela historia da musica caipira, apesar de ser um trabalho muito superficial, pois existe muita coisa para ver, ler, pesquisar e por que não se emocionar nesta linda historia, que é a historia da musica caipira.
Quero agradecer e indicar a todos os visitantes apreciadores os sites Viola Tropeira e o Boa Musica Brasileira, pois foram fundamentais, por que foram la que busquei (no bom velho modo Ctrl + C, e Ctrl+V) todas essas informações. Muito Obrigado.


*Renato Teixeira
O excelente "Caipira Universitário" do Vale do Paraíba, compositor de "Romaria", "Amanheceu, Peguei a Viola", "Sentimental eu Fico" e "Frete", entre outras, nasceu em Santos-SP (em 20/05/1945), passou a infância em Porecatu-PR e Ubatuba-SP e viveu sua adolescência e juventude em Taubaté-SP, no Vale do Paraíba.

Em São Paulo-Capital, participou do Festival da Record de 1967 com a música "Dadá Maria" que foi defendida por Gal Costa (na época ainda Maria da Graça, iniciando sua brilhante carreira), e também por Silvio César. Também foi sua primeira gravação, já que Renato Teixeira gravou a respectiva música juntamente com Gal no disco do festival. E, no mesmo festival, no ano seguinte, Roberto Carlos foi o intérprete de "Madrasta" também de autoria de Renato.

Renato sempre procurou conhecer a História Musical de Nosso País, ouvir todas as canções e todos os gêneros. Do samba à música caipira. A geração musical que frutificou da Bossa Nova, nos anos sessenta era chocante. Uma linda síntese de tudo que aconteceu de essencial na música brasileira até então.

Admirador e também amigo de Chico Buarque e Caetano Veloso, Renato Teixeira também conheceu Milton Nascimento antes dele fazer sucesso; segundo ele, todos que o conheceram nessa época, já tinham por ele uma admiração que só os grandes mitos podem desfrutar. A falecida Elis Regina, também estava entre os intérpretes da MPB mais admirados por Renato que também assistiu "bem de perto" ao surgimento do Tropicalismo, uma espécie de "preparação mental" para a chegada do terceiro milênio.

Jingles publicitários também compôs "para sobreviver": e, que, por sinal, fizeram bastante sucesso como aqueles do Ortopé, do Rodabaleiro, do Jeans US-Top e do Drops Kids Hortelã, que muita gente se lembra até hoje.


Nesse tempo Renato já havia se identificado totalmente com a Música Caipira Raiz.

E pensar que, quando estudava Engenharia no ITA (o Instituto Tecnológico da Aeronáutica em São José dos Campos-SP), Renato Teixeira sempre "reagia ao assunto" ("... isso é uma porcaria! Você tem que ouvir é Tom Jobim..."). E foi na Capital Paulista que "redescobriu" Tonico e Tinoco. Participou também da Coleção "Música Popular do Centro Oeste/Sudeste" do Selo Marcus Pereira.

Em parceria com Sérgio Mineiro, criou o Grupo Água com o qual Renato Teixeira conseguiu assimilar o espírito da Música Caipira e projetá-la de uma forma contemporânea para todo o Brasil.

Até que em 1977, por insistência do filho ainda pequeno Pedro Camargo Mariano, a saudosa Elis Regina gravou "Romaria" e convidou o Grupo Água para acompanhá-la na gravação. Tal sucesso mudou a carreira de Renato Teixeira e estava criado um "novo espaço" para que a música do Interior Paulista invadisse o mercado.

Com seu famoso refrão "Sou Caipira Pirapora Nossa Senhora de Aparecida, Ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida...", "Romaria" de Renato Teixeira abriu as porteiras de um universo e o "Caboclo picando fumo" saltou do brejo e se assumiu como um dos mais importantes inspiradores do Cancioneiro Popular Brasileiro, de acordo com os comentários de Rosa Nepomuceno na página 372 do Livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio". Além de Elis Regina, muitos outros já gravaram "Romaria", como por exemplo, Pedro Bento e Zé da Estrada, Pena Branca e Xavantinho, Sérgio Reis, Passoca e muitos outros excelentes intérpretes.

Um grande momento na vida de Renato Teixeira foi também a parceria com Almir Sater, com alguns sucessos consagrados, como por exemplo, "Um Violeiro Toca" e "Tocando Em Frente". Almir fez uma verdadeira "revolução mágica" com a Viola Caipira e transcende a qualquer violeiro que já existiu.

Outra parceria importante para Renato Teixeira foi com a dupla Pena Branca e Xavantinho. Juntos, gravaram pelo Selo Kuarup o CD "Ao Vivo em Tatuí" (KCD053 - produzido por Mario de Aratanha e Leo Stinghen), o qual se transformou num marco na Música Caipira Raiz. Esse CD foi Gravado ao vivo de 21 a 23/09/1992 no Teatro do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí-SP. Clique na capa do CD acima e à direita e você poderá adquirir esse e outros excelentes CDs de Renato Teixeira na Kuarup Discos.

Além de Pena Branca & Xavantinho, Renato Teixeira também gravou CD's juntamente com Xangai, Cida Moreira, Elomar, Geraldo Azevedo, Sivuca e muitas outras excelentes personalidades de nossa Boa Música Brasileira.

Seu projeto de vida é dar continuidade ao sonho de divulgar e difundir cada vez mais o espírito do "Caipirismo Valeparaibano"; não pela "repetição das velhas formas", mas sim pelo potencial que esse Universo cultural oferece para que a Boa Música Brasileira avance em direção ao futuro, coerente com a evolução, naturalmente moderna."

Renato Teixeira se diz "Um Caipira Teórico"... "Almir Sater é prático: vai pro mato. Tavinho Moura pega o barco, vai para dentro do rio pescar. Eu gosto de ficar ouvindo os passarinhos, assim sentado numa boa poltrona...", de acordo com Rosa Nepomuceno, em seu excelente livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - página 377.

Quero destacar também o mais recente trabalho de Renato Teixeira, dessa vez em companhia de Rolando Boldrin, também lançado e distribuído pela Kuarup Discos: Rolando e Renato gravaram juntos pela primeira vez e contam nesse CD com as participações especiais de Almir Sater, Dominguinhos, Heraldo do Monte e Paulo Sérgio Santos. Destaque para "Brasil Poeira" (Almir Sater - Renato Teixeira), "Funeral De Um Lavrador" (Chico Buarque - João Cabral de Melo Neto), "Chico Mineiro" (Tonico - Francisco Ribeiro), "Vaca Estrela E Boi Fubá" (Patativa do Assaré), além da até então inédita "Tempo Das Aves" (Rolando Boldrin), da raríssima "Três Nascentes" (João Pacífico) e também da quadrilha "Maria Bonita" (Volta Seca), composta pelo famoso "cangaceiro-compositor" que pertenceu ao bando de Lampião. Clique na capa do CD à direita e adquira esse excelente trabalho fonográfico diretamente da Kuarup.

*Almir Sater


"Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal...", vamos conhecer um pouquinho desse grande Sul Matogrossense de Campo Grande que é Almir Sater, excelente intérprete de "Trem do Pantanal" (Geraldo Roca - Paulo Simões) e "Chalana" (Mário Zan - Arlindo Pinto) e compositor de "Varandas" e "Sonhos Guaranis", entre muitas outras.

Sul-Matogrossense, Pantaneiro (que chegou a conhecer Nashville), nascido em Campo Grande-MS, (14/11/1956), Almir Sater tocava violão desde criança, e desde pequeno, gostava de fazendas, bois e do Som da Viola. Com doze anos de idade já se apresentava na Rádio Cultural de Campo Grande, juntamente com Gil Ourives. Na época Almir tocava Violão, e já gostava da Viola Caipira que ouvia nas rádios, tocada inclusive por Tião Carreiro em dupla com Pardinho. Era um "ouvir sem tocar"...

Mas só foi "descobrir efetivamente" a Viola Caipira, o instrumento que o celebrizou, no Rio de Janeiro-RJ, onde estudou Direito, na Faculdade Candido Mendes. "Para juntar as paixões" foi preciso sair de Campo Grande-MS, e parar no Largo do Machado, no Rio de Janeiro, quando topou com dois violeiros mineiros tocando no meio da praça.

Tinha vinte e poucos anos e decidiu, nesse momento, largar o curso de Direito que fazia na Cidade Maravilhosa e voltar para casa, para o Mato Grosso do Sul, para tocar sua viola. Ainda no Rio, havia comprado um violão com cordas de aço, de som vibrante, um "Folk", daqueles enormes, mas logo descobriu que, com ele, nunca conseguiria "O Som de Viola" e assumiu a preferência: vendeu o violão, comprou a violinha mais barata que encontrou no "Rei do Violões" e começou a tocar: "...aí vi os mineirinhos na praça e pensei: vou pro Mato Grosso. Viola e Rio de Janeiro não combinam...".

Trancou a matrícula do curso (já fizera três vezes o primeiro ano), voltou para Campo Grande-MS, criou um grupo de pesquisa de Música Caipira e Latino-Americana - tocava charanga, viola e bandolim - e montou a dupla "Lupe e Lampião", a qual, em 1978, foi a quarta colocada no "Festival Sertanejo" da TV Record.

Almir Sater foi na verdade um pesquisador, que "aprendeu ouvindo", como ele mesmo diz: "...sofri a influência de vários músicos. Nunca estudei; não me orgulho disso, mas é um fato. Então o que sempre me ajudou foi escutar muitos discos, músicos e daí partir para um estudo mais aprofundado...".

Já morando em São Paulo, integrou, naquele final de 1970, o grupo "Lírio Selvagem", da conterrânea Tetê Espindola. A última etapa antes de chegar ao disco foi o grupo "Vozes e Violas" e uma atuação com a famosa cantora Diana Pequeno.

Suas composições falando de fronteiras, águas, canoas, boiadas, peões, varandas, galopes e pássaros, assim como suas obras instrumentais, fizeram dele, desde a década de 80, um músico singular.

Desde o início, passeou livremente pelo som da Música Popular Urbana, da Música Caipira, da Música de Villa-Lobos, dos pagodes de Tião Carreiro, da música da fronteira do Mato Grosso do Sul, do Vale do Jequitinhonha e de outros reinos da Viola e da Cultura Popular.

Em 1979, Almir Sater percorreu interior de Mato Grosso do Sul. "Nessa época, Tetê Espíndola me convidou para participar do grupo Tetê e os Lírios Selvagens, dos irmãos Espíndola. Viajamos durante um ano. Depois vim para São Paulo e participei de uma Cooperativa Musical".

A experiência foi muito importante, segundo Almir Sater, principalmente porque reunia nomes do quilate de Alzira Espíndola (Irmã de Tetê Espíndola), Carlão de Souza, Paçoca, Papete, Zé Gomes, Silvana Michelini, Tuca, Grupo Bendengó e muitos outros. Como "nenhum deles tinha banda", então "um tocava com o outro", segundo Almir. A Cooperativa existiu por dois anos e numa dessas apresentações de Vozes e Viola, Almir recebeu o convite da Continental para gravar o primeiro disco, em 1981 (o LP "Almir Sater"), tendo a participação do Tião Carreiro, que, na época, era parceiro de Almir na gravadora.

Esse primeiro disco foi logo seguido por "Doma", pela RGE em 1982. Três anos depois montou a "Comitiva Esperança", que viajou pelo Pantanal Mato-Grossense pesquisando a música e os costumes da região. Depois de lançar outros discos e abrir o "Free Jazz Festival" de 1989, Almir Sater atuou na novela "Pantanal", da extinta TV Manchete, que o projetou nacionalmente, junto com sua música. Em seguida, continuou como ator, em "Ana Raio e Zé Trovão", da mesma emissora. Afastou-se das novelas para se dedicar mais à Música, lançando "Terra de Sonhos" em 1994; dois anos mais tarde voltou a atuar em novela: foi na Rede Globo em "O Rei do Gado", onde representou a "dupla caipira fictícia" "Pirilampo e Saracura" que fez juntamente com Sérgio Reis.

Apesar de ter participado das novelas que o consagraram como excelente ator, sua vocação sempre foi a de compor, cantar e tocar a Viola - e isso começou bem cedo. Os amigos do pai em Campo Grande, gostavam de Bossa Nova. O menino estudava violão, mas ouvia Viola no rádio, naqueles programas de madrugada, "na hora do caipira acordar" para pegar na enchada...

De acordo com Almir Sater, "...esse som sempre me fascinou. É um sentimento (...) eu nunca soube por que. É a minha sina. No Mato Grosso não tem quase violeiro; Dona Helena Meirelles para mim foi uma surpresa. Conheci alguns poucos, influenciados pelos mineiros. Lá não tem tradição de viola, só de violão, sanfona e harpa paraguaia, música de fronteira. (...) Viola e Boi é uma combinação tão perfeita quanto Goiabada e Queijo...".

E, se ele gostava de viola, era natural que se sentisse à vontade no meio do curral, montando cavalos, ouvindo o som do berrante. A cidade de Campo Grande-MS naquela época não era tão desenvolvida como hoje, e as fazendas de gado ainda rodeavam a cidade.

Além do famosíssimo Tião Carreiro, a Viola do Mineiro Renato Andrade também se situa no "primeiro time" de sua admiração. Ouvindo-o, o Sul-Mato-Grossense aprendeu a afinar o instrumento num "Rio-Abaixo". "As afinações sugerem coisas, cada uma tem a sua magia, e com essa fiz "Europa", uma espécie de valsa, que está no CD "Instrumental-2"."

Violeiro de muitos recursos, adotou para a maior parte de sua obras a afinação "Cebolão", nas suas variações (em Mi Maior ou em Ré Maior), mas gosta de sua viola em Dó Maior, afinação que descobriu e nunca viu ninguém fazer... É invenção sua... Rafael Rabello no violão e George Benson na guitarra são os dois outros instrumentistas preferidos, pela agilidade e a qualidade de melodia, que "fazem viajar".

Foram todas essa informações, gostos e técnicas que levou para o estúdio, para fazer seu primeiro disco em 1981, o qual pegou a mídia de surpresa: um músico jovem de Mato Grosso do Sul "reinventava a viola", trazendo ingredientes novos ao então desprestigiado som rural. A imprensa o incluiu na safra dos "Sertanejos Chiques", saudando o fascínio, a simplicidade e a grande qualidade das melodias e arranjos que misturaram viola com violões de 12 cordas, violinos e harpa paraguaia.

O som da fronteira fundido ao do Interior Mineiro e Paulista, e às pegadas do Blues, chegava às platéias dos grandes centros na viola "sem preconceito". Ele aliava a tradição à linguagem de sua geração, o arrasta-pé a um som meio roqueiro. E, além de tudo, sabia fazer boa poesia - como Joan Baez e Bob Dylan; Almir também é devoto do folk.

No segundo LP, "Doma", em 1982, surgiu a parceria com Renato Teixeira, que daria, ao longo da amizade, excelentes frutos. Nesse disco, a música "Peão", da dupla, abriu o lado A e entrou na trilha da novela "Fera Radical", da Rede Globo.

Quando conheceu Renato Teixeira (compositor de "Romaria" e "Amanheceu, Peguei a Viola", entre outras obras primas), Almir Sater encontrou um semelhante, um vizinho de alma, identificando-se com sua forma de cantar e compor, e também na maneira de conduzir a carreira. Aos poucos foi se integrando a uma rede de músicos de gerações próximas, com trabalhos que apontavam para a mesma direção: temas que falavam das regiões de onde vieram. Cita Tavinho Moura, que mora em Belo Horizonte, Passoca em São Paulo, Paulo Simões e Geraldo Roca no Mato Grosso do Sul (compositores do célebre "Trem do Pantanal"), entre outros.

O primeiro disco "Instrumental" de Almir Sater foi lançado em 1985, após longa viagem de pesquisa no Pantanal (que resultou no documentário "Comitiva Esperança", produzido com Paulo Simões em parceria com a Tatu Filmes, de São Paulo), e mostrou a qualidade do Violeiro em "Corumbá"; no respectivo disco, destacam-se músicas como "Luzeiro" (utilizada na abertura do programa "Globo Rural" na Rede Globo), "Viola de Buriti" e, novamente, sua admiração por Tião Carreiro, em "Rio de Lágrimas".

Em "Cria", no ano seguinte, produzido por Carlão de Souza, o som ficou "mais pop", com a entrada forte de guitarras, sax, teclados e baixo. O repertório trouxe novas parcerias com Renato e Paulo Simões, e também uma regravação do mesmo clássico de Tião Carreiro, seguramente um dos mais lembrados do gênero por cantores de todas as gerações.

Se a televisão levou a viola para a sala da classe média urbana, nem por isso Almir Sater acredita que o instrumento vá se popularizar fora das regiões em que já é parte da cultura. Não apenas por preconceito. Hoje há escolas de viola no interior de São Paulo, bons violeiros que criaram métodos e arregimentam alunos. "...é um instrumento muito primitivo, limitado, dífícil de se tocar, aprisionado por afinações que a incompatibilizam com um instrumento afinado de forma diferente. Porque, se for para harmonizar, fazer acordes, não é Viola. Ela tem que ter ressonância, tem que se alimentar dos bordões, e se você toca viola como toca Violão, não vai funcionar. O Zé Coco do Riachão era uma exceção, tocava com afinação de violão, mas com a concepção de viola. Ela é para poucos, está no sangue..."

A qualidade do som do instrumento é fundamental. Porém, mais importante para Almir Sater é se manter solto, livre de rótulos, quanto ao seu estilo musical. "Isto é um desafio pra mim. Faço a música caipira que eu ouvia no rádio, mas tenho influências do Interior do Brasil. Das minhas composições, 80% não tem nada a ver com música caipira. "Tocando em Frente" é um rasqueado, só que não é tocado como Rasqueado; "Moura" está mais para o "Choro"; "Cristal" é um Estudo; "Um Violeiro Toca" é música de viola, mas não é caipira... Mas... pode me chamar de caipira."

"Se não tivesse que pagar as contas, não saía do Pantanal. Tudo ali é favorável ao isolamento, na fazenda Campo Novo, região do Rio Negro, a 250 Km de Campo Grande-MS. Durante quatro ou cinco meses por ano, é possível chegar à cidade de carro. Nos outros meses, na tradicional cheia, só de avião. O cenário é único e, para viver nesse lugar de geografia, flora e fauna deslumbrantes; é preciso ter o espírito pantaneiro: aventureiro e sereno, paciente como os ciclos da natureza." (...) "O que me fascina é o espaço que eu tenho, a imensidão que é aquilo. Aquela paisagem toda, e é tudo da gente..."

Essa declaração, consta na página 389 do Livro de Rosa Nepomuceno "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio" e foi feita por Almir Sater quando do show em São Paulo no SESC-Ipiranga em Dezembro de 1998. Sair da toca para fazer shows pelo Brasil são "ossos do ofício" para Almir, chapéu de abas curtas, botas, pele morena de sol, cuia de mate na mão. Quando precisa de dinheiro, viaja para trabalhar. "Vivo da música, mas também mexo com frigorífico, vendo boi gordo , o que ajuda no custeio da família."

Quando vem a São Paulo, geralmente a cada oito meses, fica na casa comprada na Serra da Cantareira, vizinha à do seu "compadre e parceiro" Renato Teixeira. Um dia conseguiu realizar seu grande sonho: ficar só tocando viola, sem sair do Pantanal, tomando chá misturado com raízes de carqueja e de outras ervas que conhece, rodeado pelos filhos Yan e Bento. O mais velho e "bluseiro", Gabriel, mora nos Estados Unidos. Ninguém melhor que Almir Sater para traduzir em poesia os "Encantos Pantaneiros". "Para mim, bastariam dois paus e uma rede."

Difícil imaginar aquela curva do rio sem a casa de Almir Sater e Ana, sua esposa. Uma variedade sem igual de animais e pássaros torna ainda mais paradisíaca a vida na Murundu (que significa "monte", mas também "ninho de jacaré"). Talvez só mesmo gente como Almir e Ana, crescidos à beira do rio, consigam conviver com "tantas dificuldades naturais" e ter o despojamento de deixar o conforto da cidade. Atualmente, junto com os filhos, eles passam mais tempo lá do que em São Paulo. Almir compõe, enquanto Ana trabalha num projeto educacional rural voltado para as crianças e população da região e que foi idealizado, criado e mantido por eles. Conseguir recursos para manter a escola é um dos motivos que faz Almir sair do Pantanal.

Como aconteceu com quase todos os que optaram pela viola, "sua escola foi a vida", ouvindo, tocando e se inspirando nos mestres. E "seu mestre" Almir considera que foi o mineiro Tião Carreiro, "longe dos olhos, mas bem perto de sua vitrola"...

Em 1976, Tião já havia inventado o Pagode Caipira. Almir ouvia seus discos e também os "reouvia, interrompia", para que pudesse entender os acordes e as puxadas. "Tião gostava de samba e foi trazendo seu "swing" para a viola, misturando acordes de violão e viola, um completando o outro, porque um sem o outro não balança".

Alguns anos depois Almir se encontrou com Tião num festival. Em "péssima hora"... Tião Carreiro encontrava-se bêbado e Almir não conseguiu conversar com ele, mas lhe pediu que afinasse sua viola.

Um segundo contato como Tião Carreiro, em condições melhores, aconteceu quando foi fazer seu primeiro disco na Continental, em 1981, e o encontrou no corredor da gravadora. Foi aquela emoção. Almir se referiu ao episódio do festival, do qual Tião nem se lembrava. "Eu disse que era seu fã (...) e ele ficou surpreso, porque não imaginava que sua música pudesse ter chegado ao pessoal mais novo. De fato, aquelas modas nunca chegaram perto da minha geração. Nosso papo fluiu e ficamos amigos. Eu sempre curioso, ele sempre vaidoso de ter uma pessoa perguntando as coisas. Eu me sentava na sua frente e dizia "faz de novo, repete, deixa eu ver". O toque de um violeiro é muito especial, difícil de ser assimilado, tem que escutar muito pra entender o caminho das mãos. Aprendi a fazer a batida do Tião, puxando pro meu jeito'.

Nesse dia foram juntos para o estúdio e gravaram "No Quintal de Casa", composição de Almir, transformada num animado Pagode do Tião, na deliciosa faixa que fechou o primeiro disco de Almir, da qual participaram o violão de 12 cordas de Carlão de Souza, a flauta de Demétrio e a percursão de Papete.

Esses encontros entre Almir Sater e Tião Carreiro são narrados com mais riqueza de detalhes nas páginas 391 e 392 do Livro de Rosa Nepomuceno "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio".

Na década de 80, Almir Sater também participou de um dos festivais de MPB com sua música "Varandas". Ele diz que ali foi o começo de tudo. "Era mostrar tudo o que sabe, senão desistir e voltar para o Mato Grosso". No final da década participou do Free Jazz Festival. Em 1989, foi aos Estados Unidos participar do International Fair Festival e a Continental aproveitou para gravar o disco "Rasta Bonito" em Nashville, a capital da "Country-Music", caprichando no retorno do artista ao respectivo selo. Com violonistas, gaitistas e tocadores de banjo americanos, durante dois dias e meio ficou no estúdio, inteiramente à vontade, "mostrando por que é um dos maiores instrumentistas do mundo", de acordo com seu parceiro e compadre Renato Teixeira. Almir foi, portanto, o pioneiro a trafegar na free-way que ligaria a música do interior do país à do Interior dos Estados Unidos.

Essa estrada seria percorrida, velozmente, por muitos outros artistas, que acabariam por "perder o caminho de volta"... O som dos rodeios da peãozada de lá misturado com o daqui está na própria faixa-título ("Rasta Bonito") e na música instrumental "Capim Azul". Em parceria com Joe Loesch, fez "Homeless Souls", a qual canta em inglês. O standard "Tennessee Waltz" (Redd Stewart e Pee Wee King) é contrabalançado com o "Hino da Música Rural Paulista" que é "Tristezas do Jeca" de Angelino de Oliveira.

Nesse contato com músicos americanos, acredita que eles não se interessaram muito pela viola. "Talvez porque tenham o banjo, bons violões. Gostaram mesmo foi de um violãozinho pequeno que eu levei".

E o CD "Instrumental II" foi lançado em 1990. A viola reinou com todos os seus timbres, afinações e puxadas, em uma viagem que passou por Villa-Lobos, em "Mazurca-Choro" (da Suíte Popular Brasileira), pelo folclore do Vale do Jequitinhonha, em "Beira-Mar" (recolhido por Tavinho Moura), pelos sons da divisa, com "Rasta" e "Fronteira", e namorou o erudito em "Europa" e em "Moura", Tema para Pequeno Violão e Orquestra: com ele, conquistou o Prêmio Sharp de melhor instrumental, no ano em que arrebataria outro pela música "Tocando em Frente", gravada inclusive por Maria Bethânia.


Adauto Santos


Entre esses símbolos da resistência dentro da música caipira, situado ao lado de Renato Andrade, Zé Mulato e Cassiano, Almir Sater, Roberto Corrêa e vários outros, estava também a figura do violeiro, cantador e compositor Adauto Santos, que faleceu no dia 22/02/99. Adauto estava situado entre as maiores preciosidades de voz e viola do Brasil. Nascido na cidade paulista de Bernardino de Campos, foi criado em Londrina, no Paraná, onde iniciou sua carreira artística cantando ao lado de sua irmã formando a dupla, Duo Havaí. Como forma de provar o talento da jovem dupla merece destacar que o Duo Havaí venceu o Festival Roda de Violeiros, do Capitão Furtado, em Londrina, gravando nessa mesma época o primeiro disco

Em 1962, Adauto Santos, transfere-se para São Paulo, e passa cantar na noite paulista. Chama a atenção do público não só pela bela e afinadíssima voz, como pelo fato de ir aos poucos introduzindo a viola caipira em suas apresentações. A viola caipira de Adauto chama a atenção de muita gente sobretudo, de clientes estrangeiros que se hospedavam nos hotéis paulistas. Assim Adauto Santos ia aos poucos mesclando MPB com caipira, e o efeito tomou um caráter positivo. Aos poucos foi ganhando espaço no rádio, na televisão e jornais, porém de forma muito limitada, muito aquém de seu talento. Aliás, foi ele mesmo quem disse que o seu trabalho foi sempre muito artesanal com muito suor e pouco reconhecimento. O seu trabalho começou ganhar projeção nacional após suas participações no Programa Som Brasil (TV Globo) com apresentação de Rolando Boldrin. Além de cantador e violeiro, Adauto Santos, foi também compositor. A sua primeira canção que realmente marcou foi Triste Berrante, música incluída na trilha sonora da novela Pantanal exibida pela então Rede Manchete. Ainda na condição de compositor fez excelentes trabalhos em parceria com Mário Lago, Paulo Vazolin, Eduardo Gudin, João Pacífico e outros. Adauto Santos deixou vários discos gravados, alguns cantados, outros em solo de viola. O seu primeiro disco foi Triste Berrante e o último Tocador de Vida e Viola. Merecem destaque ainda os CDs Adauto Santos: Brasil Viola e Varanda Sertaneja.



*Rolando Boldrin
Rolando Boldrin: Este é o nome completo e também o nome artístico deste excelente “cantadô”, como ele mesmo se define!

Paulista da Velha Mogiana, o sétimo de 12 meninos e meninas, Rolando nasceu em 22/10/1936 em São Joaquim da Barra no interior de São Paulo. Com apenas dois anos, mudou-se, junto com os pais, Seu Amadeu e Dona Alzira, para Guairá, na mesma região, e foi nessa cidade que Rolando começou a cantar algumas Modas de Viola, Toadas e Canções com seu irmão Leili Boldrin, dois anos mais velho.

A dupla chegou a fazer algumas apresentações com o nome “Boy e Formiga”: Boy foi o apelido que o próprio pai colocou no filho Rolando, dada sua paixão pelos filmes de “cowboys” americanos da época: como Boy era loiro, o apelido "combinou"; e Leili recebeu o apelido de Formiga também da própria família, de tão miudinho que era quando nasceu...

E o repertório de Boy e Formiga era "escolhido a dedo": entre diversos clássicos, as "pérolas" de Raul Torres e João Pacífico tais como "Pingo d' Água", "Chico Mulato" e "Cabocla Tereza".

Leili Boldrin atualmente se dedica ao comércio e ainda tem o apelido de Formiga. No LP "Violeiro" (também lançado em CD) de 1982, Rolando e Leili Boldrin (ou "Boy e Formiga") relembraram os tempos da dupla e gravaram juntos a toada "Felicidade" (Barreto - Barroso).

Rolando Boldrin também chegou a assistir ao nosso grande Cornélio Pires, em suas apresentações pelas diversas cidades do Interior, o que com certeza influenciou bastante na Cultura e no Gosto Musical do nosso "cantadô" de São Joaquim da Barra-SP.

Algum tempo depois, Rolando Boldin contava 16 anos e, por conta própria, decidiu “arribá” sozinho prá "Capitar": São Paulo da Garoa... Na Paulicéia Desvairada, foi sapateiro, garçon, auxiliar de armazém e frentista. E, por exigência da idade, prestou o Serviço Militar em Quitaúna, no mesmo ano do suicídio de Getúlio Vargas.

Quando deu baixa do Quartel, saiu determinado a seguir a carreira artística, pois já tinha a experiência de “cantadô” inato e “contadô” de causos e, com a Viola e o Violão, já havia experimentado “um pouco de tudo”, das Modas de Viola da época aos Sambas e Canções dos cantores e conjuntos mais famosos que ouvia no rádio: Vicente Celestino, Francisco Alves (o famoso "Chico Viola, como também era conhecido), Orlando Silva, Carmen Miranda, Noel Rosa, Bando da Lua, etc. Na Música Caipira, ouvia Jararaca e Ratinho e Alvarenga e Ranchinho, entre outros e, como diz o próprio Rolando Boldrin, “...muito rádio ... muito rádio e alto-falantes das pracinhas interioranas...”

Seguiram-se então os testes em diversas rádios paulistanas como a Rádio São Paulo, Rádio Record, até chegar à Rádio Tupi que já possuía inclusive uma pequena experiência com os primeiros anos de transmissão televisiva no Brasil (a qual havia se iniciado em 1950). Era 1958, ano em que Rolando Boldrin completava 22 anos. E, finalmente, o primeiro contrato para atuar como ator de TV e Rádio. “...Até que enfim, acreditaram que aquele "Capiau" magrela e desajeitado poderia ser um artista de verdade...” nas palavras do próprio Rolando Boldrin!

Foi nos anos 60 que estreou em gravações; trabalhou inclusive com Lurdinha Pereira, que veio a ser sua esposa. Após alguns anos como ator em novelas, e sempre acompanhando Lurdinha Pereira que também era cantora e gravara alguns discos na época, numa dessas gravações no estúdio, foi pedido para que ele também “soltasse a voz”... Era o Palmeira, que em 1961 era produtor na gravadora Chantecler e tal acontecimento teve lugar quando da gravação da música "Do Que Eu Gosto Mais" de sua autoria, que seria gravada por Lurdinha, no entanto, acabou sendo gravada em dueto com seu marido. Tímido de início, Rolando alegou que "não cantava, era só compositor...", mas, com a insistência de Palmeira, o disco em dueto foi gravado. E, a partir daí, começou a traçar um novo caminho em sua vida! E os primeiros discos de Genuína Música Brasileira começaram a ser gravados com sua voz tão característica!

Depois de ter gravado mais alguns discos em duo com Lurdinha, em 1974 Rolando Boldrin gravou seu primeiro LP solo: "O Cantadô". O título foi escolhido pelo próprio Rolando Boldrin, pois é "como ele gosta de ser chamado", já que "não possui compromisso com a voz, nem com a forma de cantar, mas somente com a maneira de emocionar...". Para Rolando, Elomar é o maior cantador do Brasil. Mílton Nascimento também é um cantador em sua concepção. Cantor, Rolando cita como exemplo Cauby Peixoto e Djavan, de acordo com entrevista concedida à Rosa Nepomuceno em Janeiro de 1999 quando ela escrevia o excelente livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - página 354.

De 1981 a 1984 apresentou na Rede Globo aos Domingos pela manhã o inesquecível programa “Som Brasil” que resgatou e reergueu muita gente importante já esquecida no nosso cancioneiro, como por exemplo o Ranchinho que fazia dupla com Alvarenga (que havia falecido em 1978), que cantava e contava causos; Zé Coco do Riachão com sua Viola; João Pacífico, que declamava seus poemas com sua voz e sotaque tão característicos. Também foi graças ao “Som Brasil” que se tornaram conhecidos Pena Branca e o falecido Xavantinho (foto acima e à esquerda). O segundo CD de Pena Branca & Xavantinho ("Uma Dupla Brasileira") também foi produzido por Rolando Boldrin. Realmente "... a Globo tinha preconceito contra os Sertanejos e quem quebrou esse preconceito foi Rolando Boldrin..." de acordo com suas próprias palavras em entrevista à Rosa Nepomuceno no Livro "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio" - pág. 352. E, com o sonho de apresentar o "Som Genuinamente Brasileiro" no “horário nobre”, Rolando Boldrin teve alguns desentendimentos com a emissora de Roberto Marinho e, em 1984 apresentou o “Empório Brasileiro”, também excelente programa nas noites de Terça-Feira na Rede Bandeirantes. E, por um curto período de tempo, apresentou também “Empório Brasil” no SBT.

Era marca registrada dos programas de Rolando Boldrin apresentar nossos valores autênticos. Seus programas valorizavam as tradições regionais, as conversas de "cumpadi", a Boa Música Raiz, e, conseqüentemente, não admitia o uso de “play-back” nem guitarra. A idéia era "não cantar sucessos", mas somente música de inspiração regionalista. Também nada de glamour”, do contrário, Boldrin queria que a pessoa fosse ao programa com naturalidade e simplicidade, vestido como andava na rua, sem nenhum "figurino especial". “Se andasse na rua, normalmente de chinelo, tudo bem, mas que não fosse “todo produzido” ao seu programa... “. Aliás, por causa do “chapelão de cowboy americano”, Sérgio Reis chegou a ser barrado no "Som Brasil" conforme já foi mencionado na página que dediquei ao Serjão neste site.

O importante é que, para nossa felicidade e de todos os que defendem Nossas Raízes, Rolando Boldrin não perde de vista "o palquinho de Cornélio Pires" que ele um dia havia conhecido com seus 11 anos de idade em São Joaquim da Barra! Não importa o quanto a TV tenha mudado, e o quanto nossa Música Regional possa "perder pontos" para os ditos "rappers", "pagodeiros" e "pop-sertanejos" (também chamados por alguns de "breganejos" e "sertanojos"). Rolando Boldrin se mantém firme, defendendo as Raízes, a exemplo de Inezita Barroso, que é excelente batalhadora e se mantém no mercado e apresenta com bastante qualidade o "Viola Minha Viola" na TV Cultura de São Paulo-SP. Aliás, não posso deixar de mencionar textualmente um comentário de Rolando Boldrin sobre nossa grande Inezita Barroso que "...sabe das coisas muito mais que eu, que sou autodidata. Tem cultura, é uma estudiosa. Eu só sei falar daquilo que aprendi vivendo..." (página 359 do livro de Rosa Nepomuceno: "Música Caipira - Da Roça ao Rodeio").

Para Boldrin, é nas Minas Gerais que se encontra "o mais rico celeiro" de músicos que realmente valorizam a Cultura Rural e cita como exemplo os irmãos Pena Branca e Xavantinho da região de Uberlândia-MG e também o Solista de Viola Renato Andrade, além do cantador Tadeu Franco e do compositor Paulinho Pedra Azul.

E, para nossa felicidade, Rolando Boldrin está apresentando o excelente programa Sr. Brasil, que vai ao ar nas noites de Terça-Feira, com reprise nas tardes de Domingo pela TV Cultura de São Paulo-SP. Desde 1981, quando Rolando Boldrin começou a contar seus "causos" durante três anos no inesquecível "Som Brasil" nas manhãs de Domingo na Globo, seguido pelo "Empório Brasileiro" na Bandeirantes em 1984, "Empório Brasil" no SBT em 1989 e "Estação Brasil" na TV Gazeta em 1997, o "Cantadô" voltou às telas da TV após sete anos! De acordo com o próprio Rolando Boldrin, Sr. Brasil é um programa vasto, aberto e receptivo. Vamos mostrar os ritmos e temas regionais brasileiros que a maior parte do Brasil não tem oportunidade de conhecer. Serão mostradas todas as manifestações regionais. A única obrigatoriedade é que tudo seja genuinamente nacional".

Este é o nosso valiosíssimo "cantadô". Poucos como ele dão valor às coisas de Nossa Terra e Nossa Gente!



*Pena Branca e Xavantinho
A excelente dupla caipira autêntica que "uniu dois mundos" de nossa Boa Música Brasileira e com total harmonia: além de contar com a admiração do público que aprecia a Moda de Viola, corajosamente ousaram e foram bem sucedidos em interpretar uma versão totalmente original e pessoal do "Cio da Terra" de Milton Nascimento e Chico Buarque, uma composição musical que aparentemente "não tinha nada a ver com o repertório Caipira Raiz", no entanto, a bela melodia que já fazia sucesso na MPB tornou-se um "Clássico do Repertório Caipira", agradando aos dois públicos que, antes, ou não conhecia a dupla, ou não conhecia a composição de Chico e Milton.

Esse trem agora levará o Apreciador ao Triângulo Mineiro, a Região onde foi criada essa maravilhosa dupla que realizou o "casamento harmonioso" da MPB com a Música Caipira Raiz: Pena Branca e Xavantinho!!

Influenciados por Tião Carreiro, Zé do Rancho, Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Vieira e Vieirinha, entre outros, José Ramiro Sobrinho, o Pena Branca, nasceu em Igarapava-SP no dia 04/09/1939; e Ranulfo Ramiro da Silva, o Xavantinho, nasceu em Cruzeiro dos Peixotos, Distrito de Uberlândia-MG, em 26/12/1942 e faleceu em São Paulo aos 56 anos, em 08/10/1999. Criados na Região de Uberlândia no Triângulo Mineiro, eram filhos de Dolores Maria de Jesus, (a "Coitinha" como era carinhosamente conhecida), que lavava roupa para fora, e de Francisco da Silva, que trabalhava numa pequena lavoura que possuía e também criava algumas cabeças de gado em terreno arrendado.

Dona "Coitinha" cantava com Seu Francisco que também tocava Cavaquinho. Além de cantar, ela também marcava o ritmo com instrumentos de percussão que improvisava com cabaças de porongo e colheres de pau. Assim foi o primeiro contato musical dos meninos que aprenderam os primeiros acordes musicais no Cavaquinho do Seu Francisco, que faleceu repentinamente em 1950 quando José Ramiro e Ranulfo tinham apenas 11 e 8 anos respectivamente.

Sendo o primogênito, Pena Branca teve que assumir a responsabilidade do sustento da família. Dona "Coitinha" continuava com as improvisações dos instrumentos musicais, tendo inclusive confeccionado uma Viola feita de cabaça de porongo e sandálias velhas, cujas tiras de couro foram cortadas em fios finíssimos e fizeram a vez das cordas! E era ela quem mais queria que os meninos tentassem uma carreira artística, já que considerava a Música como sendo a "libertação" daquele trabalho rude e que seguia um sistema praticamente escravocrata.

Em 1953, durante a entressafra, José Ramiro foi trabalhar em Ituiutaba-MG como carregador nos frigoríficos e armazéns. Foi nessa época que comprou sua primeira Viola e formou com Zé Pretinho a dupla "Zé Miranda e João do Campo". E, quando voltava a época da safra, José Ramiro voltava prá casa e continuava o trabalho nas fazendas, onde nas horas de folga ensaiava com o irmão Ranulfo. Nesse trabalho, José Ramiro e Ranulfo não recebiam dinheiro, e sim "ordens de pagamento" ao armazém de secos e molhados da localidade.

Melhorando com o tempo o desempenho, começaram a participar de Folias de Reis, quermesses e bailes. Eram comuns também os mutirões em finais de semana, os quais sempre acabavam numa comemoração com comida, bebida, Música e Dança. E os dois irmãos animavam a festa.

Três anos depois desfez-se a parceria com Zé Pretinho. José Ramiro e Ranulfo continuavam os ensaios freqüentes, e começaram a desenvolver os estilos inspirados nas Duplas Caipiras da época. José Ramiro tocando uma "Viola de Craveia" e Ranulfo tocando um velho Violão emprestado de um amigo. E já se apresentavam em clubes onde muitas vezes "os palcos eram formados por mesas reunidas".

Em 1958, quando participaram do programa do Coronel Hipopota na Rádio Educadora de Uberlândia, o locutor cismou que "José e Ranulfo" (como eles se denominavam) "não era nome de dupla". Contra a vontade dos dois irmãos, anunciou no microfone da emissora a dupla "Peroba e Jatobá". José e Ranulfo não gostaram do nome, apesar da insistência do Coronel Hipopota. Na apresentação seguinte adotaram os nomes de "Barcelo e Barcelinho". Não satisteitos, mudaram o nome para "Xavante e Xavantinho", lembrando das aulas de História na Escola Primária, e homenageando também o Índio Brasileiro. Na época, os irmãos continuavam trabalhando como carregadores, o que possibilitou a compra de novas Violas. Eles se apresentavam em todos os lugares, e não recusavam nenhum convite. Ranulfo, o Xavantinho, também começou nessa época a escrever as suas primeiras letras.

Com o Sanfoneiro Pinagi formaram o "Trio Pena Branca", que em 1964 se apresentava em pequenas cidades do interior Goiano. Seu estilo era influenciado diretamente por Vieira e Vieirinha, e também por "Pedro Bento e Zé da Estrada", e "Serrinha e Ramón Perez". No repertório, canções típicas da Zona Rural Mineira, Polcas Paraguaias, Folclore Boliviano e Toadas Mexicanas. Desfez-se mais tarde o trio, porém os irmãos "Xavante e Xavantinho" continuaram a se apresentar, e concentraram seu trabalho entre o Triângulo Mineiro e a região Centro-Oeste do Brasil.

E, mais uma vez, tiveram que trocar de nome, pois havia aparecido um cantor de nome artístico Xavante, que formava um trio com Taquari e Otavinho e passara a exigir dinheiro para utilização do seu nome pela dupla "Xavante e Xavantinho". Desta vez então, os irmãos José e Ranulfo aproveitaram o nome do trio que haviam formado antes com Pinagi, o "Trio Pena Branca" e, a partir de então, José Ramiro passou a ser o Pena Branca, e Ranulfo, o Xavantinho, ficando a excelente dupla com o nome consagrado que chegou até nós, a despeito das descrenças do Coronel Hipopota que insistia em "Peroba e Jatobá" e afirmava também que com aquele "constante troca-troca" de nomes, a dupla não faria sucesso, embora soubessem cantar muito bem! Aliás, o nome definitivo da dupla nasceu já na Capital Paulista como será mencionado logo abaixo.

E na dupla, Xavantinho tocava o Violão enquanto seu irmão Pena Branca sempre foi o responsável pelo som da Viola Caipira.

E o destino parecia estar traçado: em 1968, Ramiro e um motorista da transportadora na qual trabalhavam tiveram que ir recuperar a carga de um caminhão que estava a caminho de São Paulo e que havia caído em uma ribanceira no canal de São Simão no Estado de Goiás. Ao término do trabalho, Xavantinho decidiu "pedir carona" e seguir junto com o caminhão usado no socorro, rumo à Paulicéia Desvairada, "apenas com a cara e a coragem" e a roupa suja de lama no corpo, sem sequer avisar previamente a família... E prometeu ao irmão Pena Branca: "Mano, um dia vou tirar você daí".

Na Capital Bandeirante continuou trabalhando na filial da mesma transportadora, onde foi promovido a entregador de encomendas. Prosseguia com os ensaios nas horas de folga. Algum tempo depois, Pena Branca também foi para junto do irmão, chamado por ele através de uma carta, e passou a trabalhar na mesma empresa de transporte como conferente de carga. Os dois moravam na pensão da Dona Judite no bairro do Canindé.

E começaram a se apresentar em São Paulo. Em 1969, integraram o grupo de músicos do "Rei do Laço", que era um clube de divulgação da Música Caipira, freqüentado por figuras importantes do meio, como os famosos e respeitados Tonico e Tinoco, e também a dupla, na época iniciante, Milionário e José Rico. Em 1970 conquistaram o quarto lugar num festival promovido pela Rádio Cometa e foram convidados a participar da gravação de um compacto, com a música vitoriosa, "Saudade". Foi inclusive na hora de receber esse prêmio que apareceu o cantor de nome artístico Xavante, já mencionado acima, que quis inclusive "vender o nome" para José e Ranulfo que não quiseram. Subiram então no palco e anunciaram que, a partir daquele instante, eles eram "Pena Branca e Xavantinho"!

Em 1975, passaram a integrar a Orquestra "Coração de Viola", em Guarulhos. Inezita Barroso, num belo dia, estava ensaiando com essa orquestra e percebeu o potencial de Pena Branca e Xavantinho: "Meninos, vocês têm um grande futuro, mas vocês só acontecerão se saírem daqui". Também a dupla Coração do Brasil, Tonico e Tinoco, foi fazer um show em Barretos-SP e eles perceberam o valor de José e Ranulfo: "Queremos esses dois meninos com a gente". No mesmo ano ainda, "Pena Branca e Xavantinho" foram contratados para se apresentar na Basílica de Aparecida do Norte-SP, nos finais de semana, num coreto montado junto à ferrovia. Os shows eram produzidos por Roberto de Oliveira, irmão de Renato Teixeira.

Em 1979, o mesmo Empresário Roberto de Oliveira, da gravadora WEA, procurava talentos para integrar o projeto do Selo Rodeio, um selo específico para músicas regionais. E veio o convite para um teste de estúdio após uma apresentação da dupla em Aparecida do Norte-SP. Houve, porém um desencontro e quando chegaram ao estúdio, foram informados de que Roberto havia viajado a negócios. O funcionário que os atendeu recebeu muito negativamente a música "Que Terreiro É Esse?" e detestou mais ainda as outras músicas que eles apresentaram. Nada foi feito e o funcionário aconselhou aos dois irmãos que "...pegassem a Viola e fossem prá casa ensaiar outras coisas, mudar o repertório...".

No ano seguinte, em 1980, seguiram o conselho de Roberto de Oliveira e se increveram no festival MPB Shell daquele ano, com a música "Que Terreiro É Esse?", a mesma que havia sido ridicularizada pelo funcionário da WEA. Na apresentação, no Maracanãzinho no Rio de Janeiro-RJ, interpretaram a música acompanhados de 16 Violeiros da Orquestra de Guarulhos mais um grupo de percussionistas. A platéia acompanhou com palmas, e a música foi classificada para as finais. Durante o festival, conheceram Renato Teixeira, Almir Sater, Diana Pequeno, e muitas outras "feras da MPB" com as quais criariam laços permanentes e importantíssimos.

Roberto de Oliveira, por outro lado, ficou surpreso quando soube da recusa do funcionário da gravadora, que, de acordo com o Empresário, teria sido um total descumprimento de suas orientações. E, para "reparar o incidente" o mais rápido possível, providenciou o lançamento do primeiro LP de Pena Branca e Xavantinho: "Velha Morada", incluindo a música que havia sido refugada: "Que Terreiro É Esse?". No entanto, foi outra música a que mais chamou a atenção da crítica e do meio musical: o célebre "Cio da Terra" de Chico Buarque e Milton Nascimento.

E a iniciativa para esse "Casamento Harmonioso" partiu de Xavantinho: ele gostava do "Cio da Terra" de Chico e Milton e insistia que a música podia ser gravada em dueto, com as vozes terçadas. Para Pena Branca foi difícil "encontrar a segunda voz", mas o resultado valeu a pena: o "casamento" foi finalmente consagrado! Renato Teixeira já havia iniciado o "casamento" entre a MPB Urbana e a Música Caipira; Pena Branca e Xavantinho consagraram este casamento, seduzindo um "público da cidade grande" a um novo estilo na MPB e mostrando também ao interiorano "novos filões". Bom para ambas as partes...

E começaram os convites para programas de TV. O primeiro veio de Rolando Boldrin, que chamou os irmãos do Triângulo Mineiro para a estréia do inesquecível Programa "Som Brasil" na Rede Globo em 1981. Rolando Boldrin tinha conseguido localizar José e Ranulfo num "quarto e cozinha" em Guarulhos-SP.

No mesmo programa, juntamente com o próprio Milton Nascimento, cantaram "Cio da Terra". "Naquele dia ficamos muito nervosos, mas deu pra agüentar durante a gravação, só depois, no camarim, é que a gente não agüentou a emoção e começou a chorar...".

Em 1982, gravaram o segundo disco, "Uma Dupla Brasileira", o qual foi produzido por Rolando Boldrin, conforme já mencionado na página dedicada ao "cantadô". E começaram a viajar pelo Brasil, dentro do projeto "Som do Brasil". Durante este período, assimilaram também novos ritmos, incorporando-os ao seu estilo musical. Para nossa felicidade, esse LP foi remasterizado em CD e se encontra disponível!


Nesse ano cantaram juntamente com Milton Nascimento, no show "Trinta Anos da Anistia Internacional", em Curitiba-PR, realizado na famosa pedreira Paulo Leminski, famosíssima pela sua "acústica natural" e que reuniu vários artistas a fim de angariar fundos para a entidade. Na mesma "pedreira" também já se apresentaram outros músicos mundialmente consagrados, como por exemplo, o Tenor Catalão José Carreras!

O terceiro disco, "Cio da Terra", só veio cinco anos depois, em 1987, na Continental, e desta vez, "derrubando todas as barreiras" entre Música Caipira e Urbana", consagrando o "Harmonioso Casamento de Estilos" de nossa Boa Música Brasileira. Gravaram Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Tavinho Moura e Wagner Tiso, sempre com versões inovadoras. Durante as gravações, em Belo Horizonte-MG, Milton Nascimento falou aos irmãos: "Vamos fazer Cio da Terra". E Xavantinho relembrou:

"Eu não acreditava que o Milton ia cantar com a gente. Eu falava… "ai, meu Deus do céu…". Depois eu fiquei com medo porque ele ficou de colocar a voz e nós viemos embora. Eu achava que eles iam tirar a voz; que eles iam achar alguma coisa errada e iam tirar a voz do Milton. Mas não, a coisa se multiplicou - pois daí entrou o Marcus Viana tocando, mais o pessoal do "Clube da Esquina". O Tavinho Moura entrou também, com a música "Peixinhos do Mar"… Depois essa fita veio para a Continental e saiu o disco. Esse disco é o nosso passaporte, é o nosso cavalo de batalha. Cada dia que a gente canta Cio da Terra ele brilha mais!".

A consagração estava acontecendo! E nada melhor do que um Encontro entre os Mineiros!! O Mineiro de Três Pontas e os Irmãos do Triângulo Mineiro, juntamente com o já consagrado "Clube da Esquina" (é certo que Milton Nascimento nasceu na Cidade Maravilhosa, mas foi adotado com bem poucos dias de vida e levado pelos pais adotivos do Rio de Janeiro para Três Pontas-MG, onde o "Bituca" viveu sua infância, juventude e adolescência: Mineiro de Coração, Uai, sô!). E, Pena Branca, é Paulista, mas, não há dúvida que tem também um Coração Mineiro, do Triângulo!!

Pena Branca & Xavantinho, no entanto, continuavam (e continuam!!) não tendo a divulgação de seu trabalho, no Brasil, na intensidade com que sempre mereceram, talvez por "não se adequarem ao padrão moderno, imposto pela mídia e pela gravadoras", à "música sertaneja". Mas quem ouve seus CDs, ou pelo menos teve a oportunidade de vê-los (como na apresentação que fizeram no programa da TV Cultura, "Bem Brasil" e também no programa "Ensaio" na mesma maravilhosa TV Cultura), não consegue deixar de considerá-los, uma das melhores Duplas Caipiras de todos os tempos, equiparável à Tonico e Tinoco, Liu e Léu ou Raul Torres e Florêncio. Como bem disse Inezita Barroso: "eles fazem Música Caipira e não música sertaneja".

E em 1988, o LP e CD "Canto Violeiro", contou com a participação de Fagner, Tião Carreiro, Almir Sater e Oswaldinho do Acordeon. "Penas do Tiê" (folclore com adaptação de Fagner) e "Calix Bento" (folclore adaptado por Tavinho Moura), presentes nesse CD, harmonizaram ainda mais o "casamento" da Música Urbana com a Música Caipira, que já havia sido celebrado com o "Cio da Terra". "Eu, A Viola e Deus", de Rolando Boldrin também faz parte desse CD.

O disco seguinte, "Cantadô de Mundo Afora", conquistou o prêmio Sharp de 1990 como sendo melhor disco, melhor dupla e melhor música ("Casa de Barro" de Xavantinho e Moniz).

Em 1992, novo prêmio Sharp de melhor disco, conquistaram desta vez com o CD "Ao Vivo em Tatuí", juntamente com Renato Teixeira, e que foi produzido por Mário de Aratanha e Leo Stinghen; também conquistou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na categoria de melhor disco. E, com este excelente trabalho, conquistariam em 1999, seu primeiro Disco de Ouro, recebido no programa "Viola, Minha Viola", apresentado na TV Cultura de São Paulo pela Inezita Barroso.

"Violas e Canções" foi lançado em 1993, com Toadas, Batuques e Folias de Reis, e uma versão de "O Ciúme", de Caetano Veloso, selando mais uma vez o "casamento" de estilos em nossa Boa Música Brasileira. Também estão nesse CD excelentes gravações de "Viola Quebrada" (Mário de Andrade), "Uirapuru" (Murilo Latini - Jacobina) e "Triste Berrante" (Adauto Santos). Eu, particularmente, considero esse o melhor disco lançado pela Dupla do Triângulo Mineiro. E nesse mesmo ano a dupla também se apresentou nos Estados Unidos, realizando shows em New York, New Jersey, Pompano Beach, Miami e Boston.


Em 1995 "Ribeirão Encheu", produzido por Tavinho Moura e Geraldo Vianna. E, em 1996 "Pingo D’Água", produção e direção musical de Kapenga Ventura, com vários sucessos tradicionais do gênero Caipira Raiz.

Em maio de 1997 conquistam novo prêmio Sharp na categoria melhor dupla sertaneja, tendo concorrido com Chitãozinho e Xororó e João Mulato e Pardinho. O último trabalho discográfico da dupla foi o CD "Coração Matuto", lançado em 1998, novamente produção e arranjos por Kapenga Ventura. No repertório estão "Planeta Água", de Guilherme Arantes, e também "Lambada de Serpente", de Cacaso e Djavan. E, mais uma vez a participação de Milton Nascimento, desta vez em "Morro Velho". A própria dupla considera este CD como o melhor trabalho por eles realizado.


Zé Mulato e Cassiano

No ano de 1972, a dupla: Zé Venâncio e Saulino contratada para uma apresentação em praça pública, inauguração de uma farmácia, "Farmácia Nici" em Ceilândia - Brasília em pleno desenrolar do espetáculo, surge lá do meio daqueles maravilhosos candangos, dois jovens simples, simpáticos e porque não dizer bastante desavergonhados. Um deles, o mais altinho, na maior cara-de-pau, chegou para os titulares daquele show e disse: "eu e meu irmão gostamos de bater um violinha, quem sabe "voceis" deixa nós cantar uma moda no show doceis, nós nunca cantamos assim pra tanta gente".
Pedido aceito, os rapazes fizeram a abertura da festa e foram muito aplaudidos pelo público. Segundo os próprios José das Dores Fernandes e João Monteiro da Costa Neto, começava naquele show de Zé Venâncio e Saulino, (dupla hoje desfeita) a trajetória artística desses dois monstros sagrados da música caipira: Zé Mulato e Cassiano que o Brasil aplaude e respeita, não só pela bela afinada interpretação, como também pela poesia que Zé Mulato extrai do mundo que nos cerca, explorando temas dos mais simples, por vezes, irônicos e críticos, aos temas mais profundos e ligados à reflexão da complexa existência humana.

UM PADRINHO POR NOME DE CARREIRINHO


Em 1978 Carreirinho encantado com a semelhança de interpretação de Zé Mulato e Cassiano com Zé Carreiro e Carreirinho, não resistiu e os levou para São Paulo, e assim aconteceu o primeiro disco da dupla intitulado, (Recordando Zé Carreiro e Carreirinho), com repertório todo da dupla imitada, com produção do próprio Carreirinho. Zé Mulato e Cassiano vem crescendo no conceito dos amantes da música caipira, a cada trabalho a dupla se realiza, seja no disco ou em suas apresentações por esse Brasil afora. Em 1998 com o seu 7º disco eles conquistaram o Prêmio Sharp, um dos mais valorizados... ou melhor o mais valorizado do nosso País. A música com a qual eles ganharam o Sharp de Melhor Interpretação, foi a página: Meu Céu, que dá nome a um belíssimo álbum. O 8º trabalho da dupla que se intitula: "Navegante das Gerais" que já se notabilizou como outro grande sucesso. Zé Mulato e Cassiano é sem sombra de dúvida a mais autêntica dupla caipira do Brasil, que formam a dupla 3 em 1, por que? Porque conseguiram agregar, o romantismo de Zé Carreiro e Carreirinho, a viola de Tião Carreiro e Pardinho é sátira de Alvarenga e Ranchinho e Jararaca e Ratinho.
Merece destaque aqui a figura do compositor Zé Mulato, poeta de talento ímpar, que consegue como poucos, nos dias de hoje, verbalizar os verdadeiros anseios, sentimentos, alegrias, críticas, tristezas e verdades de um mundo distante, de um mundo caipira. Zé Mulato é hoje, sem dúvida alguma, um dos maiores compositores da música caipira, na atualidade. Vale lembrar que, Zé Mulato, teve em Xavantinho um parceiro fiel e de igual talento para a recriação do universo que sustenta o nosso rico e inesgotável mundo caipira.

*Informações coletadas no site Boa Musica Brasileira

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