História do Cururu
- Tradição Caipira
O Tietê é um rio curioso, ao atravessar São Paulo consegue manter-se vivo e, ao contrário dos outros rios que correm para o mar, ele avança em direção ao interior do estado, levando a tradição e cultura daqueles que nele navegam.
Uma das mais importantes formas de manifestação interiorana brasileira veio através do Tietê, trazida pelos bandeirantes, mas com raízes portuguesas, o cururu.
No início, o cururu, que muito provavelmente tenha sido usado pelos jesuítas para catequizar os índios, era dançado mas o deixou de ser com o tempo, mas a tradição da cantoria permanece viva na região do médio Tietê que abrange cidades como Piracicaba, Tietê, Conchas, Anhembi, Botucatu e Laranjal Paulista,Sorocaba,tatui,votorantin, entre outras.
A simples palavra cururu já causa controvérsias, enquanto alguns historiadores apontam sua origem para um tipo de sapo, outros a atribuem para a versão regional da dança de São Gonçalo, mas histórias a parte, o cururu é rico mesmo em poesia e espontaneidade.
O cantador de cururu é chamado canturião e ele deve cantar em determinada carreira ou linha, que nada mais é do que a sílaba final na qual se deverá fazer a rima, ou às vezes se torna uma letra do alfabeto que pode ser o a, o i ou o s, e dessa forma rimar os versos, sendo que sempre se usam as palavras na forma em que se fala na região, ou seja, na carreira do a pode se usar as palavras cantá e falá, na carreira do i temos como exemplo pedí e subí, e na carreira do s podem ser ditas amanhecê, conhecê e acontecê.
Para iniciar a cantoria, o canturião precisa primeiro fazer uma louvação, que é uma saudação ao povo ou louvação aos santos, só depois é permitido cantar o desafio. O cantador tem liberdade de tempo para cantar e só quando finalizar é que o desafiante pode iniciar a resposta, que precisa ser na mesma carreira.
Quanto aos temas, eles podem ser políticos, sociais, esportivos ou religiosos, sendo que este último é designado geralmente como cantar na letra ou na folha, ou seja, cantar de acordo com as escrituras bíblicas, o que exige grande conhecimento e destreza dos cururueiros.
A tradição do cururu, que também existe nos estados do Mato Grosso, Goiás e até na Amazônia, manteve o seu berço no interior paulista, que é onde viveram e vivem seus grandes nomes.
Cornélio Pires foi quem levou o cururu aos palcos, ainda em 1910 e mais tarde ao rádio.Como todo gênero musical enraizado na cultura do seu povo, o cururu teve seus heróis basicamente na figura de quatro ícones:
Nhô-Serra, conhecido como o Cururueiro do Microfone, foi quem melhor popularizou a imagem de cantador, tornando-se talvez, o mais importante de todos no sentido de difundir a tradição. Morto em 1997, teve nas suas últimas palavras, a tristeza de admitir que o cururu é uma tradição, como outras no país, que não está sendo renovada e conseqüentemente, se extingüindo.
Pedro Chiquito, também falecido, foi mestre na arte do repente e ficou conhecido como o mais eclético de todos os cururueiros.
Parafuso, falecido na década de 1970 e imortalizado por Tião Carreiro & Pardinho com a musica Negrinho Parafuso. Era conhecido como o caçoísta (sarrista), tendo ganho o apelido por rodopiar num salto como um parafuso ao arrematar um repente bem sucedido.
Zico Moreira, o maior patrimônio vivo desta cultura, no alto dos seus 97 anos de idade. Seu Zico exibe saúde e lucidez, quando canta impressiona qualquer pessoa leiga ou letrada na cultura popular. Zico é conhecido como o maior poeta do gênero. De seus repentes saíram verdadeiros poemas como a carreira de São João, na coluna ao lado.
A viola é a companheira ideal do cururu, que diferentemente do repente nordestino, tem função melódica e pode também ter acompanhamento de pandeiro e reco-reco.Como o cururu era dança, depois canto de origem religiosa até a primeira metade do século, ele era praticado em procissões, quermesses e eventos sacros em geral, mas hoje em dia os motivos para os desafios são bem mais diversos e os locais em que ainda são realizados também, basta ter uma viola tinindo que se ouvirá o larai larai de um cantador. Por isso, não se acanhe, se por acaso estiver pela região do médio Tietê, é só avistar algum matuto enrolando um cigarrinho de palha e perguntar onde possa ouvir algum desafio que com certeza vai ser bem informado, uma vez que você vai estar na região onde nasceu Angelino do Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Cornélio Pires e Capitão Furtado.
LUIZINHO ROSA autor de PODER DO CRIADOR, gravado por goiano e paranaense
(Silvio Mariano, Piracicaba, SP,)
*Informações coletadas no site Viola Tropeira
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