Amácio Mazzaropi nasceu na Capital Paulista em 09/04/1912 e faleceu também na Paulicéia Desvairada em 13/06/1981, no Hospital Albert Einstein.
Esse excelente Artista, Brasileiríssimo, de origem humilde, não poderia jamais estar ausente desse "Trem": paulistano, foi um autêntico "Caipira Nascido na Capital"! Saudado popularmente como sendo "O Carlitos Brasileiro" (lembrando o célebre e inesquecível Charlie Chaplin), Amácio começou sua brilhante carreira no circo, tendo ido para o Rádio, para a TV, e para o Cinema, onde estreou como Ator, até que acabou se tornando o seu próprio Produtor, Diretor e Distribuidor!! Além de excelente intérprete da Música Caipira, a excelente e emocionante representação de seus personagens "Bem Brasileiros" consagrou-o também como um dos maiores sucessos de bilheteria, embora tivesse sido "mau visto" pela crítica...
Apesar da enorme aclamação pelo público, a "crítica" e a "elite intelectual", por assim dizer, jamais reconheceram o talento desse que foi um dos maiores representantes da Produção Cinematográfica Brasileira. No entanto, para nossa Felicidade, e para a preservação da nossa Memória Cultural, o trabalho de Amácio Mazzaropi vem sendo revisto pelos críticos de hoje e as Universidades, de um modo geral, também estão começando a estudar sua produção, apesar da tão pouca citação de seu nome nos diversos livros sobre Cultura Brasileira.
Pouco estudou e nem mesmo concluiu o Curso Ginasial (atual Primeiro Grau). Em sua adolescência, Amácio era fã de Genésio e Sebastião de Arruda (esse último, o famoso Ator Arruda que havia criado no teatro o "Personagem Clássico Caipira" que "passou a ter também sua voz ouvida no disco" em 1929 quando das primeiras gravações fonográficas de Genuínos Caipiras da Turma de Cornélio Pires), da qual Arruda também fez parte.
Assistindo a um espetáculo circense, foi que Amácio acabou, "sem saber como", parando nos bastidores e ali passou a trabalhar como pintor de letreiros. Isso, com apenas 15 anos de idade! Não demorou para trocar os pincéis por um "personagem vestido de caipira"...
E, com 16 anos, Amácio fugiu de casa para ser assistente do faquir Ferri. Foi para o Interior e passou a apresentar monólogos cômico-dramáticos. Sucesso imediato, no entanto, a renda era baixíssima... Salário de míseros 25 Mil-Réis que mal davam para as despesas diárias...
Em 1940, Mazzaropi montou o Circo Teatro Mazzaropi e criou a Companhia Teatro de Emergência. A partir de então, foi que a situação "começou a mudar", e ele passou a ser conhecido, além do fato de todos os circos começarem a solicitar sua presença!
E, ao final da década de 1940, Amácio Mazzaropi foi para a Rádio Tupi (dos Diários e Emissoras Associados) e estreou seu programa "Rancho Alegre". E, como se sabe, foi no ano de 1950 que a Televisão foi inaugurada no Brasil e foi para lá que Mazzaropi levou seu programa, o qual alcançou estrondoso sucesso! Lembrar que a TV Tupi - Canal 3 - de São Paulo-SP foi a primeira emissora brasileira de Televisão! E, de
Antes, porém, Abílio Pereira de Almeida, que na época era Produtor e Diretor da inesquecível companhia cinematográfica Vera Cruz (o "sonho holliwoodiano brasileiro"), procurava por um "tipo diferente e curioso" para uma comédia... Não deu outra: quando viu Mazzaropi na TV, ficou deslumbrado com sua atuação e não teve dívida: convidou-o para fazer um teste e, tendo Mazzaropi sido aprovado, Abílio contratou-o para atuar no filme "Sai Da Frente", por ele dirigido, em 1952.
Nascia então o inesquecível "Personagem Tão Característico" de Mazzaropi: o "Jeca", aquele "tipo Caipira, de andar desengonçado, fala mansa, usando roupas curtas e sujas, calças remendadas, camisa xadrez"... Mazzaropi participou de um total de 8 filmes como Ator pela Vera Cruz e, em 1958, com o sucesso popular alcançado, decidiu se dedicar mais ainda ao Cinema, fundando a PAM Filmes - Produções Amacio Mazzaropi!
Mazzaropi passou então a produzir e dirigir seus próprios filmes. Sua primeira produção foi "Chofer De Praça", na qual empregou todas as suas economias. Filme pronto, no entanto, faltava dinhero para fazer as cópias... Amácio seguiu então com seu carro pelo Interior, fazendo shows, visando arrecadar a quantia necessária, para poder estrear o filme, o qual fez bastante sucesso!
O "pano de fundo" de quase todos os filmes produzidos por Mazzaropi foi sempre uma fazenda: de início uma "fazenda emprestada", até que mais tarde adquiriu a sua própria "Fazenda Da Santa", onde montou seus estúdios e passou a viver a fase mais fértil de sua carreira, tendo produzido seus melhores filmes tais como "Tristeza Do Jeca" (em 1961) e "Meu Japão Brasileiro (em 1964). Na foto acima e à direita, cena de "O Lamparina", produzido em 1964, satirizando o famosíssimo cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião.
Foi no ano de 1961 que Mazzaropi produziu um dos maiores e mais inesquecíveis sucessos do Cinema Brasileiro que foi "Tristeza do jeca", inspirado na música homônima de Angelino de Oliveira. Sob a direção musical do Maestro Hector Lana Fietta, o filme também contou com a participação de Agnaldo Rayol que cantou acompanhado por solos de Acordeom a cargo de Mário Zan.
E, conforme já foi mencionado nesse site, ao utilizar a belíssima "Tristezas do Jeca" ( Angelino de Oliveira) no filme homônimo, Mazzaropi teve uma pequena desavença com o compositor no que se referiu aos Direitos Autorais, desavença essa que foi rapidamente resolvida num encontro entre Mazzaropi e Angelino.
De acordo com Rosa Nepomuceno, nas páginas 136, 137 e 138 de seu excelente livro "Música Caipira - Da Roça Ao Rodeio", "...os amigos de Angelino, revoltados, organizaram uma caravana a São Paulo-SP para 'arrancar' do artista o pagamento dos Direitos Autorais. Debaixo dos 'larga prá lá' do pacato Angelino, desceram a serra Gastão Dal Farra, Zezinho, Zorico, Trajano Puppo e Octacílio Paganini. Sem regatear, Mazzaropi acertou as contas e o pessoal voltou com a bolada. Segundo lendas da cidade de Botucatu-SP, o dinheiro nem esquentou no bolso do compositor: boa parte dele foi devidamente torrado com a turma de boêmios, em noites de serestas memoráveis..."
Foram 28 anos de carreira, nos quais Mazzaropi atuou em 32 filmes, tendo participado em 8 deles pela Vera Cruz, conforme já foi dito, e mais 24 produzidos por ele próprio. Destaque para "Sai da Frente", "A Carrocinha", "O Gato De Madame", no período da Vera Cruz. E, sob sua própria produção: "Jeca Tatu", "As Aventuras de Pedro Malazartes", "Zé do Periquito", "O Vendedor de Lingüiça", "O Lamparina", "Meu Japão Brasileiro", "Um Caipira Em Bariloche", "Portugal Minha Saudade", "O Jeca E A Freira" (cujo tema "Jeca Magoado" (Elpídio dos Santos), "Jecão, Um Fofoqueiro No Céu", "Jeca E Seu Filho Preto" (uma crítica ao preconceito racial), "A Banda Das Velhas Virgens" e "O Jeca E A Égua Milagrosa" (seu último filme - foto colorida acima e à direita). E, para nossa Felicidade, esses filmes estão disponíveis comercialmente em DVD!
Mazzaropi lançava praticamente um filme por ano, sempre no dia 25 de Janeiro, data na qual sua São Paulo natal aniversariava. E o lançamento era sempre no Cine Art-Palácio, pois o dono desse cinema foi a pessoa que mais lhe deu apoio em seu início da carreira!
Como intérprete, Mazzaropi gravou seu primeiro 78 RPM no ano de 1956 pela RGE (hoje Som Livre), tendo no Lado-A o fox "Na Piscina De Madame" (Elpídio dos Santos - Conde) e no Lado-B, com a participação de Lolita Rodrigues, a marcha "Nhá Carola" (Hudson Gaia "Petit").
A música na verdade sempre foi essencial aos seus filmes, os quais contaram com a direção musical de Radamés Gnatalli e Hector Lagna Fietta, além da participação de renomados intérpretes tais como Tony e Celly Campello (iniciantes na época), Lana Bittencourt, Miltinho, Hebe Camargo, Elza Soares, Ângela Maria e Agnaldo Rayol, apenas para citar alguns. Composições de Tom Jobim, Dolores Duran, Zequinha de Abreu, Jair Amorim, Catulo da Paixão Cearense e Mário Zan, também foram bastante empregadas nos filmes de Mazzaropi.
Em suas produções cinematográficas, Mazzaropi sempre empregou "da Música Caipira ao Rock". A maioria das músicas foi composta por Elpídio dos Santos, paulista de São Luiz do Paraitinga, que era seu compositor preferido e era sempre convidado para criar as mesmas, as quais eram específicas para cada filme e, em geral, interpretadas pelo próprio Mazzaropi. Tais composições musicais eram criadas para ressaltar cenas importantes e muitas vezes tinham a difícil incumbência de retratar o próprio âmago da história! Elpídio e Mazzaropi se conheceram quando estavam sendo feitas filmagens
Tendo tido origem humilde, Mazzaropi conheceu a fortuna! Também produzia leite, tendo sido um dos maiores fornecedores para a empresa "Leite Paulista". Construiu também novos estúdios no início da década de 1970, além de um hotel
Um câncer na medula tirou a vida de Mazzaropi no dia 13/06/1981, no Hospital Albert Einstein
Mazzaropi deixou como herança a produtora, funcionando perfeitamente, bem como os estúdios e equipamentos, herança à qual Mazzaropi também deixou, em parte, para seus antigos funcionários. A empresa inicialmente foi tocada adiante por seus herdeiros, no entanto, o patrimônio por ele construído ao longo de tantos anos, foi lamentavelmente destruído pelos herdeiros após sua morte, tendo todos os seus bens ido a leilão, inclusive os filmes...
O Hotel-Fazenda onde está seu estúdio, no entanto, para nossa felicidade e da Memória Cinematográfica e Musical Brasileira, continua existindo, agora, com o nome de Hotel Fazenda Mazzaropi, o qual mantém o Museu Mazzaropi com acervo de mais de 6.000 peças. E seus filmes, conforme já mencionado, estão disponíveis em DVD, para nossa grande alegria!
Mazzaropi também foi homenageado pelos compositores Jean e Paulo Garfunkel que compuseram a toada "Mazzaropi" gravada por Pena Branca e Xavantinho e que é a 12ª. faixa do LP "Cantadô de Mundo Afora", lançado pela Warner/Continental em 1990. Salvo algumas faixas em algumas coletâneas, não consta nenhuma remasterização em CD desse excelente LP, nem tão pouco a música que homenageia o "Carlitos Brasileiro".
A inesquecível Dupla do Triângulo Mineiro também nos presenteia com outra gravação de "Mazzaropi" (Jean Garfunkel - Paulo Garfunkel) que é a 9ª. faixa do CD JCB-0709-035 produzido por João Carlos Botezelli - Pelão, lançado pelo SESC-São Paulo que nos mostra alguns depoimentos de Pena Branca e Xavantinho, além de interpretações nas quais eles se acompanham com a Viola e o Violão. Esse CD faz parte da série "A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores E Intérpretes". O conteúdo desse excelente Documento Musical é a gravação do programa Ensaio de 21/02/1991 da TV Cultura de São Paulo, sob a direção de Fernando Faro.
Quero aqui destacar também o CD "Mazzaropi" da Série Luar do Sertão (foto da capa à direita), lançado em Abril de 2000, com encarte comentado por Ayrton Mugnaini Jr., que é uma coletânea bastante representativa da obra do "Charlie Chaplin Brasileiro", bem como do compositor Elpídio dos Santos. Destaque para "Ingratidão" (Elpídio dos Santos), "Cai Sereno (Na Rama Da Mandioquinha)" (Elpídio dos Santos - Conde), "Jeca Magoado" (Elpídio dos Santos), "O Lingüiceiro" (Elpídio dos Santos), "O Azar é Festa" (Ado Benatti - Zé do Rancho), "Fogo No Rancho" (Elpídio dos Santos - Anacleto Rosas Jr.) e "Sopro do Vento" (Elpídio dos Santos), todas temas de diversos filmes lançados entre 1954 e 1967.
Clique aqui e conheça o excelente site do Museu Mazzaropi com biografia, trechos de filmes e canções por ele interpretadas, além de uma entrevista que ele concedeu ao Armando Salem da revista Veja em 28/01/1970. O site também nos mostra a ficha técnica de seus 32 filmes, além do Hotel-Fazenda Mazzaropi,
Clique aqui e assista a uma cena de "Sai da Frente", o primeiro filme estrelado por Mazzaropi, ainda nos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz,
Clique aqui e assista a uma cena de "Jecão... Um Fofoqueiro no Céu", um dos últimos filmes produzidos por Mazzaropi, no ano de 1977, num arquivo pertencente ao site do Museu Mazzaropi.
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